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Opinião: Discurso de Mch e pava mostra expectativas não atendidas em Valorant

Opinião: Discurso de Mch e pava mostra expectativas não atendidas em Valorant
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Juntamente de outros streamers, os jogadores falaram ao vivo de problemas que vêm assolando o FPS da Riot Games - desde hacks até toxicidade e ghosts nas lives

Opinião: Discurso de Mch e pava mostra expectativas não atendidas em Valorant

Jean "mch" Michel D'Oliveira e Rafael "pava" Pavanelli reservaram mais de uma hora de transmissão para desabafar sobre os diversos problemas que têm encontrado em Valorant, especialmente aqueles relacionados à comunidade. Acompanhados de outros streamers, eles abordaram questões como hacks, ghosts de lives, a falta de respeito entre players - que vai de racismo até machismo - e o papel educativo e punitivo que se espera da Riot Games. A dupla não só externou frustrações, como também opinou a respeito de soluções que podem contribuir para a diminuição de todos estes impasses.

A exemplo do que foi feito, eu, Jairo, não só como jornalista que acompanha o jogo desde que o tal "Project A" foi mencionado pela primeira vez, mas também como jogador desde o beta, tenho algumas palavras para discorrer a respeito do tema. Mas antes de entrarmos no que tenho a passar de vez, já adianto que mch e pava fizeram colocações que fazem grande sentido.

Tratando esta diversidade de assuntos por partes, vamos começar pelos hacks, que afetam o jogador do mais casual ao profissional assalariado de uma organização de esportes eletrônicos. Este problema, claro, não é uma novidade que surgiu em Valorant. A questão aqui é que o game da Riot surgiu como espécie de luz no fim do túnel em relação aos trapaceiros, isso porque no seu irmão mais velho, o League of Legends (LoL), tivemos poucos casos de hack e, quando aconteceram, não demorou para a própria desenvolvedora esmagá-los. Antes mesmo do lançamento de Valorant a expectativa era que o mesmo acontecesse no FPS da empresa. Antes da estreia do jogo, a própria desenvolvedora falou sobre o combate aos hacks e a tolerância zero, o que animou ainda mais a comunidade de esports.

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Hoje, mais de sete meses após o lançamento oficial - sem contar o período de beta - mais uma vez como jogador digo que as expectativas criadas não se cumpriram. Eu também joguei LoL há alguns anos e confesso que quando o assunto era trapaceiros eu me sentia extremamente seguro. Os scripts e drop hacks logo que se tornaram notórios foram resolvidos pela empresa e caíram no esquecimento, deixando de ser pauta da comunidade. Já em Valorant, atualmente me sinto exatamente no mesmo ambiente hostil de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO). Em todas as partidas já entro torcendo para não dar de cara com um trapaceiro e, quando alguém do outro lado começa a se destacar ou se recuperar após rodadas ruins, nunca tenho plena confiança de que é uma pessoa em um bom momento, já que há grandes chances de ser um cheater. No meio do jogo o que era para ser diversão e uma competição saudável vira puro estresse.

Vale lembrar que a maioria dos trapaceiros não terá a "cara de pau" da Raze no vídeo abaixo do mch, a partir dos 12 minutos. Na maioria das vezes são coisas sutis que fazem toda a diferença no jogo, como evidenciado por ele mesmo e pava. Já estive nos níveis mais altos do matchmaking de CS (Global) e Gamers Club (level 20). Em Valorant cheguei apenas até Imortal. Não estou nem ao menos perto do nível profissional, mas já possuo um mínimo de experiência para entender quando há algo estranho tanto do meu lado quanto do outro.

Se pouco for feito diante das trapaças, acredito que uma reação em cadeia pode tomar conta de Valorant, assim como aconteceu em outros títulos. A partir do momento que o jogo é "mal visto", como disse mch, e o clima hostil se instaura, muitos que em um primeiro momento entraram para jogar de forma limpa acabam se corrompendo devido à frustração de perder para trapaceiros e potencialmente podem se tornar trapaceiros tentando revidar o que sofreram. Aos poucos, boa parte dos justos diminui e os que sobram e jamais se juntariam ao "lado sombrio da força" jogarão o game cada vez menos, até desistirem de vez. É esta a reação em cadeia que culmina no fim ou esquecimento de um jogo.

Falando sobre respeito e toxicidade, este é outro fator que assola todos os jogos online. No próprio CS e no Dota a punição para este tipo de conduta é branda e a comunidade não se sente inibida de destilar ódio e até cometer crimes, como racismo. Em Valorant, a quantidade de mulheres que relataram xingamentos, situações vexatórias e até aliados trollando suas partidas pelo simples fato de serem mulheres é estarrecedora. No meu caso, mesmo sendo homem, não preciso ir longe para ver este tipo de coisa acontecer. Tenho uma namorada que joga e vejo de perto a diferença do tratamento que ela recebe só por falar algo no microfone e ser identificada como mulher. Se para mim que apenas observa a situação é horrível, nem imagino como é para ela que sente e sofre.

Por fim, outra questão levantada por mch e pava foi o ghost durante suas lives - este último inclusive fez um vídeo provando que sofreu esta prática. O ghost nada mais é do que um inimigo assistir à sua transmissão enquanto joga contra você, a fim de obter todo o tipo de informações que vão desde onde estão todos os adversários no mapa até a comunicação completa. Na minha opinião, não existe nenhuma diferença entre isso e um hack. Os dois estão no mesmo saco das trapaças e ambos precisam ser tratados da mesma maneira com tolerância zero. Lembrando que obrigar o streamer a colocar delay não é uma solução, é prejudicar a vítima por um erro alheio a ela.

Dentre os assuntos tratados, talvez o ghost seja o que menos preocupe a maioria, pois são poucos os jogadores que fazem stream e têm público o bastante para sofrer este tipo de ataque. Ainda assim, é preciso sim que seja uma preocupação geral já que os criadores de conteúdo são parte imprescindível de todas as comunidades de esports. O trabalho que eles fazem em manter pessoas ativas no jogo, trazendo novos jogadores e entretendo precisa ser protegido não só pela empresa que desenvolve o jogo, mas também por toda a comunidade em volta.

Após expor tudo que os descontentava, mch e pava cobraram atitudes da Riot Games dentro do jogo e também posicionamentos fora dele. Michel falou sobre a empresa deixar as diretrizes mais claras e cravar que os ghosts, por exemplo, não serão tolerados. Já Pava sugeriu o projeto de parceria que PUBG tem com jogadores e criadores de conteúdo, o qual, além de outras coisas, torna estes jogadores que possuem confiança da empresa e comunidade em uma espécie de "fiscais". Se eles possuem provas irrefutáveis de hacks, machismo, racismo, ghost e mais, eles possuem um canal direto para enviar isso à empresa e, segundo Pava, quando constatada a má conduta, o banimento do infrator vinha de forma extremamente rápida. O streamer disse que usava este canal não só para denunciar o que faziam nas suas partidas, mas também na de outras pessoas que enviavam provas a ele sobre o que aconteceu com elas.

No final das contas a verdade é uma só: é impossível se livrar para sempre de usuários ruins. Eles sempre estarão presentes, não só nos games, mas também em todos os outros aspectos da vida de cada um de nós. No entanto, na mesma medida em que é impossível cessar os problemas, é extremamente possível diminuí-los e inibi-los de forma que causem menos situações indigestas e principalmente que não instaurem um clima hostil.

Para isso, acredito que a Riot Games precise não só de mais pulso firme, mas principalmente que mostre serviço. Mais iniciativas como a citada pelo pava é um ótimo lado para explorar. Além disso, ser mais transparente e mostrar ao público que o trabalho está sendo feito ao falar sobre ban waves, informar os jogadores dentro do jogo que usuários denunciados foram banidos e mais, tranquilizando o jogador e fazendo com que se pense duas vezes antes de trapacear. A maior parte deste trabalho precisa ser feito sem chamar atenção para não revelar informações valiosas aos hackers, mas publicar resultados só trará benefícios.

Por fim, um último ponto que falta por parte da Riot é a agilidade - alô Apex Legends. Já citei em outros momentos que a empresa tem uma qualidade incrível que é ouvir sua comunidade e de fato eles fazem isso. Basta olhar as atualizações que estão sempre mexendo em pontos criticados pelos players. No entanto, aliado a esta prática constante de atender aos feedbacks, também é preciso timing, ou seja, rapidez para atender às demandas mais latentes. Especialmente neste início de vida de Valorant, a agilidade com a qual a Riot consegue atender seus clientes - dos mais casuais aos streamers, profissionais e organizações - está diretamente ligada ao crescimento e até mesmo ao tempo de vida que o game terá.

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Jairo Junior
Jairo Junior

Publicitário por formação, jornalista por vocação e vidrado nos esportes eletrônicos por paixão. Também conhecido como Foxer nos joguinhos online.

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