O que provavelmente podemos chamar de "primeira temporada de Arcane" chegou ao fim. Após anos de cinemáticas e clipes de grupos musicais e temas do Worlds, a Riot Games nos deu nove episódios, cada um com 40 minutos de pura história sobre League of Legends. Parte dela já sabíamos como aconteceria, mas isso só torna a jornada de assistir tudo ainda melhor. Há quem diga que a Riot entregou tudo, no melhor sentido do meme, mas eu digo que ainda teremos muito Arcane pela frente.
Toda ação tem uma reação na Subferia
Quando Arcane foi anunciada, durante o evento de comemoração do aniversário de 10 anos do LoL, tudo aquilo pelo qual a comunidade ansiava era saber mais da história de Vi e Jinx. História esta para a qual não faltaram teorias ao longo dos últimos anos. Interações dentro de jogo, numerais romanos, falas de outros campeões, tudo era motivo para novas possibilidades.
O que ninguém esperava - eu inclusa - é que teríamos muito mais do que isso. É óbvio que os conflitos entre Ladoalto e Subferia andam de mãos dadas desde antes das irmãs de cabelos coloridos, mas foi parte das escolhas delas que ditaram (e continuarão ditando) o futuro dos dois lados da moeda.
Tudo foi tirado de Vi e Jinx, inclusive as expectativas que elas tinham uma sobre a outra. Quando Vander morre (?), Vi "some" e Silco assume o "cuidado" de Jinx, não é só o futuro delas que está em jogo, mas o de todo o sistema que inclui ambas as cidades. Em proporções um pouco menores, o mesmo aconteceu após o desentendimento de Vander e Silco, que não sabemos se eram irmãos de sangue, criação ou consideração, mas que também definiu como a Subferia funcionava.
É triste, para não dizer desesperador, ver como Powder se transforma em Jinx e isso não tem nada a ver com a cena do Ato 2 em que Silco mergulha a personagem no rio. Os traumas do futuro Gatilho Desenfreado a afetaram de tal forma que, assim como ressaltam Ekko e Caitlyn, simplesmente não há volta.
E por falar no Rapaz que Estilhaçou o Tempo e na futura Xerife de Piltover, eles aparecem para valer no Ato 3. Como chefe dos Fogolumes, fazendo jus ao antigo apelido Chefinho, Ekko se mostra firme, mas também aberto a negociar, desde que possa manter a segurança da rede de apoio e futuro que criou para si mesmo e para outras crianças, que assim como ele, foram abandonadas pelo sistema.
O mesmo acontece com Caitlyn, ainda que ela seja infinitamente mais otimista que Ekko - o que é um reflexo da vida privilegiada que teve desde o nascimento. Embora seja teimosa, ela é inteligente e capaz de estender empatia ao próximo, mas ainda ingênua - achando que o Conselho se importa da mesma maneira que ela com questões tão tensas.
Por fim, temos Vi, que não deixa de lutar pelo que acredita nem por um segundo. Após passar anos sofrendo em Aguamansa, ela deixa a prisão motivada a encontrar Jinx, mas no fim do terceiro ato, é ela quem experimenta o abandono e a sensação desesperadora de que nada pode ser feito para ter sua irmã de volta.
Todo mundo tem dois lados em Ladoalto
Confesso que por mais que a união entre mágica e tecnologia do Hextec chame minha atenção, durante o Ato 1 não senti tanto apego pelas cenas que mostravam o que acontecia em Piltover. A partir do Ato 2, com Jayce e Viktor pensando sobre o futuro, ainda que de maneiras diferentes, as interferências de Mel e o banimento de Heimerdinger do Conselho, as coisas ficaram mais interessantes.
Isso porque todo mundo tem dois lados em Ladoalto. Jayce é praticamente incapaz de tomar decisões e quando finalmente o faz, faz tudo errado. Ingênuo, ele não sabe pensar por si mesmo e instantaneamente se arrepende de suas ações, que vão desde agir de acordo com o que Mel quer, até magoar Viktor dizendo que as pessoas da Subferia são perigosas. Apesar de ensaiar uma possível redenção no fim do Ato 3, falta experiência e empatia para essa promessa de Piltover que "se perdeu no personagem".
E por falar em Viktor, qual é mesmo o limite da ciência e do progresso? O Viktor que conhecemos da lore do LoL é relativamente diferente do jovem que conhecemos em Arcane e foi interessante assistir a isso. Na ânsia por deixar sua marca em um mundo no qual poucos ligam para quem nasce no que virá a ser Zaun, o jovem cientista se perde para caminhos duvidosos tentando salvar a si mesmo e àqueles que sofrem como ele sofreu.
E quem diria que Mel Medarda também teria dois lados, não é mesmo? Misteriosa e ambiciosa durante os dois primeiros atos de Arcane, ela abriu espaço até mesmo para a comunidade pensar que ela poderia ser Leblanc, a Farsante. Por incrível que pareça, ainda que buscasse poder, provavelmente para provar à mãe que também é capaz de tê-lo, Mel possui os próprios traumas e eu me pergunto se ela também não é um pouco ingênua, no fim das contas.
Concordo com todos que odeiam Jayce por conta da maneira pela qual ele tratou Heimerdinger no Ato 2, mas não acho que todos os argumentos do conselheiro Talis estavam errados, e aparentemente Heimer também não. Durante o terceiro ato, o yordle desce até a Subferia para ver com os próprios olhos a situação pincelada por Jayce e reconhece que talvez pudesse ter feito mais pelo local. Será que o duo Ekko e Heimer vai render?
Alô, Riot? Quando chega a 2ª temporada de Arcane?
Audiência no topo, inúmeros tweets sobre teorias, textos com todos os easters eggs e referências possíveis e memes infinitos são apenas algumas das métricas que a Riot tem para medir o sucesso de Arcane e a emoção que cada fã - antigo ou novo - sentiu ao assistir essa animação, que é artisticamente impecável.
O fim da série abre espaço para diversas perguntas, cujas respostas a comunidade espera encontrar na 2ª temporada de Arcane, que (ainda?) não foi anunciada, mas que é impossível de não ser imaginada e esperada.
Assim como na crítica do Ato 1, insisto em dizer que gostaria de saber o que é ou não canônico, porque quem descobriu o mundo de Runeterra agora ficará perdido nas lores que outras pessoas conhecem há anos - e até mesmo elas devem estar confusas neste momento.
Mas no instante em que o Ato 3 acaba, esse definitivamente não é o primeiro pensamento que passa pela cabeça de alguém - e nem precisa ser, porque é inegável que Arcane é grandiosa e merece ser curtida com calma. Ainda que essa questão seja importante para muitos, depois a gente pensa no que é canônico ou não.
"Não acho que Hollywood perceba o quanto tudo isso é enorme. Acho que temos uma grande oportunidade de construir histórias orgânicas incríveis dentro deste mundo (Runeterra) e de construir cautelosamente para se tornar a propriedade intelectual que define uma geração. Ficaremos aqui por um bom tempo", disse Shauna Spenley, a presidente de entretenimento da Riot, em entrevista recente ao Los Angeles Times sobre a vontade da empresa de continuar criando séries e possivelmente filmes.
Arcane é só o início, podemos esperar muito mais e, desta vez, com a certeza de que nossos pedidos serão atendidos.