Após ser acusado de injúria racial durante uma live, o streamer e CEO da Slick Hernan "Hastad" Klingler foi permanentemente banido de Copa Rakin, uma das competições mais tradicionais do cenário brasileiro de Valorant. Já a organização do criador de conteúdo argentino está suspensa se futuras edições do torneio. A informação foi revelada pelo próprio Rafael "Rakin" Knittel, criador do evento, em sua conta no Twitter. Além do banimento da Copa Rakin, Hastad perdeu nesta sexta-feira contratos de patrocínio com ExitLag e Redragon por iniciativa das marcas e teve seu canal na Twitch banido pela terceira vez em pouco mais de um ano.
De acordo com Rakin, ele e toda a organização do campeonato são "contra todo e qualquer ato de discriminação e propagação de ódio". O streamer disse ainda que "Hastad está permanentemente banido de futuras transmissões e retransmissões da Copa Rakin."
Em relação a Slick, que está disputando a edição atual do torneio, Rakin ressaltou nesta sexta-feira (18) que a equipe será autorizada a concluir sua participação neste Copa Rakin, mas ressaltou que a equipe, ao menos a princípio, não será convidada nem poderá participar de classificatórias para o evento.
"Em respeito aos jogadores e comissão técnica da Slick, vamos manter a participação deles nesta edição de Copa Rakin. Entendemos que houve um trabalho árduo para avançar em uma competição de alto nível e seria injusto prejudicar os atletas. A organização está suspensa das próximas edições do torneio até segunda ordem", concluiu Rakin em comunicado.
Na atual edição da Copa Rakin, a Slick ainda está viva na briga pelo título da competição. A equipe enfrenta na noite desta sexta-feira a ex-B4, em partida válida pela semifinal da chave dos perdedores. Quem vencer o confronto segue viva na briga pelo título e encara o perdedor do duelo entre Gamelanders e FURIA. A final da chave dos perdedores acontece neste sábado (19), às 13h, e a grande final será realizada neste domingo (20), a partir das 15h30.
Mobilização por punições a Hastad
Desde quinta-feira (17), houve mobilização nas redes sociais para denunciar o canal de Hastad na Twitch, destacando o momento em que Hastad teria cometido o ato de injúria racial. Nesta quinta-feira, viralizou no Twitter um clipe da live de Hastad no qual o CEO da Slick está jogando Valorant, se irrita com um aliado e diz à ele: "Que pre...". Hastad interrompe a fala antes antes de concluí-la, que foi interpretada pela comunidade de esports como uma declaração de cunho racista, algo posteriormente admitido pelo próprio pelo influenciador.
Por volta da 1h30 desta sexta-feira (18), hastad se pronunciou sobre o caso no Twitter. O criador de conteúdo afirmou que se interrompeu, pois tomou um susto com a própria atitude e disse que vai "estudar mais" para não repetir o erro.
"Durante a live quando eu estava fazendo aquele comentário, na hora lembro de tomar um susto e me perguntar: porque eu cogitei usar essa palavra? Será que eu nao evolui (sic). Eu perço (sic) perdão de coração rapazeada. Hoje eu aprendo, amanha irei estudar mais sobre isso para que no futuro consiga ajudar que isso nao (sic) aconteça mais", escreveu o jogador após a repercussão negativa do caso.
Ainda na quinta-feira, por volta das 19h, o MGG Brasil entrou em contato com a SLICK solicitando um posicionamento oficial sobre o comportamento de hastad, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto. A organização também não falou sobre o caso em suas redes sociais oficiais.
Crime previsto em lei
O ato de chamar alguém de preto de forma ofensiva pode caracterizar crime de injúria racial, crime apontado no parágrafo 3º do artigo 140 do Código Penal, que prevê uma forma qualificada para o crime de injúria, na qual a pena é maior e não se confunde com o crime de racismo, previsto na Lei 7716/1989.
Para sua caracterização é necessário que haja ofensa à dignidade de alguém, com base em elementos referentes à sua raça, cor, etnia, religião, idade ou deficiência. A pena pode ser de um a três anos de reclusão.
Muitas pessoas também se lembraram que em um vídeo publicado no YouTube, em 7 de janeiro deste ano, é possível ouvir hastad utilizando a palavra "preto" para ofender uma pessoa.
O que é racismo estrutural?
O racismo estrutural citado por hastad é um termo usado para definir sociedades que se estruturam a partir de um sistema que privilegia um ou mais grupos em detrimento de outros. No caso da sociedade atual, brancos possuem privilégios em relação a negros e indígenas.
Em um vídeo ao lado da filósofa Djamila Ribeiro, o professor de direito Silvio Luiz afirma que "todo o racismo é estrutural porque o racismo não é um ato, o racismo é processo em que as condições de organização da sociedade reproduzem a subalternidade de determinados grupos que são identificados racialmente. É estrutural porque estrutura todas as instituições".
Para entender mais sobre o assunto, assista ao vídeo completo abaixo: