Na última quinta-feira (17), foi divulgado nas redes sociais um vídeo no qual Hernan “hastad” Klingler, CEO da organização SLICK, está jogando Valorant quando se irrita com um aliado e diz à ele: "Que pre...", termo interrompido, interpretado pela comunidade de esports e admitido pelo influenciador como racista.
De acordo com fãs de esports, que se uniram para cobrar um posicionamento de Hastad, o influenciador queria dizer a palavra "preto" de maneira ofensiva, o que caracteriza injúria racial, mas se interrompeu para não ser punido.
Veja o vídeo abaixo:
Ainda na quinta-feira, por volta das 19h, o MGG Brasil entrou em contato com a SLICK solicitando um posicionamento oficial sobre o comportamento de hastad, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto. A organização também não falou sobre o caso em suas redes sociais oficiais.
Por volta da 1h30 desta sexta-feira (18), hastad se pronunciou sobre o caso no Twitter. O criador de conteúdo afirmou que se interrompeu, pois tomou um susto com a própria atitude e disse que vai "estudar mais" para não repetir o erro. A ExitLag, empresa a frente da ferramenta que diminui lag em jogos online e a Red Dragon, fabricante de periféricos, finalizaram sua parceria com o streamer.
Canal na Twitch banido
Também na noite desta sexta-feira, Hastad teve seu canal na Twitch banido. De acordo com o site StreamerBans, que faz o monitoramento de banimentos de canais parceiros da plataforma de transmissões da Amazon, esta é a terceira vez em pouco mais de um ano que o argentino sofre este tipo de punição, o que aumenta muito as chances de o canal de Hastad ser banido de forma definitiva desta vez.
Segundo o StreamerBans, o primeiro banimento de Hastad aconteceu no dia 21 de abril de 2020, e o segundo, no dia 21 de maio daquele mesmo ano. Nas duas ocasiões, Hastad ficou impedido de fazer lives pelo período de uma semana, mas retomou suas atividades normalmente depois.
Banimento da Copa Rakin
Ainda na onda de punições após ser acusado de injúria racial, Hastad também foi permanentemente banido de Copa Rakin, uma das competições mais tradicionais do cenário brasileiro de Valorant. Já a organização do criador de conteúdo argentino está suspensa se futuras edições do torneio. A informação foi revelada pelo próprio Rafael "Rakin" Knittel, criador do evento, em sua conta no Twitter.
De acordo com Rakin, ele e toda a organização do campeonato são "contra todo e qualquer ato de discriminação e propagação de ódio". O streamer disse ainda que "Hastad está permanentemente banido de futuras transmissões e retransmissões da Copa Rakin."
Em relação a Slick, que está disputando a edição atual do torneio, Rakin ressaltou nesta sexta-feira (18) que a equipe será autorizada a concluir sua participação neste Copa Rakin, mas ressaltou que a equipe, ao menos a princípio, não será convidada nem poderá participar de classificatórias para o evento.
Algumas horas antes do pedido de desculpas, a comunidade observou que hastad chegou a insinuar processar um usuário que se posicionou sobre o caso.
O ato de chamar alguém de preto de forma ofensiva pode caracterizar crime de injúria racial, crime apontado no parágrafo 3º do artigo 140 do Código Penal, que prevê uma forma qualificada para o crime de injúria, na qual a pena é maior e não se confunde com o crime de racismo, previsto na Lei 7716/1989.
Para sua caracterização é necessário que haja ofensa à dignidade de alguém, com base em elementos referentes à sua raça, cor, etnia, religião, idade ou deficiência. A pena pode ser de um a três anos de reclusão.
Muitas pessoas também se lembraram que em um vídeo publicado no YouTube, em 7 de janeiro deste ano, é possível ouvir hastad utilizando a palavra "preto" para ofender uma pessoa.
O que é racismo estrutural?
O racismo estrutural citado por hastad é um termo usado para definir sociedades que se estruturam a partir de um sistema que privilegia um ou mais grupos em detrimento de outros. No caso da sociedade atual, brancos possuem privilégios em relação a negros e indígenas.
Em um vídeo ao lado da filósofa Djamila Ribeiro, o professor de direito Silvio Luiz afirma que "todo o racismo é estrutural porque o racismo não é um ato, o racismo é processo em que as condições de organização da sociedade reproduzem a subalternidade de determinados grupos que são identificados racialmente. É estrutural porque estrutura todas as instituições".
Para entender mais sobre o assunto, assista ao vídeo completo abaixo: