Não há melhor frase para começar este texto do que: "Fui numa festa de League of Legends e olha no que deu". Em um belo dia decidi abrir o Facebook – um acontecimento particularmente raro – e me deparei com o anúncio de uma festa de LoL no Rio de Janeiro. Achei interessante e pensei em compartilhar aqui no MGG Brasil, então levei a pauta até meu Editor-Chefe, que atiçou meu potencial de escrever sobre coisas inusitadas (já parou para pensar quais campeões do LoL são emos?) e perguntou: "Por que você não vai lá e faz uma crônica sobre?". Bem, eu não poderia recusar, então assim o fiz – e foi muito mais caótico do que imaginei que seria.
É preciso antecipar que: sim, são relatos sobre coisas aconteceram naquela fatídica noite, mas para ser sincera logo de cara, minhas capacidades mentais estavam extremamente afetadas por uma quantidade considerável de álcool ingerido em formato de Caipirinha. Em minha defesa, encarei como um experimento antropológico e, para tal, precisei viver a experiência ao máximo e me misturar disfarçadamente (como se eu não fosse uma grandíssima nerdola que só abre a boca para falar de jogo).
Adult Swim: a festa de LoL
Para quem está curioso, a festa em questão se chama Adult Swim e acontece periodicamente com diversos temas do universo geek, essa edição em específico se chamou Adult Swim of Legends e explorou toda a temática do MOBA da Riot Games. Foi na Vizinha 123, um local de eventos em Botafogo, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, e foi organizada por Ian Nogueira e Maria Valle, esta última que prontamente me permitiu analisar como funciona o LoLzeiro em seu habitat natural.
O grupo de WhatsApp
Para me preparar para o que estava por vir, me infiltrei no grupo de WhatsApp da festa. Para quem me conhece, sabe que eu respondo mensagens instantâneas uma vez na vida e outra na morte, então só fiquei por lá observando. Na realidade não aconteceu nada fora do normal: pessoas procurando duo para jogar no LoL, uma galera mandando foto no grupo numa espécie de Tinder, e outras mil mensagens que não consegui ler e só aceitei.
A Adult Swim foi realizada em um sábado, 18 de junho, e até algumas horas antes eu já estava preparada para ir totalmente sozinha – até que consegui convencer minha colega de apartamento o namorado dela para irem comigo (lembrem dela, pois foi quem protagonizou o melhor momento da noite). Em algum lapso decidi comprar uma bendita garrafa de Jurupinga para tomar enquanto me arrumava, pensando que quando chegasse lá eu não iria beber mais nada – mais pela falta de dinheiro do que por alguma inclinação moral mesmo.
Claro que, o meu planejamento não deu nada certo e tive que beber, com auxílio dos meus dois escudeiros, quase um litro de Jurupinga em menos de três minutos para entrar na festa. Não sei dizer se esse foi o meu maior erro da noite, mas posso dar a total certeza de que não foi uma decisão inteligente. Não façam isso (é sério).
Não bebam (é sério)
Entrei na Vizinha 123 e estava munida com o bloco de notas do celular aberto e um sonho. Havia um grandíssimo "porém" no meu plano infalível de observar os arredores: esqueci meus óculos em casa. E talvez a quantidade de Jurupinga tenha ajudado na minha visão totalmente turva.
Uma coisa sobre mim é que eu perco a dignidade mas não perco o profissionalismo; a primeira coisa que fiz foi procurar pelo fotógrafo da festa, Rodrigo Costa, para ter acesso às mídias daquela noite, considerando que meu iPhone SE tira fotos no escuro tal como uma impressora tiraria. Ele possivelmente não sabe, mas Rodrigo já registrou alguns momentos meus em festas passadas, me dá gatilho só de pensar nessas fotos por aí.
O massacre no Mortal Kombat
Como uma boa festa de nerdola, havia nada mais, nada menos, do que um PlayStation 5 livre para todos os nerdolas serem felizes. Assim que cheguei, o jogo do momento era Mortal Kombat. Lembram que fui acompanhada na minha colega de apartamento? Pois bem, para melhor visualização o nome dela é Virgínia. Virgínia até pouco tempo atrás tinha em suas mãos um computador tão potente quanto uma calculadora, e, até onde eu tenho conhecimento, nunca teve um console. Dessa forma, eu nunca poderia imaginar os momentos de destruição, caos e terror que viriam no momento em que ela pegou no controle do PS5.
Acontece que, aparentemente divido o apartamento com uma pro-player em ascensão que não teve misericórdia nenhuma com seus oponentes. Estávamos jogando no esquema de x1 e quem perdia passava o controle para o próximo, dessa forma, e se eu disser que fiquei possivelmente quase duas horas olhando Virgínia jogando no mesmo controle desde que o pegou pela primeira vez? Simplesmente não havia oponente algum a altura para derrotar a mono Jade.
Não esqueçam que isso aconteceu em uma festa repleta de viciados em videogame. O massacre foi tamanho ao ponto de começarem a reclamar que não passava a vez de jeito nenhum e ela ter que sair por conta própria simplesmente porque cansou. Quando ela finalmente retornou, trocaram o jogo para FIFA e aí já era humilhação demais permanecer naquele ambiente.
Observação: Sim, eu tentei jogar e, como uma boa Nintendista, falhei miseravelmente pois a ordem dos controles desse console são opostas.
Decisões ruins
Para alegria generalizada, houve distribuição de batata-frita (as nomeadas Fritas Hextec), e também para derrota generalizada, houve distribuição de shots RED & BLUE feitos para "buffar" o lolzeiro naquela noite. De alguma forma eu acabei com buff de regeneração de mana a noite inteira, e talvez minha mãe não se orgulhe muito disso, mas eu definitivamente não consegui detectar que bebida era aquela.
Em minha defesa: eu estava ali de maneira investigativa e desta forma havia de me misturar no ambiente e viver inteiramente as experiências. Claro que, foi uma decisão extremamente burra. Em algum momento da noite eu comecei a discutir com desconhecidos sobre hardwares e como montar um computador – eu não sei nada sobre hardwares muito menos como montar um computador. Também gritei algumas vezes que era mono Senna, e ouvi a seguinte frase:
— Eu sou mono Akshan, será que dá sinergia?
Spoiler: Ele não estava falando exatamente sobre LoL, mas o desfecho disso vai ficar na imaginação de vocês.
Discuti fervorosamente sobre política – mas não sei exatamente o que, mas acho que ofendi algumas pessoas as chamando de liberais – e acabei no meio de uma rodinha de pessoas desconhecidas, que naquele momento se tornaram amigos de anos, dançando ao som da abertura dublada de Pokémon. Descobri também que sou a única jogadora de Nintendo Switch da face da terra (talvez tenha outros três) e fui extremamente zoada por isso (de toda forma, toma aqui indicações de jogos da Nintendo).
O joelho que foi com deus
De tanto gritar como uma maluca e cantar aberturas de animes já era de se esperar que no dia seguinte eu acabaria sem voz (e talvez sem dignidade), mas acordar com um hematoma no joelho foi um diferencial. Para devido contexto, nem de longe sou uma exímia dançarina, o máximo que consigo performar é a coreografia de Ievan Polkka, uma música da vocaloid Hatsune Miku, que se consiste em mexer a mão para cima e para baixo.
Dito isso, era esperado tocar músicas indie até trilha sonora de animes (inclusive agora estou me lembrando vagamente de ouvir o Twitch falando ti ti ti no meio da festa), e funk estava incluído no catálogo musical. Não sei se são memórias reais ou foi só impressão, mas quando começou a tocar funks e músicas pop a galera não estava exatamente animada. Mas lá estava eu bravamente gritando e pulando como uma desesperada.
Até que começou a tocar Sentadona, da queridíssima Luísa Sonza, e se eu já estava parecendo um canguru de tanto pular, aqui – de fato – me empolguei. Isso não passou batido aos olhos de uma menina de cabelo vermelho que, assim como eu, estava empolgadíssima. Acontece que me torno uma pessoa estranhamente extrovertida após incontáveis caipirinhas, buffs e jurupingas, logo me juntei a garota e começamos a cantar.
Por algum motivo, acho que ela enxergou em meu interior uma dançarina com um talento adormecido, pronta para ser tocada pelo poder da amizade. Começou o "sentadona, sentadona, sen-ta-do-na" e a criatura enviada por deus agarrou meu braço com a força de mil soldados e me puxou com toda sua força de vontade (e força física também) para o chão.
Infelizmente a vida não é um anime e não fui abençoada com a força de alguma entidade dançarina. Eu meio que só fiquei no chão, alí, repensando todas as escolhas que já tomei na minha vida e vendo a destruidora de joelhos fazendo a coreografia e olhando para mim (e vendo uma tragédia). Não sabia qual decisão era pior: tentar dançar mirando na Luísa Sonza para acertar uma lagartixa ou fingir que era um cadáver.
Eu escolhi a segunda.
Solicitação no LinkedIn (???)
Para o bem ou para o mal eu sou o que podemos chamar de inimiga do fim, mas a Virgínia e o Yan não. Fui basicamente arrastada contra a minha vontade para o Uber e quando cheguei decidi que a humilhação não foi bastante e comecei a ligar para as pessoas (às cinco horas da manhã).
No dia seguinte, acordei com algumas solicitações no Facebook (rede social a qual eu definitivamente não uso) e também uma no LinkedIn, e nenhuma no meu Twitter que – com certeza – panfletei. Quando fui consultar as notas que fiz durante a festa, descobri um desejo interno de ser crítica de música; meu foco foi escrever as músicas que tocaram (??). Para aproveitamento: sim, tocou Enemy, K/DA, True Damage e, aparentemente, Miley Cyrus.
E bem, se teve uma coisa que teve, essa coisa foi cosplay. De LoL encontrei uma Vi, Evelynn K/DA, Viego, Annie e alguns outros campeões. Também teve uma galera com o chapéu do Teemo.
Por fim, foi uma noite extremamente divertida e memorável, que me rendeu um joelho machucado, uma garganta ferrada, uma ressaca moral e física e o recebimento da música "Why'd You Only Call Me When You're High?" de Arctic Monkeys no meu WhatsApp .
A Adult Swim é uma festa que acontece periodicamente, para quem quiser se aventurar, a próxima será "Adult Swim e os Bagulhos Sinistros" em 13 de agosto, inspirada em Stranger Things. Os ingressos estão a partir de R$20,00 e podem ser comprados pelo Sympla. E por último preciso dizer que, caso tenha me encontrado na de League of Legends e tenha me visto passando vergonha: não fui eu. Caso me encontre em alguma próxima e me veja passando vergonha: não sou eu.