No último domingo, 25 de julho, todo o Brasil se alegrou com a conquista da medalha de prata na modalidade de skate street durante os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 pela gigante de 13 anos: Rayssa Leal conquistou o coração não só de toda a nação brasileira, mas também do mundo.
Apelidada de Fadinha do Skate, a agora medalhista olímpica começou a praticar no skate aos sete anos, inspirada pela também atleta olímpica, Letícia Bufoni: "Fico feliz de saber de meninas que começaram a andar de skate ou que os pais deixaram andar de skate por minha causa, porque foi a mesma coisa comigo. Eu tinha mostrado um vídeo da Letícia andando de skate. Aí um amigo, o Matheus, apareceu com um skate e foi a minha chance", Rayssa contou em uma entrevista logo após a conquista em Tóquio.
Letícia, um dos maiores nomes da história do skate feminino, possui uma trajetória incrível e digna de respeito. Outrora um ícone em uma tela para Rayssa, Bufoni passou a ser sua colega de seleção e acima de tudo: amiga.
A representação de uma mulher mandando muito bem em um skate foi importantíssima para a jovem medalhista, e agora é Rayssa quem se apresenta como uma inspiração para uma nova geração de garotas.
Não só no skate o Brasil se destacou, a seleção de atletas olímpicos que representam o país já conquistou 7 medalhas até a tarde desta quinta-feira, 29 de agosto, entre elas as vitórias históricas de outras duas mulheres além de Rayssa: Rebeca Andrade, que conquistou a medalha de prata na modalidade de ginástica olímpica e Mayra Aguiar levando o bronze no judô.
Mulheres ocupando posições de extrema relevância
Ter mulheres conquistando lugares de grande relevância e visibilidade é um grande triunfo - algo a ser celebrado. Neste caso em específico, a importância é até mesmo maior: a Fadinha é uma menina negra, sonhadora, obstinada e carismática de 13 anos que veio de Imperatriz, no Maranhão.
Quem teve o privilégio de assistir à Rayssa competindo nas Olimpíadas viu uma menina brincalhona e focada, que andava e realizava manobras complicadas em cima do skate de uma forma completamente natural e brilhante. E não apenas, fora da pista Rayssa dançou, torceu incansavelmente para sua companheira de seleção - que infelizmente não se qualificou para as finais, assim como Pâmela Rosa - e abraçou literal e calorosamente a vitória de Momiji Nishiya, a japonesa de também 13 anos que levou o ouro.
Rayssa Leal não é um ícone inalcançável. É uma menina, que como outras meninas da mesma idade, sonha e brinca. Assim como em uma geração passada, garotas viam ao vivo as conquistas surreais de Daiane dos Santos na ginástica artística ou Marta no futebol e pensavam "eu quero ser assim", agora outras crianças brasileiras olham para a maranhense com os mesmos olhos.
Esta representatividade é importante para influenciar outras mulheres a ocuparem lugares que são socialmente construídos como masculinos. Atualmente, estando próxima de atingir a marca de 6 milhões de seguidores no Instagram, a medalhista de prata comemorou em entrevista: "Fico orgulhosa da minha história e da história de tantas outras skatistas que quebramos esse preconceito, toda essa barreira. O skate não é só para os meninos, não é só para homens. Hoje posso segurar uma medalha olímpica".
Nas redes sociais, a modalidade de skate - até então inédita nas Olimpíadas - prendeu por si só a atenção dos internautas, que vibraram com a medalha de prata que Kelvin Hoefler trouxe para o Brasil no último sábado. Mas a conquista da Fadinha foi histórica. Quem assistiu à disputa com os comentários de Karen Jonz, tetra-campeã mundial de skate vertical, pôde se emocionar juntamente com a skatista, que chorou comovida com a magnitude do acontecimento. Com discursos conscientes e trazendo pautas de representatividade de gênero para a transmissão ao vivo realizada pelo SporTV, Karen foi uma parte fundamental para o todo.
Representatividade feminina nos esports
Os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 estão trazendo a discussão da representatividade de gênero nos esportes à tona, entretanto, quem se identifica com o gênero feminino - principalmente - sabe que esta pauta não se limita apenas aos esportes convencionais; no mercado profissional, na cultura, na política, na ciência e na sociedade no geral. Nos esports existem exemplos diários de como é ser uma mulher jogando.
Dentro do cenário de esportes eletrônicos não existe somente casos isolados de machismo dentro dos jogos ou pensamentos que almejam a retirada da mulher de um espaço retratado como masculino, há casos absurdos de assédio em grandes empresas, e também por influenciadores e personalidades do cenário competitivo. Não bastante, ainda hoje há a desigualdade de gênero em lugares de visibilidade e importância, isto se dá por falta de estrutura, falta de incentivo e falta de representatividade.
Felizmente, as mulheres existem e resistem; diversas organizações, que lutam contra qualquer tipo de desigualdade em prol de minorias, estão ascendendo e tomando voz. Não apenas, no cenário competitivo, campeonatos femininos estão cada vez mais visíveis, trazendo melhorias para a vivência feminina no universo dos games: seja no CS:GO, Rainbow Six, Valorant ou no Free Fire.
Desta forma, volta-se ao ponto principal: representatividade. Os esports e games no geral, assim como o skate, sempre foram lidos como atividades para homens. Em vista disso, desde a infância mulheres sempre sofreram sanções e foram reprimidas ao se interessarem por estes hobbies. Felizmente, essa opressão nunca foi o bastante para as parar.
Existem mulheres no cenário de esports - seja na staff, na imprensa, jogando profissionalmente, sendo uma grande personalidade - que assim como Rayssa Leal, ocupam espaços incríveis ou se iniciaram na trajetória de ocupar: Ravena, Letícia Motta, Mayumi, Camilota XP, Fogueta e Lahgolas, Nyvi Estephan, Isadora Basile, Barbara Gutierrez, Thaiga, Showliana, as Garotas Mágicas, Bia Coutinho e todas as outras mulheres que inspiram - que vamos lá, é uma lista gigantesca.
A representatividade traz novas meninas que olham para essas mulheres incríveis e querem seguir o mesmo rumo, inspiram outras pessoas que se identificam com o gênero feminino e dão o suporte de que sim: elas podem fazer o mesmo.