Disputar um torneio mundial é o auge da carreira de muitos grandes atletas de esporte eletrônico ou de qualquer outra modalidade. Como neste tipo de competição estão sempre os melhores, se espera que estes também tenham os maiores apoios e estrutura para desempenho. No entanto, como Guilherme "walck" Moreno, técnico de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) disse em entrevista ao MGG Brasil, nem sempre isso acontece.
O treinador citou que o "Exodia" feminino formado por Camila "cAmyy" Natale, Pamella "pan" Shibuya, Juliana "showliana" Maransaldi, Gabriela "GaBi" Maldonado, Bruna "bizinha" Marvila e por ele próprio teve dois grandes feitos principais no período em que passaram juntos:
"O primeiro foi conseguir o melhor resultado [feminino no CS:GO] em um mundial e o segundo foi ter disputado este mundial ganhando menos que a metade de um salário mínimo."
O coach não chegou a citar a organização que o elenco representava na época. No entanto, é fato que quando eles conquistaram o tal melhor resultado - o quarto lugar na Intel Challenge Katowice 2018 - eles representavam a Vivo Keyd. Aquela ocasião foi a primeira vez que um time feminino brasileiro de CS:GO passou da fase de grupos de um mundial com oito equipes.
Walck explicou que, na época, o cenário feminino não era tão grande e muitos aspectos se mostravam diferentes do que acontece atualmente. Um dos principais é que apesar de se tratar de um time feminino - que inclusive vencia tudo o que disputava - a parte competitiva era o que menos importava para as organizações.
"Nós servíamos como produto de mídia e buscavam patrocinadores a partir disso", disse walck. "A galera nunca focou em ter um time para resultado, enquanto hoje é assim. Nenhuma organização se importou com resultados nossos, só estávamos ali servindo como 'chama fã" mesmo."
Procuramos a Keyd para questionar sobre o investimento no cenário feminino na época em questão. No entanto, a organização preferiu não comentar.
O coach acredita que muitas organizações mudaram esta mentalidade com o passar do tempo. Ele até citou MIBR, FURIA e Black Dragons como exemplos de clubes que se importam bastante com a parte competitiva da cena feminina. Além disso, também explicou que o investimento neste cenário era complicado naquele tempo pela pouca profissionalização.
Tudo começou a mudar para melhor com a criação de um calendário anual com competições certas para acontecerem. Algumas delas são os splits da Grrrls League, da Liga Feminina Gamers Club, Gamers Club Masters, BGS Esports, WESG e mais e até alguns novos como a primeira Aorus League feminina.
"Antes a gente chegava na organização e falava que ia disputar R$ 500 em skin todo mês, então é impossível alguém querer colocar dinheiro e trabalho nisso."
Fora a segurança que ter um calendário oferece a um clube para investir nos times, walck também destacou que isso faz toda a diferença para jogadores, treinadores e managers. Saber quando acontecerão os eventos ajuda na montagem de logística de treinamento, viagens e jogos.
Desde que começaram a aparecer grandes competições de CS:GO na cena, a desculpa de que mulheres não geram engajamento e visualização caiu por terra. De acordo com a própria Grrrls League, o primeiro split do campeonato "foi sucesso de público". As transmissões aconteceram no canal da Twitch da Game XP - os playoffs foram transmitidos no canal de Alexandre "Gaules" Borba e também no TikTok, rendendo "mais de 3,2 milhões de views". Esta foi a primeira vez que o TikTok foi palco para transmissões de esports no mundo e "a repercussão foi acima do esperado".
Em diversos eventos presenciais também era comum ver as arenas lotadas para assistir às finais femininas. Desde a Geek & Game Rio Festival no Rio de Janeiro até a Brasil Game Show em São Paulo. O cenário estava carente de investimento e, quando ele finalmente veio, a roda começou a girar.