Pela primeira vez, um equipe brasileira fez uma campanha de destaque em grande campeonato internacional de Valorant. Embora não tenha sido campeã do Masters Reykjavík, na Filândia, a LOUD mostrou por que é, com alguma sobra, o melhor time do Brasil hoje, vencendo equipes como Team Liquid, na estreia nos playoffs, G2 (semifinal da chave superior) e OpTic Gaming (final da chave superior) no caminho até a grande final, na qual a OpTic conseguiu a revanche e garantiu o título do Masters.
A excelente campanha da equipe de Sacy, Saadhak, Pancada, Aspas e Less finalmente colocou o Brasil no mapa internacional do Valorant, após uma temporada de 2021 com campanhas poucas expressivas nos Masters Reykjavík, Berlin e o Valorant Champions, campeonato mundial da modalidade. Ao mesmo tempo porém, evidenciou que a LOUD está muito acima dos demais times brasileiros, que precisarão elevar o nível de jogo na segunda etapa da Valorant Champions Tour 2022 se quiserem ser um rival à altura não apenas da LOUD, mas também das principais equipes das demais regiões.
Domínio da LOUD no VCT Challengers Brazil
Os primeiros sinais de que a LOUD "sobrava" no cenário brasileiro vieram no Valorant Challengers Brazil, quando a equipe fez uma campanha praticamente perfeita do início ao fim. Foram 7 vitórias em 7 jogos e apenas um mapa perdido, ainda na fase de grupos contra a Havan Liberty, em 17 disputados, com vitórias tranquilas na maioria das partidas.
Equipes como Team Vikings, TBK e Gamelanders foram dominadas nos duelos contra a LOUD na fase de grupos, enquanto a Havan Liberty, time que mais impôs dificuldades ao time de Sacy, Saadhak e companhia, foi eliminada na fase de grupos com 1 vitória e 3 derrotas.
Nos playoffs, não foi diferente. Superior no aspecto tático e com um quinteto de jogadores fortíssimos mecanicamente, a LOUD se impôs em todos os confrontos. Na semifinal da chave superior, 2 a 0 sobre a Vivo Keyd com direito a 13 a 1 no mapa Breeze.
Nos dois duelos contra a Ninjas in Pyjamas, segundo melhor time do Brasil, vitórias por 3 a 0 na final da chave superior e na grande final. Um indício desse domínio é que em 4 dois 6 mapas vencidos pela LOUD nesses confrontos, a NIP não venceu mais do que 6 rodadas. Os 13 a 11 nos mapas Haven (final da winners) e Fracture (grande final) marcaram os duelos mais equilibrados entre as equipes.
NIP começa bem no Masters, mas cai ainda na fase de grupos
Se a LOUD é claramente o melhor time do Brasil hoje, e único a fazer uma campanha de destaque em um grande campeonato internacional, a Ninjas in Pyjamas é o segundo melhor time do Brasil, um dos melhores de toda a América do Sul e tem enorme potencial para fazer campanhas de destaque em eventos internacionais. O saldo no Masters Reyjkavík, no entanto, foi negativo para a equipe de Xand, Jonn, Cauanzin, Bezn1 e Bnj.
No caminho até o Masters, a NIP precisou vencer equipes como FURIA, Vivo Keyd, ambas nos playoffs do VCT Challengers Brazil, e passou pela Leviatán na decisão do VCT Brazil vs LATAM Playoffs, mostrando ser um time que teria condições de jogar em alto nível internacionalmente.
Na estreia do Masters, os Ninjas estrearam com uma boa vitória sobre a Fnatic, mas acabou dominada pela DRX, da Coreia do Sul, em duelo que valia o primeiro lugar do grupo A e classificação direta aos playoffs. No duelo de repescagem valendo o segundo lugar do grupo A, os Ninjas encararam a ZETA Division, do Japão. A equipe brasileira fez boa partida e chegou a abrir 12 a 8 no mapa de desempate, Fracture, mas desperdiçou quatro match points e perdeu por 14 a 12.
Apesar da frustração pela derrota, a NIP esteve muito próxima de derrotar o time que, mais tarde, surpreenderia o mundo e terminaria o Masters na terceira colocação, abaixo apenas de OpTic e LOUD e desbancando vários times fortes nos playoffs, como Team Liquid, DRX e Paper Rex.
A NIP deu sinais de ser um time que, com alguns ajustes, pode se tornar um time brasileiro de nível internacional, pois a própria ZETA Division viveu momentos de oscilação antes de fazer sua primeira campanha de destaque internacional. O primeiro desafio de Xand, Jonn e companhia é se tornar um rival mais duro para a LOUD no Brasil, o que seria benéfico para ambos os times na preparação para eventos internacionais.
Por outro lado, os Ninjas têm dentro do próprio país rivais que brigam hoje pelo posto de segunda força do Valorant brasileiro, com destaque para Vivo Keyd e FURIA. Por isso, o primeiro desafio da equipe é destacar dos demais times da mesma forma que a LOUD fez na 1ª etapa do VCT Challengers Brazil.
Equilíbrio do cenário internacional embaralha disputa pelo topo
Se o primeiro evento internacional de Valorant de 2022 já foi melhor para o Brasil do que toda a temporada de 2021, também é preciso destacar o enorme equilíbrio de forças que há no Valorant hoje entre todas as regiões. A EMEA, que teve a Gambit campeã do VCT Masters Berlin 2021 e a ACEND conquistando o Valorant Champions 2021, derrotando a própria Gambit na decisão. Não teve nenhuma equipe no top 4 do VCT Masters Reykjavík 2022.
Já a América do Norte, que não teve nenhuma equipe sequer classificada aos playoffs do Valorant Champions, conquistou o Masters Reykjavík 2022 com a OpTic, que contratou a antiga lineup da Envy, vice-campeã do Masters Berlin 2021.
O cenário asiático, que assim como latino-americano ainda não conquistou um título internacional, vem crescendo consistentemente no cenário competitivo internacional e faz campanha cada vez melhores. No Valorant Champions, X10 e Team Secret garantiram duas vagas nos playoffs do mundial, e subiu alguns degraus no Masters Reykjavík, com duas equipes no top 4: ZETA Division e Paper Rex, além de ter uma DRX figurando no top 6.
O cenário de grande equilíbrio de forças mostra que o caminho até o topo do cenário de Valorant é indiscutivelmente árduo, pois qualquer equipe classificada é capaz de surpreender e fazer uma boa campanha. Por outro lado, também dá mais esperanças ao cenário brasileiro, que pela sua enorme tradição em FPSs 5x5, pode ter não apenas a LOUD, mas também outras equipes lutando por posições de destaque num futuro próximo nos grandes eventos.
Para isso, porém, esses times devem ter a evolução da LOUD como uma referência, pois Sacy e Saadhak, por exemplo, passaram por grandes frustrações nos tempos de Team Vikings antes de finalmente conseguirem brilhar em palcos internacionais. O caminho até o topo é extremamente difícil, mas o cenário hoje é muito mais otimista do que em 2021 e já há hoje um time brasileiro que é extremamente respeitado mundialmente. Se a evolução iniciada este ano continuar, não vai demorar até uma equipe do país chegar ao topo do mundo, ainda que somente uma delas pareça, hoje, pronta para dar esse passo.