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O que a Riot uniu, ninguém separa: a história de amor de duas pro players de Valorant, nat1 e isa1

O que a Riot uniu, ninguém separa: a história de amor de duas pro players de Valorant, nat1 e isa1
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As jogadoras se conheceram jogando LoL e namoraram há oito anos. Após o término, o beta do Valorant as uniu novamente - e agora para sempre!

Quem acompanha o cenário competitivo feminino de Valorant já deve ter visto Natália "nat1" Meneses, da Gamelanders Purple, e Isabelle “isa1” Glym, da Havan Liberty, trocando declarações de amor (muito fofinhas!) no Twitter e a comunidade shipando muito este casal. Em entrevista ao MGG Brasil, as jogadoras contaram como o namoro começou e quem é que dorme no sofá quando perde um jogo.

Do LoL ao Valorant: reencontro

Enquanto isa1 é de Belém, no Pará, nat1 é do Rio de Janeiro - e tudo começou com um webnamoro por conta de League of Legends.

"Nos conhecemos há oito anos atrás, jogando LoL, tivemos uma amizade por um tempo e chegamos a namorar por uns nove meses", contou isa, mas por conta da distância, as coisas não deram muito certo. "Tivemos um término meio conturbado, mas ela sempre foi uma pessoa pela qual mantive muito carinho".

Esse carinho foi o que deu um estalo - e um susto! - nelas, sete anos depois, em 2020. Quando o beta do Valorant foi lançado, entre abril e maio, isa e nat se reencontraram em uma partida ranqueada.

"Eu estava jogando com um amigo e na minha partida tinha uma isa, mas eu nem me liguei. Eu escutei a voz dela comunicando no jogo e pensei: 'Calma! Reconheço essa voz'. Ela continuou falando, aí mexi com ela, brinquei com ela, nos adicionamos e começamos a manter contato e jogar juntas. A Riot juntou a gente duas vezes!", contou isa1.

"Quando ouvi a voz dela, dei uma gelada, porque achei que não era possível isso acontecer assim de forma tão aleatória. Qual era a chance de ela estar em uma ranked no meu time? Dei aquela assustada de leve", revelou nat1. E foi ali que tudo recomeçou.

"Ela não queria namorar, eu também não"... até que alugaram um apartamento ♥

Quando se reencontraram no Valorant, nat1 e isa1 se falaram por três horas no próprio lobby do jogo. "Não tínhamos contatos uma da outra, então conversamos por lá mesmo. Passaram alguns dias, começamos a jogar juntas, montamos um time para jogar um fake e fomos conversando sem pretensão nenhuma! Ela não queria namorar e eu também não!".

Segundo nat, na época, por volta do início da pandemia, as duas tinham o mesmo pensamento: "Webnamoro jamais. De novo não!". Mas não teve jeito, a Riot o universo conspirou para que elas ficassem ainda mais próximas. Em outubro de 2020, as duas foram anunciadas na line-up da Team Vikings e foi próximo desse momento que o romance engatou.

"A gente já tinha se relacionado antes, sabíamos que namoro à distância não era fácil, mas sempre nos demos muito bem, sempre fomos muito amigas, nossa aproximação foi natural. Eu não tomei um susto, mas pensei: 'Não acredito que estou apaixonada pela mesma pessoa de oito anos atrás!'. Até que falamos: 'Por que não?'".

Por conta das origens no webnamoro, as duas nunca tinham se visto e foi só no início de 2021 que se encontraram pela primeira vez.

"Compramos as passagens, fomos nos conhecer e desde então não paramos mais. Nos vimos mais três vezes e já falamos: 'vamos morar juntas!', contou isa1, rindo, enquanto nat1 contava melhor a história. "A gente tinha marcado de se ver por 15 dias. Nesse tempo que ficamos juntas no Airbnb, tínhamos a ideia de ver alguns apartamentos, só que deu realmente certo e nunca mais voltamos para casa. Entramos com a burocracia e do nada tínhamos uma chave nas mãos".

Se assumindo para si mesmas e para o mundo

Se assumir LGBTQIAP+ no Brasil, país que mais mata pessoas transsexuais e que não mantém boas estatísticas sobre mortes violentas de homossexuais, não é fácil. O amor de nat1 e isa1 envolve este momento também.

"Eu não me assumi. Minha mãe leu mensagens minhas no computador. Tive um conflito interno muito grande, na época eu tinha 13 anos, passei por momentos difíceis com a minha mãe porque ela era muito importante pra mim. Foi um processo lento, demorou anos para eu mesma me aceitar porque eu não queria magoar ela e sendo lésbica eu estava fazendo isso", contou isa ao MGG Brasil.

"Tive que passar por um psicólogo e minha família era muito religiosa, ao ponto de falarem que eu tinha um demônio no corpo, então foi um processo muito dolorido para mim e para minha mãe também, mas eu a entendo. Ela tinha medo de que eu fosse muito masculina, como se isso fosse um problema, mas segui sendo a mesma pessoa e com o passar do tempo ela viu que eu não mudei. A pessoa que ela tinha criado não havia mudado em nada". Quando a jogadora completou 15 anos, sua mãe faleceu.

Anos depois, aos 19, isa se sentiu confortável para contar ao pai sobre sua orientação sexual. "Mesmo que ele já soubesse, rolaram perguntas clichês como: 'não é só uma fase?' e 'você já tentou ficar com homens?', mas depois foi de boa, ele falou que me amava independente de qualquer coisa e isso era o que eu precisava para ficar tranquila".

A história de nat é diferente e isa faz parte dela também. "Meu processo de descoberta começou um pouco mais tarde em relação à maioria das pessoas, mas acredito que tudo acontece no seu tempo. Quando eu tinha uns 21 anos, comecei a me entender e me assumi para mim e para minha família. A Isabelle teve uma participação muito grande nisso porque ela foi minha primeira namorada, a pessoa que abriu meus olhos para isso, porque quando já conversávamos, mas éramos só amigas, ela já era assumida, então a gente falava desse assunto".

Apesar de um primeiro momento ligeiramente tenso, a jogadora contou que seus pais receberam bem a notícia de que ela se entendia como uma mulher lésbica. "Como eu já era mais velha, cheguei neles, tive uma conversa e falei: 'Essa é quem eu sou' e eles até que receberam isso de maneira tranquila. Não foi um apoio 100%, porque sempre tem um choque, mas não aconteceu nenhuma situação ruim ou traumatizante como muitas pessoas passam".

Sempre brincando, isa disse que se orgulha de ter feito parte deste momento na vida de nat. "Lembro disso porque foi muito marcante para mim também. Me sinto importante nesta parte da vida dela. Éramos muito amigas antes de começar a namorar, então a gente conversava sobre isso. Eu sou um pouco mais insistente, então chegava nela e falava: 'Acho que tu é sapatão, tu não sabe, mas eu tenho certeza que tu é'. Eu tinha interesse, mas sempre respeitei. Ela sabia o que ela era ou não, mas eu deixei uma pulguinha atrás da orelha", contou a jogadora da Havan, rindo.

"Acho que muito além disso, quando ela dividia as histórias dela comigo e as coisas que ela passava enquanto éramos amigas, eram coisas com as quais eu me identificava. Quando ela foi dividindo as experiências dela, fui enxergando as coisas de maneira diferente", disse nat.

VALORANT

Amor e gameplay que são referências

Jogar em times diferentes não atrapalha o casal de maneira alguma e ambas afirmam que o profissionalismo delas nunca foi questionado. "Nunca senti julgamentos em nenhum time que passei, acho que na verdade foi uma adaptação para nós. Antes fazíamos parte do mesmo time sendo um casal. Agora estamos em times diferentes, mas morando na mesma casa. Mas sempre entenderam que meu lado pessoal é uma coisa e o profissional outra, não importa que eu namore uma rival", explicou nat.

Até mesmo a própria Riot Games já contou a história das duas. A matéria em vídeo foi transmitida no VCT Game Changers Series e apesar de ter deixado as jogadoras um pouco ansiosas, também fez elas perceberem que podem inspirar outras pessoas por aí.

"Achei muito importante a matéria que fizeram com nós a gente. Não por promover nosso relacionamento, mas porque é uma mensagem boa para todo mundo. Somos lésbicas, jogamos em times diferentes, nos respeitamos e estamos no cenário feminino e as pessoas trataram isso com normalidade. Vieram falar que se espelhavam no nosso relacionamento, é até novo para mim ser referência na comunidade, e isso é uma grande responsabilidade. Acho legal que olhem para nós e vejam que é possível ser lésbica e estar em um time competitivo ou até mesmo ter uma namorada que joga contigo e verem como é nosso profissionalismo", contou isa.

nat afirmou que ela também ficou surpresa e até um pouquinho receosa antes da matéria ser transmitida no torneio. "Era algo pessoal nosso passando para muita gente, é o meu relacionamento, bateu um medinho porque esse é o nosso trabalho. É mais fácil falar sobre Valorant, mas não tem como não se sentir uma referência. Inclusive quando fazemos stream sentimos isso também, brotam no chat falando que se inspiram em nós, já li isso algumas vezes e é uma responsabilidade, mas também é legal fazer parte disso, ter um nome que as pessoas conhecem e no qual podem se inspirar".

Além disso, ambas ressaltaram que embora, infelizmente, já tenham sofrido preconceito nos jogos por serem mulheres, nunca passaram por situações de homofobia no cenário.

"Temos lutado cada vez mais, mulheres, pessoas LGBTQIAP+, todo mundo têm lutado e conquistado cada vez mais seu espaço. Valorante é um jogo que nasceu agora, em 2020, eu acho que nada mais justo do que ele ter uma comunidade mais consciente", comentou nat1, que acredita que a comunidade do FPS da Riot é mais inclusiva por ser um retrato da sociedade atual - que ainda precisa melhorar, mas que já é mais receptiva do que as comunidades de outros jogos.

Quem perde dorme no sofá?

Como dito no início do texto, nat e isa sempre mostram um pouco do relacionamento nas redes sociais, e quem acompanha ambas sabe que duas brincadeiras sempre aparecem entre elas: o pai da isa perguntando sobre os jogos da nat e a famosa "Quem perder vai dormir no sofá".

As jogadoras moram juntas em Sorocaba, no interior de São Paulo, e apesar de terem feito isso de forma rápida, elas contam que a adaptação de ambas a rotina uma da outra foi bastante tranquila.

"Quando estamos jogando é super profissional. É até engraçado porque nos fechamos cada uma em seu quarto e antes do jogo não temos muito contato, é só um: 'Bom jogo, amor' e tchau! Se eu perco, fico meio chateada, p*** da vida, mas são coisas da vida", contou nat, que neste exato momento da entrevista, libertou a versão mais engraçada de isa. "A Natalia é uma péssima perdedora, ela fica meio brava de eu falar isso, mas ela é", rebateu a jogadora da Havan.

"Natália é horrível perdendo, ela só ganhava, então qualquer derrota realmente deixa para baixo. Eu também sou competitiva, mas tenho um lado mais tranquilo, acho que por estar no cenário sem ser Top 1. Eu sou a underdog, faço uma gracinha, ganho dela, de outros times. Mas dou o espaço dela, conheço ela, então sei quando está cara de brava. Eu sou muito palhaça, então tento meio que descontrair para ficar um clima mais de boa".

Mas nat também teve seu momento de zoar isa, que, segundo ela, grita muito jogando! "Eu de fone, com duas portas fechadas, ouço ela gritando e fico brava!", contou a pro player da Gamelanders.

Por fim, elas contaram qual é uma das coisas que mais amam assistir juntas: reality shows - porque são competitivas até fora de jogo.

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Beatriz Coutinho
Bia  - Repórter

Garota mágica formada em jornalismo que ama a sensação de assistir campeonatos e escrever sobre as histórias dos fãs de esports.

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