"Me considero uma palhaça, mas ao mesmo tempo eu sou muito na minha. Ao mesmo tempo que eu sou o que sou na internet, porque né, eu sou louca desse jeito. Às vezes as pessoas dizem que eu sou forçada e tal, mas eu realmente sou a mesma coisa" foi como Gabriela "JinkiWinkki" se descreveu.
Moradora de Aparecida, interior de São Paulo, Jinki tem 23 anos e é formada em Rádio e TV: "Sou streamer, faço palhaçada na internet e às vezes apresento também".
Influenciadora da recém anunciada organização Xisde, ela também é ex-streamer da Vorax e compõe as Garotas Mágicas ao lado de Riyuuka, Briny, Kyure e Karen Bachini. Com Jinki, damos continuidade à série de conteúdos especiais contando histórias sobre personalidades do cenário de esports.
Início e ascensão nas streams
A paulista tinha o desejo de atuar na área de comunicação, contudo, enfrentava dificuldade de conseguir trabalho no interior de São Paulo.
Gabriela começou a fazer lives enquanto fazia seu trabalho de conclusão de curso: "Eu estava fazendo TCC sobre representatividade negra no meio dos games há uns dois anos. Notei que não têm pessoas negras no meio das streams. Como eu estava começando a jogar League of Legends e estava muito viciada, comecei a pesquisar streamers negros de LoL, não achei nenhum, logo pensei que havia um problema".
"Comecei a pesquisar mais a fundo por causa do TCC, achei o Wakanda Streamers e vi que tinham mais pessoas negras que streamavam. Até aí eu só queria chegar e entrevistar as pessoas, mas, não satisfeita, quis começar a fazer streams também.
Pensei: 'Eu gosto de LoL né, tenho um notebook que parece uma torradeira mas dá para streamar'. Simplesmente comecei assim: com uma pesquisa.
Fui gostando de fazer, ficava mais de 10 horas streamando, não parava porque eu estava gostando muito, mesmo com apenas uma pessoa só assistindo. Sempre gostei muito de me mostrar para os outros, de ser palhaça, e esse ano deu muito certo."
Inspirações
Antes de começar sua pesquisa, Jinki consumia streamers LGBTQIA+ como Samira Close, Nicky Mitrava e Eu Rebeca. Teve como uma grande inspiração a Samira Close e antes de começar a fazer transmissões ao vivo não esperava que se aproximaria de Nicky Mitrava como se aproximou - hoje ambas jogam juntas.
"Sempre consumi muito esse conteúdo LGBTQIA+ - até porque sou bissexual -, e aí sempre gostei dessas palhaçadas que elas faziam, sempre focadas no humor e não na gameplay. Isso me mostrou que eu não precisava ser boa nos jogos para ser streamer."
Reconhecimento
Jinki contou para redação do MGG Brasil como foi ter estourado no cenário de jogos em tão pouco tempo: "Fui crescendo aos pouquinhos. Fui postando alguns clipes da stream no Twitter e o pessoal me achava engraçadinha e me seguia. Teve uma compilação de clipes que eu postei no Twitter que do nada explodiu e pegou muitos espectadores. Até agora eu continuo crescendo".
Com muito bom humor e demonstrando, de fato, incredulidade, Jinki não se imaginava na posição que se encontra agora, carregando mais de 23 mil seguidores no Twitter e mais de 32 mil na Twitch: "Nunca na vida eu imaginei isso. Eu fazia stream para uma pessoa - meu ex-namorado, ainda por cima - e muito do nada estourar? Pensei: 'Meu deus, o que é isso? O que está acontecendo?'. Achava que não era possível".
Hoje, Jinki se identifica muito com seu público e sempre pensa em seus espectadores na hora de produzir conteúdo: "Eu não fico só pensando em mim, em simplesmente querer jogar algo em stream e dane-se, eu sempre tento perguntar para eles também. Como a gente tem um gosto parecido de jogos, dá certo".
Uma das Garotas Mágicas
Que hoje Jinki é uma Garota Mágica não é novidade para (quase) ninguém. O grupo é composto por Karen Bachini, Riyuuka, Briny, Kyure e claro, JinkiWinki. Ela revelou - com muito humor - como foi feito o convite para se juntar a elas:
"A Briny, como sempre gosta de um suspense, me chamou na DM falando que precisava falar comigo. Avisou que era uma reunião com ela e as Garotas Mágicas, pediu meu número e marcamos a reunião para o dia seguinte. Eu simplesmente não consegui dormir, a Briny ficou com esse suspense, eu achei que tinha feito alguma coisa errada e que todas elas estavam me odiando e eu seria cancelada na Internet. Na minha mente sempre vem o pior.
Chegou no dia seguinte, estavam todas elas reunidas e parecia uma reunião do Midsommar, aquele filme de terror, pensei que eu seria esculachada. Até que a Briny falou: ‘olha Jinki, eu e as meninas gostamos muito do seu trabalho e gostaríamos que você entrasse nas Garotas Mágicas’. Eu fiquei pasma, achando que elas estavam loucas. A Riyuuka perguntou se eu estava nervosa e se precisava de dez minutos, e é claro que eu precisava."
"É muito incrível estar do lado delas, lógico que eu ainda tenho visão de fã, não como fã histérica. É uma relação próxima que a gente tem, mas eu ainda admiro muito os trabalhos delas, é incrível. Elas são muito companheiras, muito maravilhosas, sempre que uma precisa a outra está lá pra ajudar" contou ela sobre a experiência ao lado das Garotas Mágicas.
Representatividade e singularidade
Conversamos também sobre representatividade e vivências enquanto uma mulher streamer negra e bissexual. Jinki contou sobre sua criação, com seus pais dizendo que ela deveria ser três vezes melhor que uma pessoa branca, porque as coisas não seriam fáceis: "Você tem que cuidar bem cuidada, bem cheirosa, para as pessoas não terem nenhum motivo para falarem de você. Eu boto isso no meu trabalho também, até porque é algo que vem desde pequena".
Ela nos revelou que recebe muitas mensagens de meninas negras dizendo que ela é uma inspiração e que nunca tinham encontrado uma mulher negra no meio das streams antes.
"Eu sempre fico muito emotiva respondendo essas pessoas, eu nunca imaginei que eu fosse ser a representatividade que eu sempre quis, que eu queria encontrar para o meu TCC, que eu queria ter como fosse melhor".
Ao lado das Garotas Mágicas, Jinki participou da divulgação do evento Congregação das Bruxas de League of Legends, perguntamos como foi perceber que estava em um projeto da Riot Games, ao que ela respondeu:
"Há uns oito nove meses eu estava streamando em uma mesa minúscula com um notebook em cima, e agora, do nada, eu estou trabalhando com a empresa do jogo que eu amo. Hoje mesmo eu estava refletindo sobre isso, quantas pessoas negras já tiveram essa oportunidade? Mulheres negras? Talvez eu esteja sendo a primeira como streamer."
Para as meninas negras que veem em Jinki uma representatividade e uma inspiração, a paulista falou sobre uma iniciativa que pretende realizar: "Tenho um projeto em mente de chamar meninas negras, fazer um duo com uma mulher negra diferente toda semana na minha stream. Assim, vou divulgar o trabalho dela também, mas confesso que está meio estagnado porque eu estou sem tempo. Mas eu quero muito fazer isso, pelo menos até o final do ano".
Com sua personalidade sem papas na língua, deixou um recado - no mínimo - comovente:
Infelizmente, Jinki já sofreu dois ataques de bots durante suas transmissões. A primeira vez foi enquanto jogava como Convidada Mágica com as Garotas Mágicas, quando sofreu uma onda de ataques racistas: "Fiquei muito triste e me desanimou, perdi o clima de jogar com as meninas e acabei ficando lá em um clima bem ruim. São coisas que infelizmente são inevitáveis, porque apesar da sociedade estar mudando - a passos de formiga -, as pessoas ainda não aceitam".
"Tem muito racista, uma hora ou outra eu teria, infelizmente, que enfrentar isso. Mas p** no c* deles e é sobre isso" completou a streamer, sem baixar a cabeça.
Passagem em grandes organizações dos esports
Gabriela já teve passagens por grandes organizações de esports do Brasil, como a Vorax, antes de se tornar Vorax Liberty: "Como streamer da Vorax foi muito legal, a galera me tratava muito bem. Eles sempre foram muito cuidadosos comigo, sempre se preocuparam ao extremo comigo. Foi maravilhoso, a Marina Leite (Sócia e diretora da Vorax Liberty) é super carinhosa, super atenciosa e babadeira".
Com a junção com a Havan Liberty, Jinki deixou a organização. Durante a entrevista, respondeu que acabou por ser demitida simultaneamente com a decisão de se desligar da organização: "Eles juntaram com a Havan e eu fiquei 'isso aí vai contra as coisas que eu sempre militei e sempre achei certo', então eu ia me demitir. Porém com a junção eles me demitiram".
Nossa entrevista foi realizada em 13 de agosto, nela Jinki manifestou que pretendia voltar a atuar como streamer de alguma organização: "Se alguém se interessar, eu gosto de estar em organizações, é sempre muito legal".
Não apenas, contou seus desejos - que naquele momento eram futuros -, dizendo que sua vontade era entrar em uma organização grande dos esportes. Felizmente, em 23 de agosto, Jinki foi anunciada como uma das influenciadoras da Xisde, organização criada por Luiz "Jesus" Fontes e Tom Toledo.
Experiências como influencer e a nova vida de burguesa (brincadeira)
Jinki contou que sua rotina mudou drasticamente: "Antes eu não fazia nada, nem trabalhava, só estudava. Ia para a faculdade à noite e acabava. Agora eu tenho uma agenda que não me permite parar, é muito louco e muito gostoso. Sempre quis ter uma vida assim, agitada por trabalho. Tenho que ficar viajando, gravando coisas. É legal pra caral***, fico muito feliz com isso".
Já tendo participado de eventos e feito parceria com diversas marcas, a melhor experiência de Jinki cenário foi justamente a sua primeira oportunidade de trabalho, no início de 2021.
"Eu ainda não havia estourado completamente, não tinha os mesmos números que tenho agora. Foi a oportunidade de ser uma das influenciadoras do campeonato da WESG, tive que viajar para o Rio de Janeiro e eu nunca tinha viajado de avião na minha vida.
Fiquei amedrontada porque eu sou do interior né, viajar de avião não é uma realidade aqui. Estava me sentindo uma burguesa, a Ana Hickmann.
Foi uma experiência bem legal, eu nunca vou esquecer, foi meu primeiro evento presencial. Eu trabalhei com a Nyvi Estephan, o que foi mais incrível ainda. Conheci o Felipe Castanhari e vi uma galera mais famosa da internet. Pensei: 'Caramba, irei trabalhar com esse pessoal. A mulher está um luxo'."
Jinki contou sobre como se sente fazendo parcerias com diferentes marcas e literalmente resumiu em uma palavra: "chique".
Por último, mas não menos importante, Jinki deixou uma dica para aqueles que estão começando agora:
"Não desista. Vai ter gente querendo falar merda, querendo falar que você não é engraçada o suficiente ou que você joga mal. Na internet o que mais tem é gente querendo te criticar escondida por trás de fotos de anime. Não deixe isso te abalar, só vai e siga seus sonhos, não se importe com que os outros falem. Coloque o Raid Shield em sua stream para não receber ataques de bot."
Para acompanhar Jinki:
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- Contato: jinkiwinkki@gmail.com