Quando se fala da elite competitiva de Tekken 7 na América do Norte, o nome de Jeannail “Cuddle Core” Carter aparece hoje no topo. Primeira mulher a se consolidar como uma das melhores jogadoras do mundo num cenário historicamente dominado por homens e que ainda tem um longo caminho a percorrer para aumentar a participação feminina, a exemplo do que ocorre nos demais esports, Cuddle Core vem trilhando um caminho de campanhas de destaque em grandes eventos de jogos de luta desde 2016, e em 2021 chegou ao auge de sua carreira em termos de resultados e reconhecimento.
Nas finais da segunda temporada do Intercontinental Fight Club (ICFC) North America, Cuddle Core conquistou o título do circuito com um jogo de altíssimo nível com as personagens Alisa e Xiaoyu, derrotando no caminho vários dos melhores jogadores dos Estados Unidos, reconhecidamente uma das cenas mais fortes de Tekken 7 do mundo e a mais forte do ocidente. Dos oito campeonatos qualificatórios para as finais do ICFC, Cuddle Core venceu quatro deles e se classificou com o posto de cabeça de chave número 1. Por isso, o título soou como a coração de uma história cujo sucesso vem sendo plantado há mais de cinco anos.
Ascensão e consolidação no cenário competitivo
Natural da cidade de Chicago, a jogadora iniciou sua trajetória de sucesso no Tekken 7 no começo de 2016, quando ficou em terceiro lugar no Kumite in Tennesee, um dos eventos de jogos de luta mais tradicionais dos Estados Unidos. Em 2017, Cuddle Core alcançou outros três grandes resultados que lhe deram ainda mais visibilidade: o top 8 no Combo Breaker 2017, evento Major realizado no estado de Illinois que reuniu 180 competidores, o top 24 na EVO, o maior evento de jogos de luta do mundo cujo torneio de Tekken contou com 1.286 competidores, e o top 12 no Final Round, outro evento Major dos EUA realizado em Atlanta que contou com 162 inscritos.
Se 2016 e 2017 foram anos de ascensão no competitivo, 2018 marcou a consolidação de Cuddle Core como uma das principais jogadoras da cena norte-americana, com a pro player sendo vice-campeã do Frosty Faustings X, um dos eventos que inauguram a temporada competitiva dos fighting games nos EUA. Ela também ficou em quarto lugar no Kumite in Tennesee e na Canada Cup 2018, repetiu o top 24 na EVO, que desta vez contou com 1.543 competidores, e chegou ao top 16 num Combo Breaker com quase 500 participantes.
No fim daquela temporada, Cuddle Core disputou o Last Chance Qualifier para o Tekken World Tour Finals, evento que reuniu os 19 melhores jogadores ranqueados do mundo mais o campeão do qualificatório aberto. O evento reuniu 320 competidores de todas as regiões do mundo, e a jogadora de Chicago terminou na quarta posição.
Campanha histórica na EVO 2019
Em 2019, Cuddle Core abriu a temporada com um terceiro lugar no Kumite in Tennesee, fez o top 8 no Northwest Majors XI e conseguiu três grandes resultados em eventos tier 1 da Tekken World Tour: o top 12 no Combo Breaker, que contou com 627 participantes, e os top 16 no Community Effort Orlando, que reuniu quase 400 competidores, e no Summer Jam 13.
O ponto alto daquela temporada, porém, foi o top 16 na EVO 2019, cujo torneio de Tekken 7 reuniu 1.899 competidores do mundo inteiro e é considerada por muitos especialistas a melhor e mais disputada edição do evento em campeonatos da franquia. A campanha de Cuddle Core também foi a melhor participação de uma mulher na história da EVO em um torneio da série Tekken, e ficou marcada pela vitória da jogadora sobre o sul-coreano Soo-hoon "Ulsan" Lim, um dos melhores jogadores do mundo, e que tem no currículo os títulos do Damagermany 2019, do Battle Melbourne Arena 2019, um dos eventos Tier 1 da Tekken World Tour, o vice-campeonato da Tekken World Tour Finals 2019 e o quarto lugar na EVO Japão 2020.
Devido à pandemia de Covid-19 no mundo, Cuddle Core só teve a chance de disputar um campeonato presencial em 2020 - o Frosty Faustings XII - e terminou no top 12 entre os 268 participantes. No ano passado, participou de alguns poucos eventos online, mas foi após a criação da ICFC North America, já em 2021, que ela mostrou não apenas estar na elite competitiva dos Estados Unidos, como também superou nomes que eram considerados os mais fortes do país até então, como Joey Fury, Shadow 20z, Joonya 20z, Binchang, Obscure e Spero Gin, entre outros nomes de destaque da cena.
Nas finais da primeira temporada do Intercontinental Fight Club, Cuddle Core bateu na trave e ficou com o vice-campeonato, após ser derrotada por 3 a 2 por Joey Fury na grande final. Na segunda temporada, porém, a jogadora elevou seu nível ao ápice e chegou às finais do circuito como grande favorita ao título, pois liderou a fase classificatória de ponta a ponta com seus quatro títulos em oito etapas. Na grande decisão das finais do circuito, superou Shadow 20z por 3 a 1 e se sagrou campeã do principal circuito online dos EUA hoje. Na terceira temporada, que já está em andamento, Cuddle Core disputou duas etapas até o momento, conquistando o título da segunda e ficando em nono lugar na terceira.
*Atualização em 02/09/2021 - Após vencer três etapas da terceira temporada do Intercontinental Fight Club North America, Cuddle Core avançou às finais do circuito com a segunda maior pontuação entre os oito classificados. No torneio que definiu o título da temporada, a americana garantiu o bicampeonato das finais do ICFC NA, superando os jogadores Mak, Binchang e Joey Fury no caminho até o título. Agora, dos três circuitos disputados em 2021, Cuddle Core foi a grande campeã em dois deles.
A meta de inspirar outras mulheres negras nos esports
Como competidora, Cuddle Core se consolidou na elite do Tekken 7 nos Estados Unidos, que conta com a cena mais forte do ocidente e hoje está atrás apenas de países como Paquistão, Coreia do Sul e Japão. Para a jogadora de Chicago, porém, seu título nas finais no ICFC North America e as grandes campanhas na EVO e outros eventos Tier 1 da Tekken World Tour possuem um significado ainda maior: ser um modelo e uma inspiração para outras mulheres negras nos esports. Em um meio no qual historicamente essa representatividade é mínima, Cuddle considera que seus resultados têm o poder de inspirar outras jogadoras.
“Me sinto bem (em ser um modelo para outras pessoas). Bate de um jeito um pouco diferente quando uma garota diz isso. Fico honrada e me sinto grata por ser isso para outras pessoas, assim como meus pais foram para mim, pois nós merecemos nos ver nos espaços que queremos prosperar. Quando estive em painéis falando sobre mulheres nos esports, ou quando falei sobre o Mês da História Negra na Riot, essas são conversas que precisam acontecer. De todos os top players (de jogos de luta), sou a única mulher negra, então vamos discutir uma solução para isso e ver o que as outras pessoas podem fazer”, disse Cuddle Core em entrevista recente ao site da Red Bull.
Além de uma competidora de alto nível no Tekken 7 americano, Cuddle Core é uma das principais streamers de jogos de luta hoje no mundo, ao lado da francesa Marie-Laure "Kayane" Norindr, jogadora que fez história na cena competitiva de Soul Calibur VI ao conquistar o título do Celtic Throwdown 2019 e chegar ao top 8 da EVO 2019. Ciente da importância de seu papel para inspirar o surgimento de outras jogadoras que possam trilhar uma carreira competitiva de sucesso, ela planeja se manter na FGC por muito tempo, mas sem abdicar de outros projetos.
“Para os próximos anos eu pretendo continuar expandindo minha marca, fechando acordos com empresas maiores enquanto continuo sendo uma jogadora profissional. Quero diversificar o que estou fazendo, seja treinando, ensinando, falando publicamente e dando mais da minha expertise à comunidade, mas também sendo financeiramente estável ao fazer tudo isso”, projeta.
Ao ser perguntada sobre que conselho daria para uma versão mais jovem de si mesma, a jogadora de 26 anos mostra maturidade ao não colocar pressão demais sobre os próprios ombros e saber aproveitar tudo que conquistou até o momento, seja como uma competidora de elite ou como um modelo para outras mulheres e pessoas negras nos esports.
“Para a minha versão do nono ano do colegial, eu diria: ‘Ser quem você é já é mais do que suficiente. Está tudo bem em não ser uma pessoa extremamente aberta, fazer as coisas no seu próprio tempo, pois você será uma pessoa incrível, e você já é’”, conclui.