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Opinião: Nível atual do CS:GO brasileiro está longe do topo, mas futuro é promissor

Opinião: Nível atual do CS:GO brasileiro está longe do topo, mas futuro é promissor
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Após temporadas mágicas em 2016 e 2017, país vive seca de títulos do tier 1 mundial, mas cenário pode mudar em médio e longo prazo

Opinião: Nível atual do CS:GO brasileiro está longe do topo, mas futuro é promissor

Os anos de 2016 e 2017 foram mágicos para o Brasil no Counter-Strike: Global Offensive. Dez anos após a MIBR conquistar a ESWC 2006, ainda nos tempos de CS 1.6, o país voltaria ao topo do mundo no FPS da Valve, com a Luminosity Gaming e Gabriel "Fallen" Toledo, Fernando "Fer" Alvarenga, Marcelo "Coldzera" David, Epitácio "TACO" de Melo, Lincoln "fnx" Lau e o técnico Wilton "zews" Prado faturando o Major da MLG Columbus 2016, disputada entre março e abril daquele ano.

O feito não se resumiu a um campeonato mágico, e cerca de um mês depois o quinteto brasileiro confirmo que era o melhor time do mundo ao vencer a ESL Pro League Season 3 Finals, campeonato que, apesar de não contar com o status de Major, também reunia os melhores times do mundo naquele momento. Em julho daquele mesmo ano, agora já com a camisa da SK Gaming, Fallen, Coldzera e companhia confirmaram por que eram a equipe a ser batida e levaram o segundo Major do ano: a ESL One Cologne 2016.

No ano seguinte, com fnx sendo substituído por João "Felps" Vasconcellos e, posteriormente, Ricardo "Boltz" Prass, a SK não conquistou os Majors disputados naquela temporada, mas empilhou troféus de eventos Tier 1 do CS:GO mundial - como a Intel Extreme Masters XII: Sydney, Esports Championship Series Season 3 Finals, ESL One Cologne 2017, EPICENTER 2017 e ESL Pro League Season 3 Finals, além de torneios como o cs_summit 1 e BLAST Pro Series Copenhagen 2017 - e terminou a temporada como time número 1 do mundo no ranking da HLTV.

Após aquelas duas temporadas fantásticas, porém, o Brasil nunca mais voltou a conquistar um grande título do cenário internacional de CS:GO. E embora o Brasil tenha hoje várias line-ups promissoras - inclusive com a FURIA, melhor time brasileiro no cenário internacional hoje - fazendo algumas ótimas participações em grandes torneios, é preciso encarar o fato de que o CS:GO brasileiro está longe do topo mundial.

Esta é uma realidade que pode mudar em médio e longo prazo, mas quando se faz um recorte de nossas melhoras participações nos principais torneios do mundo de 2018 para cá, o número de destaques do nosso país tem minguado. E as poucas boas colocações que tivemos foram justamente com a base do time que chegou ao topo do mundo entre 2016 e 2017 e, mais recentemente, com a própria FURIA. Justamente por isso, é preciso ter a noção do real nível do CS:GO brasileiro hoje, que está longe de ser fraco, mas ainda precisa evoluir consideravelmente para almejar o topo do mundo novamente.

Fim da era de ouro

SK Gaming comemora título da ESL One Cologne 2016 (Foto: ESL) - Counter-Strike: Global Offensive
SK Gaming comemora título da ESL One Cologne 2016 (Foto: ESL)

Em 2018, primeira temporada da seca de grandes títulos, a SK Gaming de Fallen, Fer, Coldzera, TACO e Felps chegou às semifinais da ELEAGUE Major Boston. Depois daquele torneio, a única participação de um time brasileiro no top 4 de um grande evento internacional foi justamente em um outro Major, desta vez com a MIBR na FACEIT Major 2018. Naquele mundial, inclusive, Fallen, Fer e Coldzera já estavam jogando com dois americanos: Jacky "Stewie2K" Yip e Tarik "Tarik" Celik, campeões do Major de Boston no começo daquele ano pela Cloud9. Além disso, aquele line-up de nacionalidades mistas da MIBR era comandada por um técnico também estrangeiro, o sérvio Janko "YNk" Paunović.

A escolha de Fallen, Fer e Coldzera por uma line-up mista desagradou parte da torcida na época, que chegou a ironizar o nome da Made in Brazil ter dois americanos jogando pela tag e um técnico sérvio, mas aquela formação foi a que apresentou os melhores resultados da MIBR desde que a tag voltou ao CS:GO.

É fato que o único título conquistado com Stewie2k, Tarik e YNK foi a ZOTAC Cup Masters, um torneio Tier 2, mas aquela line conquistou alguns resultados expressivos nos poucos meses que esteve junta, como os vice-campeonatos da BLAST Pro Series Istambul 2018 e na Esports Championship Series 2018 e um top 4 na ESL Pro League Season 8 - Finals. A falta de títulos Tier 1 e os problemas de comunicação em inglês acabaram pesando, e a MIBR no começo de 2019 anunciou as contratações de TACO, Felps e Zews como técnico da equipe, que voltava a ser 100% brasileira.

O começo da nova line foi promissor, com MIBR caindo apenas nas semifinais do Major da Intel Extreme Masters XIII - Katowice 2019. Na sequência da temporada, a equipe ainda conseguiria mais um top 4 num evento Tier 1, a Intel Extreme Masters XIV - Sydney, mas após um top 8 na ESL Pro League Season 9 - Finals, Felps foi movido para o banco de reservas da organização em junho de 2019, e em julho Coldzera seguiu o mesmo caminho após manifestar seu desejo de deixar a equipe.

A partir daquele momento, o declínio da MIBR enquanto time só ficaria mais evidente e as mudanças de line-up seriam cada vez mais constantes. Embora Fallen, Fer, TACO e Vito "kNg" Giuseppe tenham permanecido juntos até a dispensa de Fer e TACO e Fallen pedir para ser movido para o banco de reservas, em setembro de 2020, as mudanças no quinto jogador do time foram constantes, com Lucas "LUCAS1" Teles, Ignacio "meyern" Meyer e Alencar "trk" Rossato ocupando esta vaga no intervalo de menos de um ano. Contudo, ao mesmo tempo que 2019 marcava o declínio da MIBR, uma outra equipe brasileira iniciava sua ascensão internacional.

O crescimento da FURIA

FURIA iniciou sua ascensão na cena internacional em 2019 - Counter-Strike: Global Offensive
FURIA iniciou sua ascensão na cena internacional em 2019

Após uma ascensão meteórica no cenário brasileiro no ano de 2018, a FURIA, equipe na época formada por Andrei "Art" Piovezan, Yuri "Yuurih" Gomes, Kaike "KSCERATO" Cerato, Vinícius "VINI" Figueiredo e Rinaldo "ableJ" Moda, embarcou no começo de 2019 para os Estados Unidos com um objetivo: disputar as principais competições internacionais de CS:GO e conseguir vaga nos Majors

Com um time formado por jogadores considerados promissores no Brasil, caso principalmente de KSCERATO e Yuurih, mas completamente desconhecidos no exterior, a FURIA começou a se destacar em eventos menores na América do Norte e rapidamente começou a fazer barulho em eventos Tier 1 no CS:GO.

A primeira participação de destaque da equipe foi na DreamHack Masters Dallas 2019, torneio no qual a FURIA caiu apenas nas semifinais e derrotou equipes como NRG, Fnatic e Team Vitality de ZywOo, que naquela temporada seria eleito o melhor jogador do mundo de CS:GO, antes de finalmente cair para a Team Liquid, vice-líder do ranking mundial da HLTV na ocasião

A boa participação na DreamHack Masters Dallas não foi apenas um golpe de sorte da equipe, que logo na sequência conquistaria o vice-campeonato da Esports Championship Series Season 7 - Finals, perdendo para a Vitality na grande decisão. O grande feito da FURIA naquele torneio, porém, foi ter derrotado duas vezes a toda poderosa Astralis, dona de três Majors e principal favorita ao título do torneio. Os dinamarqueses, no entanto, acabaram sendo eliminados pelos brasileiros e caíram na fase grupos.

Naquela temporada, a FURIA ainda conseguiria por duas vezes passar pelo Minor das Américas e disputou os dois Majors da temporada: a IEM Katowice e a StarLadder Berlim, mas acabou caindo ainda na primeira fase do torneio. Em outubro daquele ano, já com Henrique "HEN1" Teles no lugar de ableJ, a FURIA conseguiria mais um resultado expressivo em um grande torneio: o terceiro lugar na StarSeries & i-League Seson 8, disputada na Turquia. No caminho até o terceiro lugar, a FURIA passou por times como Team Vitality, G2 e Renegades antes de finalmente cair para a Fnatic em um confronto dramático.

Em 2020, devido à pandemia de Covid-19, a FURIA passou quase toda a temporada jogando torneios online na América do Norte, e se consolidou como time mais forte da região com os títulos das edições regionais da DreamHack Masters Spring 2020, DreamHack Open Summer 2020, ESL Pro League Season 12: North America e Intel Extreme Masters XV.

No fim da temporada 2020, o time viajou à Europa para enfrentar as melhores equipes da região, e seu melhor resultado foi um top 4 na DreamHack Masters Winter: Europe. Na campanha até as semifinais, a FURIA superou North, G2 e Complexity, antes de finalmente cair para a Astralis. No fim da temporada, a equipe teve três jogadores aparecendo no top 20 de melhores jogadores do mundo segundo a HLTV: KSCERATO (18º), HEN1 (16º) e Yuurih (14º). Além disso, a equipe chegou a alcançar a terceira colocação no ranking mundial da HLTV, em outubro de 2020.

No começo da temporada de 2021, porém, a FURIA precisou passar por uma mudança: HEN1 pediu para deixar a organização para voltar a jogar ao lado do irmão gêmeo LUCAS1 em O Plano. A organização optou então por contratar do AWPer americnao Paytyn "Junior" Johnson, ex-Triumph, e mudou toda a comunicação da equipe para inglês.

Em sua empreitada pela Europa, a FURIA conseguiu algumas boas participações em torneios internacionais, com destaque principalmente para o top 4 na ESL Pro League Season 3, torneio no qual a equipe brasileira venceu adversários como Natus Vincere, FunPlus Phoenix, G2 e Astralis, antes de finalmente cair para a Gambit nas semifinais. A organização ainda alcançou o top 6 na DreamHack Masters Spring 2021 e um top 8 na Intel Extreme Masters XV - World Championship, e atualmente retornou à América do Norte para disputar os eventos RMR.

Ainda que seja o time brasileiro que tem apresentado os melhores resultados em eventos internacionais e mostre hoje ser a equipe do país mais capaz de vencer as principais equipes de CS:GO do mundo, a FURIA ainda não conseguiu subir os últimos degraus para alcançar o topo. A equipe demonstra oscilações, que são naturais para um time que perdeu um de seus principais jogadores há poucos meses, e ainda tenta se adaptar à comunicação em inglês com Junior. Mas é fato que apesar das boas campanhas faltam grandes títulos internacionais que consolidem a FURIA no topo no CS:GO mundial, embora o time esteja bem mais próximo disso do que qualquer outro brasileiro.

As demais equipes promissoras do Brasil

Pouco alardeada no Brasi, Pain tem apresentado crescimento constante na América do Norte - Counter-Strike: Global Offensive
Pouco alardeada no Brasi, Pain tem apresentado crescimento constante na América do Norte

Enquanto a FURIA está consolidada como principal força do Brasil no CS:GO mundial, embora ela própria ainda precise de evolução e maior regularidade para mirar o topo do mundo, algumas outras equipes do país almejam hoje se consolidar como times de nível internacional.

Exemplos disso são O Plano, equipe formada por kNg, LUCAS1, HEN1, vSm e leo_drk e que já nasceu com uma enorme torcida; GODSENT, projeto liderado pelos experientes TACO e Felps e que aposta também nos jovens talentos Latto, B4rtin e Dumau; MIBR, que contratou no começo do ano a base de line-up que dominou o CS:GO brasileiro em 2020 e conta com Boltz, Chelo, Yel, shz e Exit; e Pain Gaming, que mesmo sem ter os mesmos holofotes ou das outras três, tem apresentado com PKL, Biguzera, Hardzao, NEKIZ e Saffee enorme consistência de resultados na América do Norte.

É inegável que todas essas equipes contam com vários dos principais talentos do CS:GO brasileiro e podem, em médio e longo prazo, alcançar resultados expressivos em grandes torneios internacionais, como a FURIA faz hoje, mas é preciso ter cautela para não atropelar passos que são necessários para a consolidação de cada uma.

Fazer alguns jogos duros contra equipes consolidadas no Tier 1 global é diferente de ser uma equipe da elite do CS:GO mundial, e nenhuma dessas quatro equipes parece de fato pronta para, por exemplo, alcançar o top 4 de um evento do porte de uma ESL Pro League, um torneio no qual todos os melhores times do mundo estão e é preciso vencer vários deles para ir longe.

Peguemos o exemplo d'O Plano em seus primeiros torneios. Ainda que tenha uma line-up de enorme talento, a equipe de kNg tem acumulado derrotas para equipes que estão longe do Tier 1 mundial, casos da Extra Salt no qualificatório fechado do cs_summit 8, da própria Pain Gaming, na chave principal do torneio. Após uma estreia avassaladora contra a FURIA na chave principal do cs_summit 8, kNg e companhia perderam em mapas diretos para Pain e FURIA e estão hoje na chave inferior do evento RMR, e mais uma derrota significa adeus à briga pelo título.

O mesmo se aplica à GODSENT. Desde que a line-up foi formada a equipe disputou apenas eventos Tier 2 e Tier 3 na Europa, como a Snow Sweet Snow, Pinnacle Cup e BLAST Nordic Masters 2021, passando longe da briga pelo título em todos eles. Ao viajar para a América do Norte e tentar uma vaga na chave principal do cs_summit 8, a equipe acabou caindo ainda no qualificatório fechado e viu suas chances de disputar o Major de Estocolmo ficarem muito distantes.

A MIBR, por sua vez, passou os primeiros meses do ano disputando torneios internacionais como a cs_summit 7, Intel Extreme Masters XV, Snow Sweet Snow 2, ESL Pro League Season 13 e BLAST Premier Spring Showdown 2021, e em nenhum deles teve uma campanha expressiva. Mesmo com a base da line que dominou o CS brasileiro em 2020, as participações em torneios fora do país mostraram que a Made in Brazil ainda tem um longo caminho a percorrer para almejar grandes resultados fora do país. No Brasil, porém, a equipe mostrou que ainda é muito forte e venceu a CBCS Elite League, evento RMR da América do Sul. Justamente por isso, é uma forte candidata a representar o país no Major de Estocolmo.

A Pain Gaming, por sua vez, tem algo a seu favor na comparação com O Plano, GODSENT e MIBR: o fato de ser subestimada pela própria torcida brasileira. Embora venha apresentando bons resultados em campeonatos na América do Norte, ainda que num período em que as equipes mais fortes da região estavam na Europa, a equipe liderada por PKL passou invicta pelo qualificatório fechado do cs_summit 8.

Na chave principal do evento RMR, derrotou Evil Geniuses e O Plano e avançou aos playoffs da competição com o primeiro lugar do grupo A. Em sua única grande competição internacional no ano, porém, a Pain acabou sendo eliminada com duas derrotas em dois jogos na DreamHack Masters Spring 2021, para Heroic e FURIA, respectivamente. Embora a equipe esteja apresentando um crescimento constante, almejar voos mais altos em eventos Tier 1 ainda requer tempo. Por ora, a consolidação como um dos principais times do cenário NA é o primeiro passo nessa direção.

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Gabriel Sales

Jornalista apaixonado por games desde o jardim de infância e fã de quase todo tipo de RPG, especialmente os da série Chrono. Nos esports, shooters e jogos de luta são minhas maiores paixões, mas abraço qualquer jogo com uma cena competitiva pulsante.

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