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Luciana Nunes, a psicóloga e sexta jogadora da Pain Gaming

Luciana Nunes, a psicóloga e sexta jogadora da Pain Gaming
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A profissional está com a line-up de LoL da organização na Islândia para acompanhar Robo, Cariok, Tinowns, brTT e Luci durante o MSI 2021

“Eu trabalho de uma forma muito atípica”, diz Luciana no início da entrevista. “A verdade é que nem toda organização consegue me aturar. Eu sei disso. Eu sou uma pessoa intensa. Não tenho medo de tomar decisões”. De fato, ao longo do 1º split do CBLOL 2021 Luciana tomou decisões que levaram a paiN até a grande final do torneio, e, consequentemente, ao MSI 2021

Em entrevista exclusiva ao MGG Brasil, a psicóloga da paiN contou como foi trabalhar com o time formado por Leonardo "Robo" Souza, Marcos "Cariok" Santos, Thiago "Tinowns" Sartori, Felipe "brTT" Gonçalves e Han "Luci" Chang-hoon durante a primeira etapa do Campeonato Brasileiro de League of Legends, na qual a equipe foi de aposta a decepção, até evoluir e mostrar que experiência e resiliência ganhariam um CBLOL.

“Tudo o que a Luciana toca vira ouro”

Foi depois das Olimpíadas de 2016 que Luciana começou a trabalhar com esports. Depois de fazer um trabalho pontual com um jogador de FIFA, ela encontrou na última geração da Luminosity de Counter-Strike: Global Offensive a sua maior porta de entrada para os esportes eletrônicos.

Depois que a LG acabou, a Imperial contratou a psicóloga e, por lá, ela fez uma campanha invicta. “O pessoal fala ‘Ah qual é a sua estratégia?’. Minha estratégia é ganhar tudo! Pode estar minha mãe do outro lado, eu vou querer ganhar”. Mas ela faz questão de ressaltar que vontade de ganhar não é o suficiente.

“Meu trabalho é voltado para alto desempenho, eu só trabalho bem com mega jogadores. Por isso não posso levar crédito. O pessoal fala ‘Ah tudo o que a Luciana toca vira ouro’. Não é isso, é que sei escolher bem os jogadores, entendo o impacto que tenho, mas esse impacto só vai ser grande se o jogador for bom. Eu não vou fazer um jogador mediano ganhar campeonato, não tenho essa capacidade."

Quando mal havia deixado a Imperial, Luciana conta rindo que Bruno “bruno” Ono, técnico de CS:GO da paiN, entrou em contato com ela. “Ele disse ‘Lu você já está negociando com alguém?’ e eu ri, porque tinha acabado de me demitir, minha cadeira na Imperial nem tinha esfriado ainda”. A psicóloga chegou à paiN em outubro - sete meses depois disso, a equipe chegou ao Top 30 times segundo a HLTV.

“Não tenho interesse em ganhar campeonato nacional, quero saber se vocês querem ir para o MSI”

Lá em outubro de 2020, pouco tempo depois da paiN perder a final do 2º split do CBLOL para a INTZ, o manager de LoL da organização, Erick “Erickão” Cardoso, também entrou em contato com Luciana. Na correria do dia a dia, eles pularam as apresentações formais e a psicóloga acreditou que o contato estava sendo feito para acertar os detalhes de seu contrato com a paiN.

“Fiquei falando de CS com ele, mas quando o Erick se apresentou, disse que era manager da equipe de LoL e aí eu fiz jogo duro. Falei para ele: ‘LoL não é a minha praia não. Os garotos do CS estão me dando trabalho, não sei se consigo pegar LoL também’”. Depois que a paiN anunciou a troca de esA por Luci para o 1º split de 2021, Luciana cogitou mudar de ideia e realizou uma entrevista com o então head coach Nova e outra com brTT.

“O Nova adorou a ideia, mas antes de falar com brTT, pensei: ‘Se ele disser que não dá para eu entrar, eu não vou entrar”. Ele tem essa capacidade de decisão, é um líder, uma referência. Então se ele falasse ‘Olha, vai chegar uma maluca aí’, beleza, mas se ele falasse ‘não estou afim de trabalhar com psicóloga’, aí não ia dar certo, mas ele adorou e falamos ‘Vamos nessa’”.

Mas a conversa não terminou ali, porque Luciana tinha uma única condição para impor naquele time. “Eu falei para ele: ‘Não tenho interesse em ganhar campeonato nacional. Eu quero saber se vocês querem ir para o MSI. Se vocês quiserem, a gente senta, treina e vai’. E era lógico que ele queria, né? Ele quer ganhar tudo”.

Por cuidar de outras line-ups da paiN, Luciana entrou atrasada no time de LoL. “Depois do segundo fim de semana de CBLOL, eu falei para o Erick: ‘Ou eu entro agora, ou esperamos o próximo split’. E aí entrei com todo mundo na merda, redes sociais explodindo e pensei: ‘Que maravilha, como seria bom ter começado direito’”, contou a psicóloga, extremamente enérgica, aos risos.

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“Esse sucesso não é só meu. É a nossa mistura, o nosso grupo que deu certo”

Foi em 8 de fevereiro que Luciana passou a acompanhar o dia a dia da equipe de LoL da paiN. Até aquele momento, o time havia vencido apenas três das oito partidas que tinha disputado. Depois da entrada da psicóloga, Robo, Cariok, Tinowns, brTT e Luci venceram oito das dez partidas que disputaram durante a Fase Regular do CBLOL.

As primeiras entrevistas coletivas da paiN resultaram em falas como: “Nos treinos já vimos que não estávamos tão preparados”, “Está feio”, “Nos cobramos mais do que ninguém”, enquanto as últimas - da Fase Regular - mostravam outros jogadores, jogadores que falavam sobre um time se encontrando, sobre evoluir para os playoffs e sobre a importância de vencer grandes equipes.

E se engana quem pensa que somente os jogadores estavam nervosos no começo do split. “É tudo esport, mas cada modalidade tem suas próprias características. A forma como eu preparo um jogador de CS é diferente da forma que faço no LoL. Esse era meu receio, será que vou conseguir ser boa no LoL como sou boa no CS? E eu fiquei meio receosa, pensando ‘Será que fico só na minha bolha?’”.

Outra possível percepção do público do CBLOL sobre psicólogos é que eles são calmos, tranquilos, com voz serena e jeito manso. Surpreendendo até mesmo a escritora deste texto, Luciana é o contrário de tudo isso. Enérgica, alegre e confiante, ela se apresenta ora como uma parceira dos jogadores, ora como “bruxa má do leste”.

“O pessoal ouve psicóloga e já assusta. Eu sei quem eu sou e para eles o importante é entender o meu impacto. O nome psicologia dá a sensação de psicologia clínica. A única coisa que tem de igual entre ela e a esportiva é o sigilo, mas a minha postura é totalmente diferente da postura de um psicólogo clínico. Nos esportes eu não sou um terceiro imparcial, como na clínica, eu opino, falo, eles me contestam, eu contesto eles. Por isso eu digo que o sucesso não é só meu, é a nossa mistura, o nosso grupo que deu certo”.

Luciana afirma que os jogadores precisam que ela seja enérgica. “Claro que quanto menos eu estiver presente melhor, porque isso significa que o jogador consegue ser autônomo. Mas na hora da cabeça quente, em uma final de CBLOL, ter uma psicóloga ao lado tem impacto. Disso eu não tenho a menor dúvida. Agora, não basta colocar um psicólogo que a equipe vai sair do buraco”, ressalta Luciana, mostrando que parte da torcida do CBLOL acredita em resultados imediatos e em equipes perfeitas só porque possuem psicólogos - não é bem assim que funciona.

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“Não joguei pó mágico para eles se transformarem em outros jogadores, eles simplesmente jogaram como são”

Durante a entrevista coletiva da paiN após a vitória contra a LOUD por 3 a 2 nas quartas de final, Robo disse que o time levou um “sacode” de Luciana depois do segundo jogo. "Isso foi muito bom porque ela nos ajudou demais na nossa evolução e, no momento em que mais precisávamos, ela viu que não estávamos jogando o que podíamos”.

Rindo, Luciana agradece a Riot por não ter divulgado o áudio de sua bronca. “Sabe aquelas coisas que o pessoal fala? Os áudios entre as partidas? Eu já avisei eles que não quero que coloque nada do que falei. Foi meu primeiro CBLOL, eu não sabia até que ponto podia ir, porque respeito muito o espaço dos jogadores. Eles já vieram prontos para mim, não são meu jogadores. Então eu não sabia qual era o meu limite”.

Ela conta que naquele primeiro jogo contra a LOUD os jogadores estavam “treinadíssimos” e que ela estava muito confiante. Mas até o reverse sweep da paiN - o primeiro da história do CBLOL - tinha uma bronca no caminho.

“Quando começou a série, eu até pensei ‘o que vier tá bom’, mas eu não consigo ser assim. Aí o primeiro mapa eles perderam feio. Quando perderam o segundo, eu falei F***-**! Eu cheguei na sala e eles conheceram exatamente quem é a bruxa má do leste. Foi tanto esporro. Eu passei por todo mundo. Falei para jogarmos na zona de conforto e disse ‘Robo, qual é o champion que você quer? Vamos jogar para o Robo’. E porque eu falei dele? Entre todos eles, ele era o que não estava tão zuretado, tiltado. E quando ele tomou a responsabilidade, ele puxou o dele e isso é muito complicado diante de um 2 a 0."

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Só então o reverse sweep veio. “Eu nem sabia que isso nunca tinha acontecido na história do CBLOL. Eu viro jogo toda vez no CS. Você acorda todo dia e tem a chance de se reinventar, mas você acorda a mesma pessoa, todo dia, na sua essência. Naquele dia eu acordei quem eles eram. Não joguei pó mágico para eles se transformarem em outros jogadores, eles simplesmente jogaram como eles são. Eles ganharam o terceiro mapa, discutimos mais no quarto jogo e no quinto eles jogaram sozinhos, se encontraram. Eu fiz um gráfico para mostrar a evolução deles. De dez, ganharam oito - porque a merda que fizeram antes da minha chegada não é culpa minha”, diz Luciana às gargalhadas, antes de acrescentar: “No último mapa eu estava lá só de bonita”.

Das quartas de final em diante, a história é simples. Sim, a semifinal entre paiN e Flamengo teve cinco jogos, foi difícil, mas eles venceram. Na grande decisão, poucos apostaram neles e no início pareceu que ia dar Vorax. A paiN perdeu o primeiro jogo da final de tal forma que parecia que o fantasma do 2º split de 2020 pairava no ar.

“Eu falei para eles que só descansaríamos quando tivéssemos três mapas. Precisávamos entrar no jogo de maneira séria e com muita inteligência. Depois foi só festa. No último jogo eu falei ‘Dá a Zoe para o Tin, desde o começo o cara quer jogar com esse champion’. Eu sei que eu trabalho sério, sei que exijo muito, mas é jogo, precisa ser divertido. Por isso eu adoro o Robo, eu amo o jeito troll que ele tem, jamais tiraria isso dele e nem sei se poderia, porque é algo da essência dele - mas é uma trollada que precisa ser inteligente."

E a paiN foi campeã do 1º split do CBLOL 2021. (Nem tão) simples assim.

“Para mim, nada é impossível”

Já no fim da entrevista, Luciana comentou sobre como foi o seu próprio processo dentro da jornada da paiN. A esta altura do campeonato, após relembrar mais que um split inteiro, ela seguia rindo.

“Eu trabalho com os jogadores, mas faço a mesma coisa pra mim. Eu trabalho com os objetivos dos players, porque não posso querer mais do que eles. Eles têm que querer o título mais do que eu. Foi tudo tão rápido e eles responderam tão bem desde o início. Eu trabalho nisso há muito tempo, essa jornada parece nova para todo mundo, mas para mim não é. Reverse sweep? Eu faço isso toda hora. Faço comebacks o tempo todo. Para mim, nada é impossível, a não ser quando perdemos as chances matemáticas."

E ela não mede as palavras para falar de seus jogadores. “Eles são ótimos. Foi uma coisa divertida, para falar a verdade. Foi louco, intenso, mas eu tinha muita certeza do que eu estava fazendo e eles confiaram e acreditaram no processo. E foi bom. São cinco jogadores super legais. Já sabia que eles eram bons, mas olhando nas internas eles são muito melhores do que eu achava, a equipe técnica toda também”.

Psicólogos também sentem ansiedade - seja ela boa ou ruim. Quando questionada sobre estar ou não ansiosa para o MSI 2021, torneio internacional no qual a paiN representará o Brasil, Luciana está mais que tranquila. “Agora eu estou em casa. Campeonato internacional é a minha praia”.

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MSI 2021

Luciana está em Reykjavík, na Islândia, junto de todos os jogadores da paiN, do técnico João Pedro “Dionrray” Barbosa, do consultor Sin “Xero” Hyeok e do manager Erick “Erickão” Cardoso. A equipe está no grupo B do MSI 2021 e estreia em 6 de maio, às 14h, jogando contra a equipe turca Istanbul Wildcats. Confira aqui o calendário completo do MSI 2021 e acompanhe também o elo dos jogadores da paiN no servidor europeu.

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Beatriz Coutinho
Bia  - Repórter

Garota mágica formada em jornalismo que ama a sensação de assistir campeonatos e escrever sobre as histórias dos fãs de esports.

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