“Mono Garen e pai do Cariok top 1 e da ju melhor mid e da lolo melhor espectadora e marido da Fefe melhor mãe”. A biografia de Marcos Oliveira no Twitter diz muito sobre o quanto sua família é importante e pouco sobre ele. Muito além de mono Garen, ele é um pai dedicado, que sabe deixar seus filhos voarem longe e que se tornou uma figura da comunidade brasileira de League of Legends: o Pairiok.
O LoL e a família Oliveira
Engana-se quem pensa que o LoLzinho entrou na vida da família Oliveira pelas mãos de Marcos "CarioK" Santos de Oliveira Junior, caçador da paiN Gaming desde o início do 2º split do Campeonato Brasileiro, também conhecido como CBLoL.
Em 2013, foi a irmã de Cariok, Juliana, quem apresentou o jogo à família. Rapidamente ela, o pai e o irmão estavam se divertindo. “Começamos a jogar entre nós, jogávamos personalizada, mas aí eles foram avançando e eu continuei no meu joguinho mesmo”, conta o senhor Marcos, de 49 anos, que eventualmente se aventurou pelas filas ranqueadas.
No entanto, a paixão de Marcos por videogames é mais antiga. “Na minha adolescência, eu não saía dos fliperamas! Aí quando casei e tive meus filhos, comecei a jogar em console, né? Xbox, PlayStation e depois no PC também”.
Jogadores conhecidos como “mono champions”, aqueles que jogam com apenas um campeão do LoL, geralmente são satirizados pela comunidade, mas qualquer um que conhece Marcos seria incapaz de criticá-lo por isso. Mono Garen com orgulho desde 2013, ele sabe que seu personagem preferido é odiado entre a comunidade e conta que já tentou largar dele. “Ainda arrisquei um Darius, um Renekton, mas me saí melhor de Garen mesmo, é mais fácil”, confessa.
“Eu pensei ‘ele tem futuro nisso aí se ele investir’, mas só pensei, nem falei nada com ele”
Diferente dos filhos, Marcos precisava trabalhar e não podia passar o dia inteiro jogando LoL.
“Eu jogava, mas sabia meu limite, jamais poderia jogar até duas, três horas da manhã, eu precisava descansar. Quando eu saía para trabalhar o Cariok estava jogando. Às vezes era quatro, cinco horas da manhã e eu falava ‘Cara, você tem que ir para a escola’ e ele respondia ‘Não pai, tá tranquilo, eu dei uma cochilada’. Não sei se era verdade, ele falava que sim, mas eu acho que ele ficava jogando direto”, conta Marcos, rindo.
Segundo o pai, Cariok sempre foi muito focado. Ele ia à escola, voltava com lições de casa já feitas, entrava no quarto e já abria o LoL. “Eu até falava ‘Acho que isso vai te fazer mal, cara'. Porque para mim era só um jogo, eu não conhecia o CBLoL, nem o Circuito Desafiante, nada disso”, mas isso mudaria rápido e pai e filho conheceriam o universo do competitivo muito em breve.
“Um dia ele falou que tinha se inscrito em um torneio lá em São Gonçalo e aí fui levar ele lá, junto com a minha filha. Ele se inscreveu com mais quatro amigos e eles se encontraram lá. Quando chegamos, todo mundo conhecia ele das filas ranqueadas. Todo mundo falava ‘Aquele é o Cariok, aquele ali é o Cariok’, e eu comecei a gostar daquilo. Eles ganharam o torneio disparados e eu pensei ‘Ele tem futuro nisso aí se ele investir’, mas só pensei, nem falei nada com ele”.
Ao M.GG, Marcos confessou que após a volta para casa, a rotina da família continuou normal. O que ele não sabia, mas estava prestes a descobrir, é que pouco tempo depois Cariok e alguns amigos disputaram a qualificatória de acesso ao Circuito Desafiante, conhecida como Circuitinho, e venceram. Jogando pela tag FREEDOM, Cariok se classificou para o Circuitão ao lado de Gustavo "Name" Rodrigues, Ruan "Anyyy" Silva, Davi Elias "Davi" Rosalino e Daniel "Blury" Sarkovas.
“Eu achei incrível, mas pensei que ficaria só naquilo mesmo”, disse Marcos. “Mas aí, um dia ele chamou a mãe dele e eu e disse que tinha uma proposta para jogar em uma organização em São Paulo. Ficamos com o pé atrás porque não conhecíamos nada disso e ele ainda estava estudando aqui no Rio. Falei que queria conhecer a pessoa responsável pelo time em São Paulo. Ele disse que me ligariam e que queria saber se a gente autorizava ele a ir. Eu vi no semblante dele que aquilo era tudo o que ele mais queria. Não seria eu quem tiraria aquela alegria dele!”.
Depois de algumas ligações e de ficar mais tranquilo quanto ao futuro do filho, Cariok foi contratado pela Ilha da Macacada, mais conhecida como IDM. Naquela altura do campeonato, era praticamente impossível voltar atrás. As passagens - só de ida - para São Paulo já estavam compradas.
“Levei ele ao aeroporto, foi muito triste dar tchau. Aquela foi a primeira vez em que ele ficou longe de nós. Ver ele indo embora foi muito doloroso, mas fazer o que? Víamos a alegria no semblante dele e até agora tudo isso foi muito bom para ele. Todos os pais deveriam apoiar os filhos nisso, eles precisam entender que existe uma carreira nos esports”.
Após mais de um ano e meio jogando pela IDM, Cariok disputou a Série de Promoção para o 1º split do CBLoL 2019. A organização venceu cedo na escalada e se livrou do rebaixamento. Foi nesse momento que uma nova chance surgiu para um Cariok mais maduro, mas que ainda confiava muito na opinião da família. Era hora de jogar pela Havan.
“Sempre estivemos a par de tudo. Para onde ele fosse, ele falava conosco primeiro. ‘É um time de Circuito Desafiante, eu estou no CBLoL, vai ser como descer um degrau’, ele me disse, e eu falei que ele precisava fazer o que o coração dele mandasse. Ele dizia que ainda tinha muita coisa para aprender porque as coisas tinham acontecido muito rápido para ele. Ele precisava andar um pouco para trás para recomeçar”, conta o pai emocionado.
Diferente da vez em que ainda era menor de idade e precisou que os pais assinassem seu contrato com a IDM, ao ser contratado pela Havan, o próprio Cariok assinou os papéis que diziam respeito ao seu futuro em Brusque, Santa Catarina, onde fica a sede da Havan.
“Mas ele estava conosco aqui no Rio. A Havan enviou o contrato e nós lemos juntos para ver se estava tudo certo. E aí mais uma vez ele partiu para mais longe ainda. A mãe dele desabou de chorar, mas eu falava para ela ‘Fica tranquila que isso aí é bom para ele. Não adianta, a gente tem que sofrer um pouco pela alegria do outro. Quando eles criam asas, têm que voar! Esse é o ciclo da vida”.
Na Havan, a jornada de Cariok foi de ascenção, mas não houve tempo para ele chegar até uma grande final. No 1º split do Circuitão 2019, a organização disputou a Série de Promoção para a segunda fase e se classificou, chegando ao 4º lugar nos playoffs do 2º split.
No 1º split do CD 2020 a equipe chegou até os playoffs novamente, mas caiu diante da Team oNe e finalizou a etapa na 3ª colocação. Este foi o momento de uma nova mudança acontecer. André Eidi "esA" Yanagimachi retornou para a função de suporte da paiN e trouxe Cariok com ele.
O nascimento do Pairiok
A paiN anunciou a contratação de Cariok em 27 de maio de 2020. O time estreou no 2º split do CBLoL 2020 vencendo o Flamengo e foi no primeiro jogo da organização que Marcos se tornou Pairiok. Naquela partida, a paiN roubou um Barão do FLA graças ao Lee Sin de Cariok.
Orgulhoso, o pai postou um vídeo do filho no Twitter e ganhou muitos likes. “Eu mostrei o vídeo para o meu genro e ele falou brincando ‘E aí, Pairiok?’. Eu gostei e comecei a postar tudo desse jeito, aí todo mundo começou a me chamar assim e eu mudei meu nick. Agora, tá do jeito que tá, estou adorando essa fama. Eu adoro interagir com o pessoal, todo mundo é muito gente boa, não só a torcida da paiN, mas também do Flamengo, da INTZ. Eles falam ‘Pairiok, hoje eu vou torcer pela paiN porque meu time já está fora. Vou torcer pelo senhor e pelo Cariok’. Aí eu fico como? Todo contente!”, diz Marcos dando risada.
Assim como torcedores de outros times o apoiam, ele diz que também apoia outras equipes e mantém contato com ex-colegas de equipe de Cariok.
“Aqueles meninos da FURIA eu conheço todos, sempre estou interagindo com eles, com o Damage, com o Anyyy. Eu sempre torço por eles quando eles não estão jogando contra a paiN. Eu também torcia muito pela Havan no Circuito. Se o Cariok sair da paiN, vou continuar torcendo pelo time, mas só se não jogarem contra ele”.
Apesar dos momentos bons com a torcida, Pairiok conta que uma vez ou outra encontra tuítes de ódio ao filho. “Se for crítica construtiva, eu até falo com o Cariok, mas se for ofensiva, eu fico chateado e bloqueio a pessoa. [...] Tem mais gente que o ama do que gente que não gosta dele e isso supera qualquer coisa”.
E como um bom pai orgulhoso, Marcos não poupa elogios na hora de falar do filho:
Além de ser super ativo no Twitter, o Pairiok também faz transmissões ao vivo na Twitch, às vezes:
Fernanda, mãe de Cariok, também possui uma conta bastante engajada no Twitter. A Mãeriok está sempre interagindo com o marido, conversando com a torcida e elogiando o filho.
paiN vs INTZ
paiN vs INTZ é um clássico do CBLoL. Esta final é a chance da paiN de vencer um CBLoL novamente, algo que não acontece desde 2015, desde a histórica final que aconteceu no estádio Allianz Parque, em São Paulo. Final esta que foi justamente contra a INTZ. Os intrépidos estão na luta pela vingança contra o famoso backdoor de Matheus "Mylon" Borges.
No meio desse confronto está o senhor Marcos, que fica super ansioso em dia de jogo. “Eu fico doido para começar logo. Acordo lá pelas 7h e desse horário até o jogo é muito tempo. Aí eu ando para lá e para cá, passo uma vassoura e um pano na casa, nos móveis, tudo para passar a hora, não aguento ficar parado esperando começar. Enquanto não acaba o jogo eu não sossego, não consigo nem almoçar”.
Quando questionado sobre suas expectativas para a grande final, ele diz que está confiante apesar de saber que a INTZ é um “time muito enjoado em melhores de cinco”. “Acredito no 3 a 1! Para não sofrer, porque se for 3 a 2 aí o Pairiok morre!”, diz dando risadas.
Ao ser lembrado de que se a paiN vencer, Cariok vai disputar o Mundial 2020 em Xangai, na China, ele ri mais ainda e dispara: “Meu deus do céu, é do outro lado do mundo! Ele está indo cada vez mais longe!”.
Mas não há problema em ir para longe. Como Marcos disse, esse é o ciclo da vida, e Cariok sabe o caminho de volta para casa. O LoL mudou a família Oliveira - para melhor.