Na última terça-feira (5), foram feitos mais de 20 relatos com acusações de pedofilia, agressão física, psicológica e sexual, abuso e assédio sexual envolvendo pro players e outros profissionais do cenário brasileiro de esports. Alguns dos nomes envolvidos nos supostos casos são Gabriel “MiT” Souza, Filipe “pancc” Martins, Guilherme “Kake” Morais, Willyan “Wos” Bonpam, Gustavo Dócil, Célio “Thurizao” Oliveira, entre outros.
O relato que deu o pontapé inicial para que mulheres e homens se sentissem minimamente confortáveis para relatar suas experiências foi o de Daniela Li. Na madrugada de terça, a tatuadora revelou que há cerca de seis ou sete anos, MiT, caster e ex-técnico de League of Legends, a forçou a realizar sexo oral nele. Em seguida, outras mulheres relataram experiências semelhantes, como Debora Fuzeti, cosplayer e criadora de conteúdo, Carolina Fernandes, ex-namorada de MiT, e Manuela "Kyure" Rodrigues, streamer.
Além de MiT, Gustavo Dócil foi acusado de manter conversas com uma mulher, que na época do ocorrido, era menor de idade; mesmo caso de pancc, jogador de Counter-Strike: Global Offensive da Sharks Esports, que está sendo investigado pelo clube, e de Kim Han Sol, tradutor que trabalhou para equipes como a paiN Gaming. Wos, suporte da Vorax, também está sendo investigado pela organização, ele foi acusado de abuso sexual, assim como Benjamin “Hy0ga” de Barbi, jogador do Santos Esports.
O técnico Guilherme “Kake” Morais foi demitido do Flamengo após receber diversas acusações de assédio sexual contra homens, inclusive menores de idade. Thiago “tinowns” Sartori, pro player da paiN Gaming, foi acusado de abuso psicológico e agressão física e abriu uma live para comentar o caso. Durante a transmissão, o jogador se desculpou com Thays Toledo, mas afirmou que não a agrediu fisicamente e nem abusou psicologicamente. Tinowns alegou que “o relacionamento era abusivo dos dois lados”.
Lincoln “fnx” Lau, pro player de CS:GO da Imperial eSports, foi acusado de filmar e compartilhar uma relação sexual sem o consentimento da vítima. Os pro players de Rainbow Six Siege Marcos "Dryx" Vinícios e Rafael "mav" Loureiro foram acusados de assédio e agressão física, respectivamente.
O CEO da Innova Marcelo "mHa" Almeida também foi acusado de abuso e assédio sexual e levou os relatos até uma delegacia de polícia. Além dele, Célio "Thurizao" Oliveira, ex-manager de League of Legends da KaBuM!, foi acusado de assédio sexual. Estes são apenas alguns dos casos.
Referente aos casos envolvendo profissionais do cenário competitivo de League of Legends, a Riot Games Brasil disse ao MGG Brasil que ainda não tomou nenhuma medida. “Estamos acompanhando as movimentações, mas não temos nenhum novo posicionamento, por enquanto”.
5 de janeiro de 2021 é um dia que não pode ser esquecido
As acusações de todas as vítimas farão com que o dia cinco de janeiro de 2021 fique marcado para sempre na comunidade brasileira de esports. Estes relatos são importantes, válidos e é necessário relembrar que a voz da vítima deve ser priorizada em toda e qualquer situação. São grandes manifestações como essa que reforçam fatos que inúmeros integrantes da comunidade de esports ainda não entenderam.
Pessoas precisam ser responsabilizadas por seus atos; a imagem que jogadores e outros profissionais do cenário passam de si mesmos em redes sociais não reflete - e muitas vezes apenas camufla - quem essas pessoas são na vida real; e vítimas contam suas histórias em redes sociais com a intenção de alertar outras pessoas e encontrar um conforto mínimo, visto que, iniciar uma ação na justiça pode ser delicado, demorado e cansativo. Muito se diz sobre “acabar com a carreira de alguém”, mas pouco se fala sobre reparar os danos físicos e psicológicos de quem sofreu abuso e assédio sexuais, entre outras formas de agressão.
Na verdade, é bastante fácil observar que a carreira que pouquíssimos profissionais de fato “acaba” após acusações como as que foram relatadas ao longo do texto. No caso de Tinowns, por exemplo, o jogador recebeu 116 inscrições pagas em seu canal na Twitch durante a live que fez para dar sua versão do relato de Thays, mesmo após pedir para que isso não fosse feito.
Um exemplo recente, dentro do futebol, é o caso de Robson de Souza, mais conhecido como Robinho. Após ser condenado em primeira instância a nove anos de prisão em 2017, por um crime de estupro que aconteceu em 2013, o jogador continou sendo contratado por grandes clubes e recebendo apoio de inúmeros fãs.
Somente em outubro de 2020, quando foi novamente contratado pelo Santos, houve pressão para que o jogador não representasse o time. Em 10 de dezembro do mesmo ano, ele foi condenado ao mesmo tempo de punição em segunda instância - o jogador ainda pode recorrer à terceira instância como último recurso antes de ser condenado definitivamente ou absolvido.
A grande quantidade de acusações feitas em tão pouco tempo no cenário de esports lembra o movimento Me Too (“Eu também”, em português), que já aconteceu em diversos meios. Criado pela ativista norte-americana Tarana Burk em 2006, a corrente tem como objetivo encorajar mulheres e homens que foram vítimas de abuso a relatarem seus casos.
Em 2017, o termo foi usado em forma de hashtag por diversas vítimas de abuso da indústria cinematográfica para denunciar produtores, diretores e atores como Kevin Spacey e Harvey Weinstein. Em 2018, a expressão chegou até a indústria de videogames quando a desenvolvedora Nathalie Lawhead denunciou Jeremy Soule, responsável pela trilha sonora de The Elder Scrolls V: Skyrim, por assédio sexual. Em 2020, diversas acusações de pedofilia, abuso e assédio sexual atingiram os cenários internacionais de CS:GO e Super Smash Bros. envolvendo Cinnamon “Cinnpie” Dunson, Nairoby “Nairo” Quezada, Henry "HenryG" Greer, entre outros acusados.
Esta não é a primeira vez que casos de abuso e assédio são expostos na comunidade brasileira de esports. Infelizmente, é bastante provável que também não seja a última. Resta saber o que será feito por aqueles que têm o poder de mudar essa situação.
Donos de organizações e patrocinadores podem se empenhar muito mais em investigar a conduta de futuras contratações, enquanto plataformas de streaming, desenvolvedoras de games e organizadoras de campeonatos podem banir jogadores que estejam envolvidos em casos que sejam confirmados como criminosos. Além disso, espera-se que a justiça faça o mínimo, ou seja, investigue e puna corretamente os casos passíveis de punição. Vale lembrar que alguns destes foram denunciados judicialmente, como o de Benjamin “Hy0ga” de Barbi e Célio “Thurizao” Oliveira.
O MGG Brasil informa que quer dar voz às vítimas, apurar casos - como os que estão abaixo - e questionar responsáveis. Clique aqui para entrar em contato.
Caso envolvendo o ex- treinador de LoL, Gabriel "MiT" Souza
Caso envolvendo o jogador de CS:GO Filipe "pancc" Martins
Caso envolvendo o treinador de LoL Guilherme "Kake" Morais
Caso envolvendo o ex-apresentador do CBLoL Gustavo Dócil
Caso envolvendo o jogador de LoL Willyan "Wos" Bonpam
Caso envolvendo o jogador de LoL Benjamin “Hy0ga” de Barbi
Caso envolvendo o manager de LoL Célio “Thurizao” Oliveira
Caso envolvendo o jogador de CS:GO Lincoln "fnx" Lau
Caso envolvendo o jogador de LoL Thiago "Tinowns" Sartori
Caso envolvendo o tradutor Kim Han Sol
Caso envolvendo o treinador de Rainbow Six Marcos "Dryx" Vinícios
Caso envolvendo o CEO da Innova Marcelo "mHa" Almeida
Caso envolvendo o técnico e sexto jogador de R6 da Team Liquid Rafael "mav" Loureiro
Os tuítes foram apagados, mas o jogador respondeu às acusações.