O First Strike, primeiro evento oficial de Valorant organizado diretamente pela Riot Games, trouxe uma pergunta que, embora não tenha resposta fácil, é perfeitamente natural: qual a região mais forte do mundo? Com um cenário competitivo ainda incipiente e sem realização de campeonato mundial até o fim de 2021, quando está previsto o Valorant Champions, a análise passa, principalmente, pelo nível de jogo apresentado em regiões que, a princípio, merecem maior atenção pelos títulos já conquistados no gênero FPS, como Brasil, Europa, América do Norte e Comunidade de Estados Independentes (CIS, na sigla em inglês).
Naturalmente, outras regiões e países como Oceania, Turquia, Japão e Coreia do Sul, esta última conhecida por ter vários jogadores entre os melhores do mundo na cena de Overwatch, também podem vir a surpreender em competições internacionais no futuro, mas a análise de cenários onde o Valorant já parece ter despertado interesse maior de jogadores e investimento de organizações importantes de suas respectivas regiões parece mais importante neste momento.
Brasil
A fase final do First Strike no Brasil não trouxe grandes surpresas, com a Gamelanders conquistando o título perdendo apenas um mapa em oito disputados, na vitória de 3 a 1 sobre Pain na decisão. Se o resultado não surpreendeu e reafirmou a força do melhor time do Brasil, que deverá se classificar para o Valorant Champions e figurar entre os principais candidatos ao título, há sinais positivos e negativos a se destacar.
Os pontos que mais merecem elogios são, obviamente, o excelente nível de jogo mostrado pela Gamelanders, que em nenhum momento pareceu ter seu realmente título ameaçado, e o desempenho de jogadores como mwzera e Jonn, da Gamelanders, Veroneze, da Pain, e Xand, da B4. Celeiro de talentos em diversos títulos do FPS, como CS:GO, Crossfire, Point Blank e Rainbow Six, o Brasil parece mais uma vez chegar como um forte postulante a títulos internacionais.
Já o principal aspecto negativo tem relação direta com o amplo domínio apresentado pela Gamelanders. Com a desclassificação da Vorax Fusion no First Strike após dois casos de Covid-19 registrados no elenco, faltou um adversário que pressionasse mais o melhor time do Brasil, fato lamentado inclusive pelos próprios jogadores da GL, que gostariam de ter enfrentado a Vorax pela primeira vez num evento presencial. Levando em consideração que o primeiro campeonato mundial do Valorant só acontecerá em aproximadamente um ano, a boa notícia é que todas as equipes do país terão tempo para evoluir seu jogo até lá.
Entre as principais razões para o domínio da Gamelanders no First Strike, uma das que mais chamam a atenção é a superioridade da equipe na parte tática e capacidade de adaptação ao jogo de seus adversários. Tanto na partida contra a B4 como no duelo contra a Pain essa virtude se mostrou essencial em momentos em que a GL estava atrás no placar, além da comunicação limpa dos cinco jogadores, que chamou a atenção nos momentos em que a transmissão da Riot abria o áudio do time ao público. Se essas virtudes se repetirem em eventos internacionais, a Gamelanders desponta desde já como um dos melhores times do mundo.
Agentes mais escolhidos
Omen (93,3%)
Cypher (83,3%)
Raze (76,7%)
Jett (66,7%)
Sova (63,3%)
Europa
Da região mais badalada desse início de vida do Valorant veio também a maior surpresa do First Strike. Destacada como melhor equipe da Europa antes do campeonato, a G2 acabou surpreendida pela Team Heretics e deu adeus ao torneio ainda na semifinal. Na sequência, a Heretics venceu a SUMN FC por 3 a 1, com direito a placares elásticos no mapas Ascent (13x1) e Haven (13x5).
O que mais chama a atenção, no entanto, é o ótimo nível de algumas das partidas realizadas ao longo da competição, como a vitória da Heretics sobre a Team Liquid ainda nas quartas-de-final, um 2 a 1 decidido com um 15x13 no mapa Bind, e a própria vitória de 2 a 1 dos campeões do First Strike nas semis sobre a G2. Infelizmente para o torneio, as três melhores equipes da região acabaram caindo no mesmo quadrante, protagonizando as partidas mais emocionantes e de melhor nível técnico.
A boa notícia para a Europa é a presença de três equipes de nível muito próximo e jogando um Valorant que as credencia como fortes postulantes a títulos internacionais. Em comparação ao Brasil, que hoje tem na Gamelanders sua principal esperança, o continente parece mais fortalecido, e a maior variação na escolha de agentes também oferece mais possibilidades no aspecto tático, com oito personagens com taxas de escolha de pelo menos 39,5%.
Por outro lado, o First Strike parece também evidenciar uma diferença grande entre as três melhores equipes da região e as demais. Embora tenha ficado com o vice-campeonato, a SUMN FC ofereceu muito menos resistência à Team Heretics do que Team Liquid e G2 fizeram. Nos Majors, os outros times terão que evoluir bastante para baterem de frente contra o trio que apresentou o melhor nível de Valorant na Europa.
Agentes mais escolhidos
Omen (78,9%)
Raze (73,7%
Sova (71,1%)
Cypher (60,5%)
Breach (52,6%)
América do Norte
Em uma das regiões de maior investimento no cenário competitivo de Valorant, o nível técnico das partidas também não decepcionou. Com vários jogos acirrados desde as quartas-de-final, o First Strike da América do Norte foi brindado com uma final de eletrizante entre 100 Thieves e TSM, vencido por 3 a 1 pela 100T, que precisou suar muito para abrir 2 a 0 na Split (15 a 13) e Bind (13 a 11). A decisão, no entanto, foi apenas o capítulo final de um torneio que contou com outros grandes jogos.
Embora tenha levado o título perdendo apenas dois mapas ao longo de toda a competição, a 100 Thieves não teve vida fácil em nenhum momento. No duelo de quartas de final contra a T1, o placar de 2 a 0 passa uma falsa sensação de jogo tranquilo, uma vez que os duelos em Haven e Bind, ambos vencidos pela 100T por 13 a 10, foram decididos nos detalhes em vários rounds.
Na semifinal contra a surpreendente Sentinels, que eliminou a Faze Clan com um duplo 13 a 8 nas quartas, a 100 Thieves teve um teste de fogo no triunfo por 2 a 1, vencendo por 14 a 12 na Ascent e 13 a 9 na Bind.
A TSM teve vida mais tranquila, sendo dominante contra Renegades, nas quartas, e Team Envy, nas semis. No entanto, o fato de a 100 Thieves ter uma caminhada rumo ao título marcada por duelos acirrados mostra que a América do Norte surge desde já como a região com o maior número de equipes jogando em alto nível, ainda que isso não signifique, necessariamente, que os melhores times da região sejam mais fortes que a Gamelanders ou que a elite europeia.
A exemplo do Brasil, porém, a América do Norte teve pouca variação de agentes, com Sage, Viper e Brimstone, por exemplo, não sendo escolhidos nenhuma vez, além de apenas seis agentes terem representado 73,5% das escolhas ao todo.
Agentes mais escolhidos
Omen (100%)
Jett (82,4%)
Sova (70,6%)
Raze (61,8%)
Cypher (55,9%)
Comunidade dos Estados Independentes
A melhor final do First Strike veio de uma região que tem uma tradição de longa data no gênero FPS, ainda que não seja a que concentre os maiores investimentos. Menos badalada que Europa e América do Norte, a CIS tem pelo menos duas equipes que prometem fazer bastante barulho em 2021: Forze e Team Singularity.
A grande decisão acabou com vitória da Forze por 3 a 2 (13x11 na Haven; 13x6 na Split; 8x13 na Icebox; 14x16 na Icebox; 13x7 na Ascent), mas o que mais chamou a atenção na decisão foi o ritmo acelerado do duelo, com diversos momentos de trocas francas e rounds decididos puramente “na bala”, com destaque para as exibições de SUYGETSU e zeddy, do lado da Forze, e trexx e Sp1ke, pela Singularity.
Se o estilo agressivo de jogadores da região não é uma novidade, o ritmo do jogo pode ser, ao mesmo tempo, um trunfo e uma fraqueza de Forze e Singularity em competições internacionais.
Por um lado, a possibilidade de surpreender ou condicionar uma preocupação constante dos adversários pelo ritmo intenso sempre existe, e a enorme capacidade de os jogadores resolverem muitos rounds por sua enorme precisão nos tiros merece atenção de todas as demais regiões.
Por outro, o estilo mais frenético também mostra um jogo que taticamente parece, ao menos a princípio, menos apurado que o dos melhores times da Europa, da América do Norte e da Gamelanders. Na escolha de agentes, a CIS está dentro do meta, embora com menos variação do que a Europa, por exemplo.
Agentes mais escolhidos
Omen (85%)
Raze (65%)
Cypher (65%)
Sova (62,5%)
Breach (60%)