Toda grande história de superação e conquista começa com um sonho. A da famosa Made in Brazil do Counter-Strike (CS) não foi diferente. Mas o mais interessante destas narrativas não está na existência do sonho em si, mas sim naqueles que ousam a acreditar e viver o próprio sonho. Qual a chance de alguns jovens se tornarem pioneiros de uma profissão que nem sequer existia e fundarem a organização que colocou o Brasil no mapa mundial dos esportes eletrônicos? Para eles as chances não importavam. Esta é a trajetória do nascimento da MIBR até tornar-se referência no meio e mais tarde no Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO).
Quando não existia MIBR
O sonho do qual estamos falando começou a ser construído em 1999, na zona sul do Rio de Janeiro. Foi neste período que Rafael "pred" Velloso conheceu o Counter-Strike na lan house Challenger, a qual ficava situada no bairro do Leblon. Juntamente do MGG ele relembrou da história com bom humor e revelou que primeiro pensou que o jogo era apenas uma expansão do game Command & Conquer e que as pérolas não pararam por aí... Ainda aprendendo como se jogava, confundiu o botão que tinha que apertar para salvar o refém e foi no Enter, dando um belo headshot no coitado. "Foi a maior vergonha!", disse ele.
Mais tarde as pinadas e kills no refém deram lugar a um gameplay de mais qualidade. Não à toa, pred conseguiu entrar para o time oficial da Challenger juntamente de outros protagonistas desta história como Eduardo "eduzin" Chagas e Eduardo "Corassa" Corassa. Foi na própria Challenger que Pred e Corassa admitiram ao MGG que passaram a levar o game mais a sério. Depois disso, a Challenger virou Arena e foi aí que tudo começou.
Os primeiros passos do que ainda viria a ser a MIBR
A equipe estava indo muito bem nas competições nacionais e os bons resultados renderam uma vaga na CPL Dallas 2002. Jogar um torneio de nível mundial nos Estados Unidos é tudo que qualquer jogador sonhava, mas o primeiro obstáculo logo se apresentou: seria impossível cinco jovens e uma lan house lidarem com todos os custos necessários para disputar um evento internacional. Em meio a esta dificuldade, surgiu o nome de maior importância na história da MIBR: Paulo Velloso.
Mesmo sem saber exatamente do que se tratava, Paulo acreditou no sonho do filho e aceitou assumir todos os custos com sua empresa DBA patrocinando os meninos. Mas como não era bobo, aproveitou e acordou com pred que ele precisaria melhorar na escola e passar de ano. Com todos de acordo, a Arena foi para os EUA, jogou a CPL e ficou em 13º/16º lugar entre 24 times. Apesar de não parecer uma posição alta para os padrões atuais, naqueles tempos foi a melhor já conquistada por brasileiros, o que trouxe grande ânimo ao cenário nacional. Fora o fato de a eliminação ter acontecido pelas mãos de Abdisamad "SpawN" Mohamed e companhia - algo completamente compreensível, já que se tratava de um dos maiores nomes da história do CS.
Levando a sério e adotando uma visão empreendedora
A comemoração da boa colocação rendeu elogios aos jogadores e ao próprio Paulo, que começou a se interessar mais pela área a ponto de se tornar o mentor e gerente da line-up. Apesar de não entender do jogo, os anos de Paulo como empresário adicionaram expertise e profissionalismo nunca antes imaginados pelo quinteto. Isso, é claro, sem mencionar os diversos investimentos realizados ao longo do tempo, desde viagens até a centro de treinamentos. Corassa contou que o primeiro quartel-general do time ficava no shopping Downtown e era mais "humilde" e o segundo era próximo ao Barra Shopping e "muito chique".
Foi o próprio Corassa quem decidiu o nome que hoje é conhecido por todos que fazem parte do cenário de esport brasileiro. De acordo com ele, a ideia veio durante uma reunião na cobertura de Paulo. Todos estavam juntos pensando no nome da organização e várias opções em inglês eram sugeridas. Paulo queria algo que remetesse ao Brasil, já que a ideia do projeto era disputar muitos campeonatos fora do país, representando a nação. Neste momento, Corassa olhou para o seu tênis da Adidas e viu escrito "Made in China", então sugeriu Made in Brazil. No início todos acharam que era uma brincadeira, mas depois gostaram e aprovaram a ideia. A abreviação seria MIB, mas o "R" foi adicionado para não ser confundido com o filme Man in Black (Homens de Preto).
Estava formada a Made in Brazil com Pred, Corassa, Eduzin, KIKO e pava. Outros vários nomes também passaram pela equipe carioca como skape, Lucas, Hellmaster, Banz, dread, xed, cogu, dctr, rumbel, Small, Millo e marc. Até mesmo alguns estrangeiros como bsl, element e veslan, que foram muito importantes para implementar novas metodologias de jogo, principalmente na parte estratégica.
Reconhecimento mundial e eventual venda para a Immortals
Desde o seu nascimento a MIBR já era um dos times mais importantes do Brasil. Não só pelos ótimos jogadores, mas também por toda a estrutura e o profissionalismo que lidavam com o cenário, tudo por conta de Paulo. Eram vários projetos paralelos, desde times regionais, feminino até criação de conteúdo com a MIBR TV. Mais tarde o núcleo do Rio deu lugar ao de São Paulo, que venceu um torneio e conquistou o direito de ser a única MIBR do país. Mesmo sem pred, Pvell seguiu com o negócio e a MIBR se agigantou cada vez mais até conquistar torneios mundiais como a icônica ESWC 2006 em cima da poderosa Fnatic.
Como, infelizmente, nada dura pra sempre, a MIBR paralisou suas operações em 2012. O clube quase voltou para a nova versão do game que o consagrou, o Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO), mas o dono da marca encontrou tantos problemas antigos ainda não resolvidos, que optou por vender o nome para a organização norte-americana Immortals. Hoje a MIBR é sediada nos Estados Unidos e a situação não é fácil, com acúmulo de resultados ruins em campeonatos, saída de jogadores e envolvimento em polêmicas como a do bug do coach. Ainda assim, a equipe promete se reerguer e voltar aos tempos de glória de outrora.
Não há dúvidas de que esta trajetória é uma das mais longas, belas e importantes da história do esport nacional e até mundial. Com profundas mudanças se fazendo necessárias na MIBR, em breve mais um novo capítulo virá pela frente e veremos com nossos próprios olhos o que acontecerá. Até lá, fica a nostalgia de todas as superações e conquistas do passado de uma história que merece ser relembrada todos os dias por quem ama o Counter-Strike e os esportes eletrônicos.