Na última segunda-feira (20), a organização de Wild Rift Omegha E-sports confirmou ao MGG Brasil que o ex-técnico e comentarista de League of Legends Gabriel “Mit” Souza, acusado de assédio e abuso sexual, faz parte de sua comissão técnica como um “prestador de serviços” que participa de atividades do time "em questões estratégicas do jogo".
Em nota divulgada pela Omegha 21 de junho no Twitter, foi dito: “Verificamos que o Gabriel não possui nenhuma ação de natureza penal onde ele tenha sido acionado. As ações que existem, foram movidas por ele mesmo, contra a prática de calúnia e difamação onde procura reparação judicial”.
No entanto, existem dois processos contra Mit em andamento: em um deles ele é acusado de estupro e no outro de denunciação caluniosa. O MGG Brasil teve acesso a um deles e verificou que em 10 de junho a Juíza de Direito Dra. Juliana Guelfi determinou a instauração de um inquérito policial único “para melhor apuração dos fatos” narrados nos três processos existentes relacionados ao Mit: o que ele mesmo abriu e os que estão abertos contra ele.
Acusações de assédio e abuso sexual no cenário de LoL
Em janeiro de 2020, Mit foi acusado pela tatuadora Daniela Li de abuso sexual em 2015, quando o treinador ainda atuava com o elenco da paiN Gaming. Segundo o relato, ele tentou forçá-la a fazer sexo oral.
A streamer e ex-participante do reality show ULT Kyure também acusou Mit na época. Em sua postagem, ela diz ter recebido um ‘’tapão na cara’’ e que o ex-treinador tentou apalpá-la enquanto dormia. A influenciadora também citou que logo pela manhã Mit teria revelado o desejo de retirar suas roupas enquanto dormia.
Na época, a cosplayer Debora Fuzeti e a influenciadora Gabriela Tiemi também acusaram Mit de assédio. A ex-namorada dele, Carolina Fernandes, também se pronunciou sobre o assunto e mostrou solidariedade às vítimas. "Foi porque entendi a pessoa ruim que ele tinha sido. O profundo mal que ele tinha causado a mim e a outras pessoas. Foi duro", disse ela sobre o término do relacionamento que durou quatro anos.
Logo após a publicação dos relatos, Mit escreveu uma nota em que não cita nenhuma das supostas vítimas, mas faz uma breve referência à acusação da tatuadora. O ex-técnico e analista de League of Legends disse, na ocasião, estar "devastado e envergonhado" e não compactuar com abuso.
Em 2021 o site The Enemy revelou que Mit moveu uma ação judicial contra as acusações de assédio e abuso sexual. Entretanto, o processo corre em segredo de Justiça, o que significa que informações quanto ao andamento são sigilosas e não há acesso público disponível ao processo. Contudo, as publicações originais que motivaram as ações foram removidas do Twitter após decisão judicial.
Os três processos que envolvem o caso
Atualmente, existem três processos que envolvem Mit e Daniela. O primeiro processo, de número 1009206-36.2021.8.26.0050, divulgado pelo próprio Mit, corre em segredo de justiça. Nele, o ex-técnico processa Daniela (não é possível saber se mais pessoas são processadas também) por calúnia.
No segundo, Daniela iniciou representação criminal/notícia de crime de estupro - isto também está em segredo de justiça. O terceiro processo, também movido pela tatuadora, é sobre denunciação caluniosa, e alega que a denúncia de calúnia de Mit sobre Daniela é caluniosa.
O MGG Brasil teve acesso ao processo de número três, que tem pedido para correr em segredo em justiça, mas que não foi julgado, por isso está disponível para leitura até o momento da publicação deste texto. Nele, a Juíza de Direito Juliana Guelfi deixou o seguinte registro em 10 de junho, determinando a instauração do inquérito policial. A partir deste momento, a polícia investigará os fatos e é provável que sejam colhidos depoimentos:
Questionada sobre a existência dos processos abertos contra Mit, a Omegha disse em 23 de junho ao MGG Brasil:
“Tomamos conhecimento do inquérito somente hoje, após alguns comentários e conversas com veículos de imprensa. Em razão disso a organização, em conjunto com nosso corpo jurídico, está avaliando as informações para definição dos próximos passos. Estamos preocupados com toda a situação e reafirmamos a posição da organização de não compactuar, ou negligenciar, qualquer caso de assédio ou discriminação”.
Entramos em contato com a Riot Games Brasil sobre o caso em 21 de junho, questionando se a empresa tinha ciência da participação de Mit no cenário e se ele estava inscrito no Wild Tour como membro da comissão técnica. A assessoria de imprensa informou que o assunto seria verificado internamente. Não houve uma nova resposta da empresa até o momento.