Há quem diga que se uma pessoa tem sorte no jogo, terá azar no amor, mas Lauriê Tournier e Rafael Moraes são a prova de que nem sempre os ditados populares fazem sentido. Dedicados ao próprio relacionamento e a carreira no cenário competitivo profissional de poker, juntos eles já viveram uma série de aventuras e transbordam admiração um pelo outro.
Neste 12 de junho, data em que é comemorado o Dia dos Namorados, o MGG Brasil conta como começou a história de amor do casal, que se conheceu graças ao xadrez, faz lives na Twitch, disputa torneios todos os dias, representa grandes marcas como a PokerStars.net e está até mesmo ligado aos esports por meio da FURIA.
Tudo acabou em poker, mas começou em xadrez!
O xadrez é um jogo de habilidade considerado muito difícil por uns e fácil por outros, mas o que realmente importa dentro do tabuleiro é estudo, paciência e estratégia. Na vida de Lali, o jogo surgiu cedo, quando ela tinha 11 anos.
"Eu conheci o xadrez na escola e não me apaixonei logo de cara porque estava fazendo as aulas mais por aquilo ser uma atividade extracurricular. Minhas amigas começaram a frequentar o clube de xadrez e eu só fui junto, sabe? Quando comecei a competir, aí sim me apaixonei de verdade pelo jogo e comecei a me dedicar e estudar. Me destaquei bem rápido e já comecei a viajar para representar minha cidade: Joinville. Fiquei fazendo isso até 2010".
Para Rafa, o primeiro contato mais sério com o jogo veio um pouquinho depois. "Comecei a jogar quando tinha uns 14 anos. Eu estudava em uma escola pública em São Paulo e uma vez por semana, um professor de matemática ensinava xadrez para quem quisesse aprender, como hobbie mesmo. Uma vez ele estava passando nas salas, avisando que fazia isso, e eu só fui. Foi muito legal, eu já sabia jogar o básico, mas foi ali que vi que o jogo era muito legal. Estudei, comecei a ganhar uns torneios e também peguei essa fase de viajar bastante para disputar torneios, ficar em alojamentos, participar dos Jogos Abertos [série de campeonatos promovidos por cada estado para incentivas a participação de jovens e adultos nos esportes]".
Fisgados pelo poker e um pelo outro
A primeira aproximação de Rafa e Lali aconteceu em Caxias do Sul, durante um torneio de xadrez, pelas intermediações de uma terceira pessoa: Thiago Crema, que também é muito famoso no cenário competitivo de poker, dono de uma série de títulos de campeonatos no meio. "Esse amigo já vinha falando do Rafa para mim e de mim para o Rafa. Ele foi nosso padrinho de casamento, é um dos nossos melhores amigos até hoje", contou Lali.
Rafael e Thiago eram amigos há bastante tempo, mas só se conheciam por meio de chamadas por Skype e campeonatos online. "Jogávamos muito juntos e ele sempre falava que tinha uma amiga que jogava xadrez muito bem e que às vezes até brincava de poker. Quando eu já estava migrando do xadrez para o poker, nós dois estávamos indo muito bem nessa nova fase e decidimos fazer uma viagem para comemorar isso e nos conhecermos pessoalmente, porque éramos apenas amigos de internet. Então fomos para Caxias do Sul e lá que eu conheci a Lali. Nós ficamos, conversamos muito e foi tudo uma coincidência, porque eu já estava parando de jogar xadrez, tinha ido ao torneio mais para conhecer o Crema e acabei encontrando ela", contou Rafa.
Naquele despretensioso torneio de xadrez, do alto de seus 19 e 20 anos, eles mal sabiam que acabariam casando, mas pareciam ter plena consciência de que algo especial estava acontecendo, pois quase que instantaneamente começaram a namorar. "Foi tudo bem rápido. Ficamos na viagem e quando voltamos para nossas cidades, começamos a conversar por MSN, às vezes com webcam, e um mês depois ele foi para Joinville e começamos a namorar. Antes disso, a gente conversava todos os dias", explicou Lali.
A partir dali, Rafa e Lali viveram um namoro à distância por cinco anos. "Como não tínhamos nada que nos prendesse em nossas cidades, eu ia para Joinville e ficava duas semanas, a Lali vinha para São Paulo. Às vezes ficávamos duas semanas, um mês sem se ver", disse Rafa. "Mas era até bom para sentir mais saudade e aí a gente brigava menos quando se via", contou Lali, rindo.
Para ela, essa possibilidade de passarem vários dias juntos ao longo do "webnamoro" foi boa para que cada um entendesse a vida e rotina do outro. "Quando a gente vai casar, sempre tem aquela história de que tudo muda, porque duas pessoas com costumes diferentes se unem, mas por conta dessas viagens, a gente já convivia muito juntos, sabíamos de tudo um do outro, então não teve muita diferença".
A caminhada de Lali e Rafa ao poker
A transição de carreira de Lali e Rafa do xadrez para o poker envolveu uma série de mudanças. Ela fazia faculdade de economia, mas queria se dedicar ao jogo de cartas, o que envolveu não só trancar a faculdade da economia, mas também convencer os pais de que aquele era um caminho que realmente poderia dar certo.
"É difícil dos pais entenderem, ainda mais sendo mulher, porque geralmente eles querem que você estude, enquanto meninos são mais incentivados até mesmo a serem aventureiros. Então eu tinha uma rotina de acordar cedo para jogar poker às 6h, 7h da manhã, para tentar mostrar para eles que aquele era um trabalho normal. Fiz isso para ser respeitada e com o tempo eles entenderam. Os dois viam o Rafa e eu se dedicando e mostrando que nós levávamos o poker à sério, como por exemplo, não gastando todo o dinheiro das premiações de uma vez só", contou Lali.
Dando risada, Rafa contou ao MGG Brasil que sua história também envolveu uma - rápida! - passagem pela faculdade. "Eu fazia engenharia, mas durou pouco tempo, só três meses. Demorei um ano para passar e fiquei três meses na faculdade. O engraçado é que não é que eu não sabia o que queria, porque eu sabia! Eu fiz curso técnico de edificações no Liceu de Artes e Ofícios, em São Paulo, queria muito ser engenheiro. Mas o poker chegou na minha vida de forma arrebatadora. Comecei a ir muito bem nos campeonatos e a ajudar financeiramente em casa, o que fez meus pais perceberem que podiam me deixar seguir meu sonho".
Vendo tantas pessoas dando certo aos poucos, inclusive um amigo antigo do casal, Andre Akkari, Co-CEO da organização de esports FURIA, que possui um grande time de CS:GO, além de equipes competitivas em modalidades como League of Legends, Rainbow Six Siege, Valorant, entre outras, eles passaram a ter certeza de que a jornada do poker daria certo.
"O xadrez fez a gente se conhecer, mas o poker nos uniu" ♥
Com carreiras respeitadas, repletas de títulos e da responsabilidade boa de inspirar as pessoas a se aventurar pelo poker, Lali e Rafa estão juntos já há 12 anos. "Tudo o que conquistamos e temos veio do poker. É o nosso lifestyle. Quando saímos para jantar, falamos de poker, quando estamos na resenha, falamos de poker. É quase o tempo todo falando disso e crescendo juntos, então o jogo moldou nosso relacionamento", disse o jogador.
"O xadrez fez a gente se conhecer, mas o poker nos uniu! Para manter o amor, precisa existir muita admiração e nós nos admiramos muito. Essa é a nossa vida", completou Lali.
Todo esse tempo juntos também trouxe uma série de aprendizados ao casal. Rindo, Lali contou que quando passaram a morar juntos, ela e Rafa dividiam o mesmo escritório, então passavam 24 horas por dia um ao lado do outro, mesmo em momentos nos quais estavam estudando e disputando campeonatos. "Até que fomos passar quatro meses em Londres, na Inglaterra, para estudar inglês e lá não cabiam os dois no mesmo espaço. Ficamos em ambientes separados e percebemos o quanto isso era melhor para nosso relacionamento".
Aos poucos, eles também entenderam melhor sobre como lidar com os momentos de tensão em torneios e derrota um do outro. "Às vezes a gente quer ir discutir a mão do outro no jogo, mas em um torneio tudo fica mais à flor da pele, né? Quando comecei a fazer lives, ele me via jogando os campeonatos e se eu perdia, vinha falar comigo e eu dizia: 'Ah cara, agora é hora de falar da minha mão?'", contou a jogadora, dando risadas.
"Se tem algo que o jogador de poker aprende é a perder, porque perdemos muito mais do que ganhamos, já que às vezes são 40 torneios por dia. Mas às vezes uma derrota machuca mais, a Lali e eu já nos bicamos muito por isso de não respeitar o momento do outro, mas nunca é na maldade, e sim por querer conversar e não perceber que o outro precisa de um tempo. Hoje a gente lida melhor e externaliza mais isso", disse Rafa.
Lado a lado com os aprendizados, o companheirismo prevalece e eles se ajudam sempre, seja discutindo possíveis mãos do jogo, pedindo dicas e conselhos, a não ser quando precisam fazer algo relativamente raro: se enfrentar no mesmo torneio.
"Em 2020, no torneio principal de um mundial online, faltavam apenas oito pessoas serem eliminadas para conseguirmos chegar até as classificações que rendiam premiação. Era uma competição super importante e ficamos na mesma mesa e acabei caindo [sendo eliminada] para ele", contou Lali entre gargalhadas. "Para mim foi motivo de orgulho, não só por ele ser um bom jogador, mas por não termos trapaceado em nenhum momento. Depois foi zero estresse, nos sentimos meio estranhos porque era um torneio importante, mas foi super tranquilo".
Como Lali disse anteriormente, uma das bases desse relacionamento, além do poker, é a admiração um pelo outro. Para Rafa, um dos momentos em que mais admirou Lali, foi quando a jogadora se tornou bicampeã do WCOOP, o maior torneio de poker online realizado pela PokerStars.net, em 2021. "Foi muito importante para ela e ver essa conquista de perto me deixou feliz demais. Lembro com muito carinho desse momento. Havia mais de 5 mil pessoas acompanhando aquilo e eu pensei 'Caramba, olha o que ela está conquistando!'.
Para Lali, sua admiração pelo Rafa ganhou um novo capítulo quando o jogador brasileiro se tornou embaixador do Team Pro do Pokerstars.net. "Todo mundo que começou a jogar na nossa época tinha o sonho de ser Team Pro. Quando rolou do Rafa virar embaixador, foi incrível vê-lo ocupar esse espaço. Foi uma das maiores conquistas dele, maior até que vencer torneios, já que é a maior marca do mercado falando para você representá-la".
Neste Dia dos Namorados, Rafa e Lali passaram o dia disputando torneios, mas certamente têm suas vidas e carreiras inteiras pela frente para comemorar.
Um amor em comum além do poker: FURIA
Atualmente, Rafa é um dos sócios da FURIA. "Entrei nesse mundo pela Uppercut. Eu era amigo do Akkari e na época a FURIA ainda não tinha um time de LoL. A Uppercut era uma equipe menor e eu falei para a gente juntar as duas coisas. Fizemos um acordo, viramos sócios e hoje acompanhamos tudo. Somos muito amigos de todo mundo no CS", revelou o jogador.
"Eu me emocionei muito recentemente com o CS feminino, chorei de verdade! As meninas tiveram quase 100 mil pessoas assistindo o torneio delas. A gente, como mulher, sabe o quanto isso é difícil e importante, é muito legal ver onde elas estão chegando", disse Lali sobre o vice-campeonato da equipe feminina da CS:GO da FURIA na 1ª temporada da ESL Impact League, que aconteceu em Dallas, nos Estados Unidos.
Além de serem amigos de Akkari há anos, atualmente, Lali e Rafa são streamers da FURIA. Acompanhe as transmissões do casal em seus respectivos casais baixo: