Uma nova edição da Copa Rebecca Heineman, torneio de esports exclusivo para pessoas transgênero, foi anunciada na última quinta-feira (3). Ao longo de 2022 e 2023, a organização do torneio, feita pela Manse Academia em parceria com a influenciadora Sher "Transcurecer" Machado, realizará campeonatos de Valorant, Wild Rift e League of Legends.
O torneio de Valorant será o primeiro a ser realizado. As inscrições começarão em 23 de maio e a disputa acontecerá a partir de 15 de julho. Esta nova edição da disputa será feita de forma presencial, com apresentação em estúdio, e contará com a presença de influenciadoras como Bryanna Nasck e Ana Lumi.
O anúncio foi feito com antecedência, pois atualmente a organização do campeonato busca parceiros comerciais como empresas e times de esports.
"Em 2021 tivemos que tankar toda a parte financeira, para pagar os casters e as premiações. [...] Agora queremos encontrar parceiros comerciais para oferecer premiação em dinheiro aos times e remunerar os casters e streamers. Quero que todos que participem sejam bem remunerados", disse Victor Ferreira, sócio diretor da Manse Academia, escola que oferece cursos de coreano e chinês.
Para acompanhar novidades da nova edição da Copa Rebecca Heineman, basta seguir a Manse Academia, Sher Machado e Victor Ferreira no Twitter.
A repercussão da 1ª edição da Copa Rebecca Heineman
De acordo com Victor, a primeira edição da Copa Rebecca Heineman surpreendeu a organização do projeto. "Quando terminou, tivemos um sentimento de muita alegria, pois não sabíamos que teria a proporção que teve. Estávamos com medo de não conseguir fechar nem mesmo uns oito times, mas no fim tivemos 46 equipes, muita gente participou".
O organizador falou ainda sobre a importância de um torneio exclusivo com este alcance receber tamanha visibilidade, já que pessoas trans ainda são muito marginalizadas no Brasil, tendo seus direitos básicos negados, como respeito e falta de políticas públicas que as auxiliem em questões como emprego, moradia e saúde.
De acordo com Dossiê dos Assassinatos e da Violência contra pessoas Trans em 2020, realizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), 175 indivíduos, entre transexuais e travestis, foram assassinados.
"O público trans dentro dos esports é grandíssimo, mas não está em evidência, e esse é o objetivo da Copa, revelar talentos trans para dentro do cenário, dar oportunidades para que essas pessoas apareçam no meio", completou Victor.
Um espaço seguro e promissor para a comunidade trans dos esports
De acordo com o organizador, a Copa Rebecca Heineman recebeu feedbacks muito positivos de todas as pessoas que participaram do campeonato. "O time que foi campeão foi o da Jessie, que participou do ULT 2. E todo mundo falava: 'Tivemos como jogar com uma pro player pela primeira vez em nossa vida, então tomamos um espanco, mas foi a coisa mais legal que já fizemos'", contou rindo.
Vale lembrar que além de ter participado da 2ª edição do ULT, Jessie já disputou grandes torneios femininos, chegando até a final do Gamer Girl Festival 2019/2022, que foi realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
"O público e as pessoas que participaram agradeceram muito pelo torneio. Aquela foi a primeira vez em que elas puderam competir de igual para igual, mesmo com times que tinham pro players. A organização do campeonato foi feita pela Player1, então não tivemos nenhum tipo de problema. Conseguimos fazer com que nosso desejo se realizasse ao realizar um torneio para o público trans, que ficou muito feliz", explicou Victor.
Além de Jessie, outras pessoas se destacam no cenário brasileiro de esports, como as streamers Nerissa, Zahri, Lys Chan e Analumi, as jogadoras Ariel "Ari" Lino, da Netshoes Miners Academy e Olga "Olga" Rodrigues, da FURIA, que se identifica como travesti, assim como a própria Sher.
Quem é Rebecca Heineman?
O nome do campeonato é uma homenagem a Rebecca Heineman, mulher trans considerada a primeira pessoa dos Estados Unidos a vencer um torneio de esports, o Space Invaders Championship, que foi realizado em 1980 pela Atari. Na época, Rebecca era adolescente e sua habilidade com o jogo impressionou todos que participaram do campeonato.
Vencer este torneio mudou a vida da jogadora, que rapidamente passou a receber convites para escrever artigos sobre zerar diferentes games da época. Ela também fez parte da Avalon Hill, desenvolvedora de videogames e jogos de tabuleiro, na qual participou da produção de mais de 250 jogos.
Em 2003, aos 40 anos, Rebecca, que se identificava como mulher há anos, decidiu iniciar um processo físico de transição de gênero - lembrando que não é necessário que toda pessoa trans passe pelo mesmo. Atualmente, aos 57 anos, Rebecca é CEO da desenvolvedora de jogos Olde Sküül.