As equipes brasileiras chegaram ao VALORANT Champions, campeonato mundial do FPS da Riot, entre as menos cotadas a disputar os playoffs, e esta previsão acabou se confirmando, com FURIA, Team Vikings e Vivo Keyd caindo ainda na fase de grupos. As eliminações, no entanto, ocorreram de forma bem diferente do que a comunidade internacional imaginava, pois os três times tiveram pelo menos uma grande performance contra equipes que figuravam no hall das principais favoritas, o que mostra que, mesmo diante da decepção pela ausência de representantes nos playoffs, o Brasil sai do Champions mais fortalecido do que quando entrou.
O país, inclusive, esteve muito perto de ter uma equipe classificada para os playoffs na liderança de seu grupo: a Vikings, que chegou a ter sete match points contra a Gambit, em duelo válido pela ponta do grupo C. O time de Sacy, Saadhak e companhia abriu 12 a 5 no mapa Icebox quando a série estava empatada em 1 a 1, mas viu os russos - campeões do VCT Masters Berlin - reagirem, virarem para 14 a 12 e ficarem com a primeira colocação da chave.
No duelo desta terça-feira (7) contra a Team Secret, equipe das Filipinas estreante em grandes eventos internacionais, os brasileiros jogaram muito abaixo do nível apresentando nos confrontos contra Crazy Racoon e Gambit e perdeu por 2 a 0 sendo dominados pela Secret nos mapas Haven (13x6) e Icebox (13x7).
Embora a Team Secret tenha se mostrado uma equipe forte o bastante para avançar os playoffs, o ponto de maior atenção é em relação ao fato de VKS ter ficado a um ponto de avançar aos playoffs contra a equipe mais forte do grupo e uma das principais favoritas ao título e, no jogo seguinte, ter sido dominada por uma equipe interior à Gambit. E este é um exemplo que se aplica também a uma outra equipe brasileira que disputou o Champions, protagonizando inclusive o episódio mais controverso do Mundial até aqui.
Vivo Keyd e a polêmica do exploit de Cypher no mapa Breeze
Quem viveu situação semelhante, embora num contexto bem distinto, foi a Vivo Keyd, que protagonizou a maior polêmica da história do cenário competitivo de Valorant. No primeiro duelo contra a europeia Acend, a equipe de Heat, Murizzz e companhia protagonizou a melhor exibição de um time brasileiro num grande campeonato internacional do FPS da Riot e venceu por 2 a 1.
A VK, no entanto, equipe acabou punida após a descoberta de que JhoW havia usado por 6 rodadas do mapa Breeze um exploit no qual a câmera do agente Cypher dava uma visão de áreas não permitidas em função de um bug que já existe há alguns meses, mas ainda não foi corrigido pela Riot. Independentemente da revolta da comunidade brasileira, é preciso ressaltar que a Keyd precisava ser punida, ainda que JhoW não tenha usado o exploit de má fé.
O que pode, sim, ser discutido, é toda a condução da Riot Games no episódio. Quando houve a suspeita de que a FURIA, no duelo contra a Sentinels, poderia estar usando um exploit, a partida foi interrompida por cerca de 20 minutos. A suspeita do uso do exploit em um salto sobre uma caixa do Spike Site C do mapa Haven, acabou não se confirmando, o que prejudicou a FURIA, que vinha numa reação contra Sentinels no mapa de desempate e acabou tendo seu ritmo quebrado durante a pausa para investigação.
No caso da Vivo Keyd, a Riot só prestou atenção ao uso do exploit por JhoW após o término da partida, declarou a vitória da Acend já na madrugada do horário de Berlim e, após muita pressão da comunidade brasileira, decidiu que o mapa Breeze seria jogado novamente, mas com uma vantagem de 7 a 0 para a Acend, que foi ouvida pela desenvolvedora e aceitou as condições antes de disputar a partida. No servidor, a Vivo Keyd venceu 10 das 16 rodadas disputadas novamente no mapa Breeze, mas, devido à desvantagem inicial de 7 a 0, acabou derrotada por 13 a 10.
Embora seja preciso ressaltar que a Vivo Keyd deveria ser punida pelo uso do exploit, toda a condução da Riot no caso é passível de críticas. Os árbitros da partida têm acesso às câmeras de todos os jogadores, e uma vez cientes de que havia o bug da câmera de Cypher em Breeze, deveriam ter observado com cuidado os atletas que utilizassem o agente naquele mapa, o que só foi feito ao término do jogo.
Para piorar a situação, a desenvolvedora comunicou a decisão quando na madrugada de Berlin, dando a vitória para a Acend, anulando a própria decisão posteriormente por pressão da comunidade e, por fim, declarando a disputa de um novo jogo após ouvir se uma das equipes, no caso a Acend, aceitava tais condições. Independentemente do mérito da decisão, a desenvolvedora conduziu todo o caso da pior forma possível, e esta é uma mancha que ficará na primeira edição do Valorant Champions.
Grandes exibições contra favoritos, derrotas contundentes para "azarões"
Apesar da polêmica derrota para a Acend, a Vivo Keyd tinha condições de dar a volta por cima na competição diante da X10 CRIT, da Tailândia. Diante da grande atuação contra os europeus, a equipe brasileira chegava com um certo favoritismo para o confronto, especialmente porque a própria X10 não havia oferecido grande resistência na estreia contra a Envy.
O que se viu no servidor, no entanto, foi uma situação muito similar à do duelo entre Vikings e Team Secret: os brasileiros acabaram sufocados pela equipe do Sudeste Asiático e acabaram derrotados por 2 a 0, sem oferecer risco à X10 nos mapas Icebox (13x6) e Haven (13x5). A vitória parece ter dado a injeção de confiança que os tailandeses precisavam, pois nesta terça-feira (7) eles tiveram a revanche contra a Envy, em duelo valendo vaga nos playoffs, e venceram por 2 a 1, eliminando os vice-campeões do VCT Masters Berlin.
As classificações de duas equipes do Sudeste Asiático aos playoffs do campeonato mais importante do cenário competitivo de Valorant devem, inclusive, servir de lição para os brasileiros. Mesmo vindo de uma região que não goza dos mesmos investimos que as principais equipes da América do Norte e EMEA - especialmente as da Europa e Comunidade dos Estados Independentes - essas equipes não apenas evoluíram seu nível de jogo, como também cravaram suas respectivas classificações aos playoffs do Mundial quando tiveram a chance, algo que a Vikings não aproveitou diante da Gambit.
A evolução do Brasil é nítida, e embora a classificação à reta final do Champions não tenha sido conquistada, é inegável que as equipes do país não são mais as presas fáceis que foram nos Masters disputados em Reykjavík e Berlim. Em 2022, porém, será preciso sair do quase para que o país faça por merecer as vagas a que tem direito hoje nos grandes eventos internacionais.
KRU é o exemplo mais próximo de sucesso para as equipes brasileiras
Sorteada no chamado grupo da morte do Valorant Champions, a FURIA não esteve perto da classificação como a Vikings e nem conseguiu uma vitória - depois anulada - como a da Vivo Keyd, mas foi a equipe brasileira que apresentou mais regularidade no Champions. Nas derrotas para Sentinels (2x1) e KRU (2x1), a equipe de Xand, QCK e companhia em nenhum momento pareceu não ter chance de vitória diante dos rivais, e não é absurdo pensar que os Panteras poderiam ter vencido qualquer um dos dois jogos.
O time brasileiro, no entanto, pecou em detalhes que fizeram a diferença nos dois confrontos, desperdiçando em ambos os jogos rodadas nas quais tinha vantagem de armamento ou já contava com superioridade numérica. Caso a FURIA tivesse aproveitado pelo menos parte desses rounds, a equipe poderia estar comemorando hoje uma histórica classificação aos playoffs.
Num grupo em que a Team Liquid acabou terminando na liderança, coube a KRU, que já havia chegado aos playoffs do Masters de Berlim, fazer novamente história. Após eliminar a VK, a equipe composta por quatro chilenos e um argentino, e melhor time da América Latina, desbancou a Sentinels num duelo extremamente acirrado, eliminou os campeões do Masters Reykjavík e mais uma vez garantiram a LATAM no top 8 de um grande campeonato internacional.
A exemplo do Brasil e das equipes do Sudeste Asiático, a KRU não figura entre os times com maior potencial de investimento do mundo, mas tem construído até aqui uma trajetória sólida nos eventos internacionais de Valorant, eliminando inclusive equipes brasileiras em três eventos diferentes: Sharks (Reykjavík), Vivo Keyd (Berlim) e, mais recentemente, FURIA (Champions).
Se existe um exemplo próximo no qual os times daqui podem - e devem - se inspirar, é justamente no quinteto formado por Klaus, Mazino, NagZ, Delz1k e Keznit. Dada a tradição do Brasil em jogos de tiro em primeira pessoa, parece ser uma questão de tempo até o país ter suas primeiras campanhas de destaque no Valorant, mas para isso as equipes do país precisam fazer com que os detalhes que resultaram em derrotas no Champions pesem a seu favor nos próximos eventos. Ainda assim, a região sai muito mais fortalecida do que nos Masters anteriores, e 2022 pode marcar a virada definitiva do país no FPS da Riot.