Alerta de gatilho. Este conteúdo apresenta relato de abuso sexual.
Na última terça-feira (3), a Riot Games Brasil publicou um comunicado afirmando que o caster de Valorant Nícolas "Nicolino" Emerenciano, acusado de assédio sexual no início de julho, estava autorizado a retornar às transmissões oficiais do Valorant Champions Tour Brasil. Algumas horas depois, após novas acusações surgirem nas redes sociais, às 18h29, a empresa mudou de posicionamento e anunciou um novo afastamento de Nicolino.
Nesta quarta-feira (4), a jornalista Helena Nogueira publicou um relato de assédio sexual por parte de Nicolino e afirmou que foi ouvida pela Riot Games após as primeiras acusações contra o caster - ainda assim, a desenvolvedora chegou a permitir que Nicolino retornasse normalmente às suas atividades. "Se ter nossos casos em mãos não é o suficiente para a empresa tomar a decisão cabida, o que é?", escreveu ela.
O afastamento e retorno de Nicolino
Nicolino foi acusado de assédio em 2 de julho, por meio de redes sociais. No dia seguinte, a Riot Games Brasil anunciou o afastamento do caster.
"O VCTBR informa que, em função de informações sobre potenciais fatos envolvendo o caster Nicolino, realizará uma alteração em sua escala neste final de semana, e ele não participará das transmissões. A Riot Games segue acompanhando as informações para avaliar os próximos passos", disse a empresa.
Desde então, Nicolino deixou de usar suas redes sociais e a comunidade seguiu esperando um posicionamento referente à investigação da Riot Brasil sobre o caso.
Nicolino é autorizado a voltar ao VCT-BR, novos relatos surgem e Riot volta atrás
A Riot Games publicou o seguinte comunicado na terça-feira (3):
"Após analisar as informações que vieram a público até o momento envolvendo o caster Nicolino, a Riot Games concluiu que não houve violação das políticas da empresa e informa, por ora, seu retorno às transmissões do VALORANT Champions Tour Brazil no dia 7 de agosto. Entendemos que há espaço para melhora em condutas e estamos trabalhando junto dele no intuito de garantir que vivencie integralmente os valores da Riot".
O posicionamento da empresa irritou a comunidade, que esperava pelo compartilhamento de informações relevantes sobre o caso, como: quantas mulheres foram ouvidas na investigação, o que elas disseram e quais foram os critérios que levaram a Riot a permitir que Nicolino retornasse às transmissões do circuito competitivo brasileiro de Valorant.
A youtuber Neila publicou no Twitter um vídeo no qual se mostra revoltada com a Riot Games e incentiva seus seguidores a compartilharem a hashtag #ForaNicolino. "Vocês tem noção do que isso diz para o público de vocês? [...] Vocês estão falando assim pra gente 'Pode assediar à vontade, pode abusar de mina à vontade. Aqui na nossa empresa a gente aceita abusadores, sim. Se você assediar e for da nossa empresa, relaxa, seu trabalho está garantido aqui'".
No Twitter, a cosplayer Leticia Eubank afirmou que se sentiu ameaçada por Nicolino. Segundo ela, ele "ficava chamando as suas 'amigas' de gostosas, dizia estar bêbado e ficava insistindo por fotos da bunda, nudes, e coisas do tipo 'eu sempre gostei muito de x parte do seu corpo', 'sempre tive uma tara em asiáticas'".
Uma fonte anônima disse ao MGG Brasil que também recebeu mensagens de Nicolino no Instagram, por meio do Modo Temporário. Esse recurso faz com que o conteúdo do chat desapareça automaticamente após ser visualizado pelo contato para o qual foi enviado - o que dificulta a produção de provas e/ou a reprodução de um histórico completo da conversa.
"Ele me conheceu pelo Twitter, começou a me seguir e eu segui novamente. Depois de uns dias me chamou na DM do Twitter, falou pra eu adicionar no jogo pra jogarmos duo. Com isso o tempo foi passando e às vezes a gente mantinha um contato. Ele me seguiu no Instagram e pediu meu WhatsApp. As conversas começaram passar a ter cunho sexual quando ele começou a falar dos problemas com a namorada, falando que eles não tinham uma vida sexual ativa e ele não sabia o que fazer. Junto com isso vinha um papo perguntando sobre quais eram os meus gostos relacionados a sexo, tamanho, posições e etc. Após isso, ele ia até o Instagram, ligava o modo temporário e começava falar esse tipo de coisa que citei acima. Perguntava se poderia mandar fotos, dizia que ia se sentir culpado, mas que precisava daquilo por não ter uma relação com a namorada".
A fonte afirmou ainda que chegou a se sentir culpada, questionando-se se o fato de ter respondido as mensagens significava que ela havia dado algum tipo de liberdade ao caster, mas que quando leu diversos relatos semelhantes no Twitter, percebeu que nada daquilo era culpa dela.
Após novos relatos serem publicados por mulheres no Twitter, no fim da tarde a Riot Games publicou um novo comunicado, revisando sua decisão anterior, afirmando que Nicolino permaneceria afastado.
"Durante as últimas semanas, o nosso processo de avaliação da situação e de fatos de conhecimento da Riot foram compartilhados com a equipe do VCT-BR, para garantir que todos estavam confortáveis com as decisões tomadas até o momento com relação ao caster Nicolino. No entanto, após a publicação de nosso comunicado, tivemos discussões adicionais com o time à luz de novos relatos, e optamos por manter o afastamento do caster por período a ser definido.
Em respeito à privacidade de todos, não entraremos em detalhes. Reforçamos o compromisso de criar um espaço de inclusão e segurança em nossas comunidades e operações, e essa é a nossa prioridade no VCT-BR. Estamos abertos a ouvir todos e sempre que for preciso vamos reavaliar nossas decisões no sentido de preservar os valores nos quais acreditamos".
Ainda na terça-feira (3), Nicolino se manifestou pela primeira vez sobre o assunto.
Em seu texto, ele admite ter se aberto sobre seu relacionamento com "pessoas que não tinham absolutamente nada a ver" com sua vida amorosa, "buscando uma satisfação pessoal e totalmente egocêntrica (ainda que entendendo que as duas partes estavam interessadas e alinhadas)".
A comunidade se irritou com o fato do caster, supostamente, acreditar que "as duas partes estavam interessadas e alinhadas".
Riot pode ter ouvido vítima de assédio sexual
Na manhã desta quarta-feira (4), a jornalista Helena Nogueira afirmou ter sofrido assédio sexual por parte de Nicolino. Em seu relato, ela diz que trabalhou com o caster entre junho e dezembro de 2017 na Agência EA e que era a única mulher de sua equipe, ambiente no qual disse ter sofrido com comentários machistas e tóxicos.
Helena disse que Nicolino era seu chefe e o acusou de tê-la assediado em outubro de 2017, quando ele supostamente a segurou pelos braços, forçando-a a ficar em frente a ele, tentando beijá-la diversas vezes, enquanto ela dizia que não queria que ele fizesse aquilo.
Helena afirma ainda ter levado seu caso à Riot Games Brasil, enquanto a empresa realizava uma investigação sobre as acusações de assédio contra Nicolino.
"Levei meu caso diretamente à Riot Games em luz aos casos recentes e, mesmo assim, foi considerado que 'não houve violação das políticas da empresa'. [...] Eles ouviram meu caso, além de receberem a denúncia anônima de outras por meio de forms. E mesmo assim decidiram pelo retorno dele", disse Helena.
Até o momento, Nicolino não se manifestou publicamente sobre o relato feito por Helena.
O MGG Brasil entrou em contato com a Riot Games Brasil, questionando a empresa sobre o dia no qual Helena foi ouvida pela empresa e quais critérios foram utilizados pela direção da marca, para que Nicolino fosse autorizado a retornar ao trabalho, mesmo após ser acusado de assédio sexual. Perguntamos à Riot se outras mulheres foram ouvidas durante a investigação do caso e quais são os próximos passos que a empresa tomará diante das novas acusações. Até o momento da publicação desse texto, não recebemos uma resposta.