Atuais campeões sul-americanos de Apex Legends pela Paradox Esports após conquistarem o título da Global Series South America 2021,os brasileiros Lucas “Artinn1” Cafure, Hernandes “Besk9” dos Santos e Leandro “N3LAS” Domingos vivem a melhor fase da carreira, tanto desportiva quanto financeiramente. O título da AGLS South America garantiu ao trio o prêmio de US$ 109,3 mil (R$ 552 mil, na cotação atual dólar), e um tranquilidade para que os jogadores possam seguir se dedicando ao competitivo mesmo com a pouca visibilidade que o battle royale tem no Brasil e a pouca proximidade da EA, publisher do jogo, com o público local.
Em entrevista ao MGG Brasil, Artinn1, Besk9 e N3LAS falam sobre a ascensão e domínio da equipe no cenário sul-americano desde que os três jogadores passaram a atuar juntos, em março deste ano, a pouca visibilidade que o competitivo do jogo no Brasil, as poucas ações da EA para engajar sua comunidade na América do Sul e o sonho de jogar um mundial presencial num futuro pós-pandemia.
Formação do time, domínio na América do Sul e pouca visibilidade
O nascimento da lineup que hoje defende a Paradox passa por dois momentos distintos. O primeiro deles ocorre em julho de 2020, quando Artinn1, campeão da AGLS Online 6: South America, se junta a Besk9, campeão da segunda e terceira edições do mesmo torneio, para defender a Brazucas (atual Fenix I). Os dois já haviam jogado outras vezes juntos, mas a parceria atual éa mais duradoura. Ao lado de André “fuinha” Locatelli, a dupla deu ao ciclo vitorioso, conquistando a PGL Showdown: South America e a AGLS Autumn Circuit 3: South America.
Em novembro daquele de 2020 porém, Besk e Artinn1 deixam a Brazucas e, antes de assinarem com a Paradox, em janeiro de 2021, disputam ao lado de Perycles "PRV" Ryan alguns torneios com a tag independente Trust Yourself. Nesse período, os jogadores ficaram em quinto lugar no AGLS Autumn Circuit Playoffs: South America, torneio mais importante da região até aquele momento.
Ao assinarem com a Paradox em 30 de janeiro de 2021, Artinn1 e Besk se juntam à jogadora argentina Evelyn "Evzy" La Torre, mas a parceria durou apenas um mês devido a problemas de comunicação, com Evzy se trasnferindo para a Loto Gaming no começo de março. É aí que N3LAS, que havia tido passagens de destaque por ELITE BR YELLOW, Team Singularity e Motion Team, assina com a Paradox para jogar ao lado de Besk e Artinn1, com quem não se entendia muito bem antes de os dois se tornarem companheiros de time: “A gente meio que se odiava e se ‘farpava’ muito sempre todo jogo”, brinca o jogador, que chegou a pensar em deixar o competitivo pouco antes do convite de Artinn1 e Besk.
Desde então, a Paradox se tornou o time mais consistente da América do Sul, acumulando diversos títulos e sempre terminando pelo menos no top 4 dos campeonatos. Nos útimos meses, Artinn1, Besk e N3LAS foram campeões das edições sul-americanas da AGLS Winter Circuit 4, da GLL Masters Spring e de sete etapas da GLL Community Cups, além de um vice-campeonato na AGLS Winter Circuit 3 e um terceiro lugar na AGLS Winter Circuit Playoffs, antes de finalmente conquistarem a edição sul-americana da Apex Legends Global Series Championship. Apesar dos diversos títulos conquistados neste período, os jogadores lamentam a pouca visibilidade do cenário competitivo de Apex em toda a América do Sul.
“O destaque para a cena competitiva daqui é muito escasso. Nós até temos muitos jogadores casuais, mas a parte competitiva tem pouquíssimo apoio e visibilidade, inclusive da própria EA. As finais da Global Series da América do Sul sequer foram transmitidas no canal oficial do Apex na Twitch, diferentemente do que aconteceu nos campeonatos da América do Norte e da EMEA (Europa, Oriente Médio e Ásia). Se não fosse a BBL, não sei nem se teríamos uma transmissão oficial do maior campeonato da região. A gente teve que lutar muito para ter esse cenário, mas nos últimos meses chegou uma galera nova, que nos acompanha e quer muito nos ver jogando campeonatos lá fora”, critica Artinn1.
“Quando tem alguma campanha de divulgação sobre o jogo, nenhum pro player ou criador de conteúdo de Apex daqui é chamado. Eu entendo chamarem o Felipe Neto, por exemplo, pela visibilidade e alcance que ele tem para chamar um público novo, mas também seria importante ter pessoas da comunidade participando, pois quem já joga Apex se sentiria bem mais representado”, complementa.
Besk9, por sua vez, ressalta que a movimentação da cena competitiva de Apex Legends sempre dependeu muito da própria comunidade sul-americana. Embora reconheça os problemas relacionados à divulgação do competitivo na região, ele considera que o cenário atual ainda parece melhor do que num passado recente, e espera que essa curva de crescimento permaneça de agora em diante, uma vez que o jogo tinha uma cena bem mais movimentada na região em 2019, ano de lançamento battle royale da Respawn.
“Nós sempre tivemos que fazer as coisas por nós mesmos. Nunca houve grande investimento por parte de alguma empresa ou um grande grupo de entretenimento para criação de conteúdo sobre o Apex. Tudo que acontece no competitivo somos nós que temos que divulgar e correr atrás. Mas agora, com esse campeonato da Global Series, que foi muito grande, inclusive em premiação, eu sinto que estamos começando a alcançar uma visibilidade um pouco maior e conseguindo chamar um público novo, o que aumenta a cena casual e competitiva. Esperamos que dê certo”, projeta.
N3LAS ressalta que a falta de novidades relacionadas ao jogo também foi um dos fatores para que Apex perdesse fôlego na América do Sul. Ainda que o título continue recebendo novos personagens (17 até o momento), sendo Valkyrie a mais recente adição ao elenco, o jogador sente que o battle royale precisa inovar mais para expandir sua cena para novos públicos. Em relação ao competitivo, N3LAS sente que a EA cometeu erros graves em relação à cena sul-americana, inclusive realizando campeonatos online que jogadores da região precisavam enfrentar equipes da América do Norte com enormes problemas de conexão. Ele, no entanto, elogia a decisão de se separar as duas regiões nos eventos online
“No competitivo, começaram a organizar uns campeonatos aqui na América do Sul em que a gente tinha que se classificar para jogar com os pessoal do NA, mas a desvantagem era muito grande, porque a gente chegava a jogar com 300 de ping contra os melhores times do mundo. Todos os jogadores da davam o seu melhor para mostrar a força da nossa região, mas era uma situação muito difícil”, ressalta.
“Hoje as coisas mudaram bastante, com a América do Sul tendo seus próprios eventos principais, como foi a Global Series, e vários jogadores de console entrando no competitivo e migrando para o PC, o que ajuda bastante a aumentar a cena daqui, que ainda é pequena. Na América do Sul, temos uns 10 times, ou até menos, que recebem salário para jogar.”
Comunicação com a EA e esperança sobre volta do presencial
Apesar das críticas à EA em diversos aspectos, Besk9 ressalta que a comunicação não é uma delas. Segundo o jogador, todos os times são constantemente informados sobre o calendário de eventos oficiais com organização ou suporte do estúdio, o que permite os jogadores se prepararem para o circuito de campeonatos com antecedência. De 13 a 15 de março de 2020, seria realizado no Texas a primeira edição do Apex Legends Global Series Major, evento que reuniria os melhores times de várias regiões do mundo, mas foi cancelado em função da pandemia de Covid-19. Ainda assim, a EA direcionou toda a verba do torneio para os circuitos competitivos regionais, culminando no Global Series Championship.
“Eles sempre nos mantiveram atualizados sobre tudo relacionado ao competitivo, disso eu não posso me queixar. Somos informados sobre todos os campeonatos e tudo que eles estão planejando em relação a torneios. Nessa parte da comunicação, o suporte sempre foi muito bom, inclusive com a verba dos campeonatos presenciais que estavam planejados sendo voltada para os eventos online de cada região. Agora, devemos ficar uns dois ou três meses sem torneios oficiais da EA, mas na volta a nossa esperança é que haja um grande evento presencial e nosso time seja convidado, já que somos os atuais campeões da América do Sul”, almeja o jogador.
Artinn1 se mostra esperançoso em relação ao competitivo. Segundo o jogador, a promessa da EA é que o competitivo de Apex Legends voltará com um circuito renovado e mais investimento em premiações. Apesar dos mais de US$ 109 mil ganhos com o título da Global Series South America, a lineup da Paradox foi, entre as campeãs regionais, a que menos faturou com o título. Os campeões das regiões norte e sul da APAC (Ásia-Pacífico), levaram o prêmio de US$ 177 mil, enquanto os vencedores da Global Series da América do Norte e EMEA levaram mais de US$ 265 mil pela conquista.
“Antes do Covid, eles já tinham todos os campeonatos presenciais estruturados: seriam seis torneios mais o Major do Texas, e o dinheiro realmente acabou revertido para os campeonatos regionais. Minha maior crítica é em relação à parte do marketing aqui, pois somos a região com menos visibilidade, mas a promessa da EA é que na volta do circuito, o investimento será muito maior, tanto no marketing quanto na premiação. A ideia deles é ter um circuito bem mais renovado e melhor para os jogadores, e nossa esperança é que isso se concretize”, comenta.
N3LAS frisa que, em relação às outras regiões, a premiação para os torneios da América do Sul é baixa, o que prejudica a profissionalização do cenário e o próprio interesse de organizações em investir na contratação de lineups. Ele ressalta ainda que o prêmio conquistado com o título da Global Series dará à lineup muito mais tranquilidade para seguir no competitivo.
“No quesito premiação, a nossa é bem baixa em comparação às outras regiões, e isso dificulta muito que tenhamos mais jogadores profissionais. Tem muita gente que joga sem receber salário, mas a gente espera que com essas promessas de renovação, a nossa região seja olhada com mais carinho e possamos ter uma cena mais profissionalizada. Esse prêmio da Global Series nos deu uma tranquilidade enorme. Poderemos nos manter com essa grana por um bom tempo, independentemente do que seja anunciado mais para frente”, frisa.
Potencial da região em campeonatos internacionais
Ao avaliar o nível do cenário sul-americano e compará-lo com o de outras regiões do mundo, Artinn1 considera que a região tem condições de jogar em alto nível nos campeonatos internacionais quando o circuito de eventos presenciais for retomado. Para o jogador, mesmo com pouco investimento, a América do Sul é um celeiro de talentos do Apex, e o nível competitivo da região pode se tornar ainda mais alto se a renovação do circuito prometida pela EA, com melhor marketing e mais investimentos, se concretizar e mais organizações investirem na região.
“São poucos times profissionais na América do Sul, mas desses poucos, a grande maioria tem um potencial enorme de jogar em altíssimo nível lá fora. Nós acompanhamos todos os cenários e vemos que temos condições de amassar várias equipes que são vistas entre as mais fortes dos Estados Unidos e da Europa, por exemplo. A grande diferença, para mim, é que num campeonato entre 20 times lá de fora, por exemplo, os 20 são muito bons, e aqui nós temos 10 muito bons e outros 10 que não são tão fortes, o que acaba desbalanceando o nível dos nossos campeonatos e prejudica um pouco as melhores equipes daqui”, pontua.
Besk9, por outro lado, demonstra um misto de euforia e ansiedade pelo anúncio do novo circuito, e espera finalmente ter a chance de mostrar num evento em lan o nível de jogo de sua equipe contra os melhores times do mundo. Se depender da confiança do jogador, os voos do trio campeão sul-americano pela Paradox não se resumirão à região.
“Tenho certeza que o próximo grande evento que a EA anunciar será o maior da história do Apex, e sendo bem sincero, confio muito na força do nosso time. É claro que é impossível cravar um resultado, mas temos um nível alto o suficiente para trocar com qualquer time lá de fora, e a nossa confiança nunca esteve tão alta.”