Há dez anos, Mortal Kombat 9 chegava às lojas e promovia uma verdadeira revolução na série em vários aspectos, e talvez a maior dela tenha sido seu apelo no aspecto competitivo dos jogos de luta, algo até então inédito para a franquia. Lançado em 19 de abril de 2011, o título da NetherRealm chegava como um reboot da história da franquia, mas o recomeço se daria também em diversos outros aspectos, como a entrada definitiva de MK no mundo dos esports.
Àquela altura, os fighting games já haviam recuperado grande parte dos holofotes conquistados na década de 90, período áureo dos fliperamas, principalmente com o renascimento da cena competitiva. Street Fighter IV, lançado em julho de 2008 nos arcades e em fevereiro de 2009 nos consoles, foi o grande responsável por essa reviravolta, e abriu um filão para os títulos que vieram nos anos seguintes e souberam surfar essa onda.
Mortal Kombat 9 foi um desses jogos, trazendo uma jogabilidade que era uma espécie de versão modernizada e mais balanceada dos três primeiros títulos da série, e rapidamente se tornou um sucesso de crítica, público e competitivo. Nesta lista, o MGG Brasil separou cinco motivos que fizeram MK9 resgatar a clássica franquia, trazê-la para os esports e o seu legado dez anos depois.
Finalmente, um game pensado para o competitivo
Sejamos sinceros. Embora os três primeiros jogos de Mortal Kombat tenham feito enorme sucesso nos anos 90, eles nunca foram títulos realmente pensados para quem levava o aspecto competitivo mais a sério, pois tinham uma série de falhas graves de programação que permitiam combos infinitos e o uso de mecânicas que "quebravam" o jogo.
Em Mortal Kombat 4, Deadly Alliance, Deception e Armageddon, os combos infinitos foram praticamente eliminados, mas os jogos eram muito mais voltados às jogatinas casuais, e o balanceamento nunca pareceu uma preocupação real de Midway, estúdio antecessor da NetherRealm, naquele período.
Com Mortal Kombat vs DC Universe, último jogo da franquia antes do reboot, Ed Boon e companhia pareciam já fazer alguns testes do que seria implementado alguns anos depois, mas ainda faltava bastante polimento. Em abril de 2011, Mortal Kombat 9 chegava com um sistema de combate que trazia muitos elementos do segundo e terceiro jogos da franquia, mas pela primeira vez com um balanceamento que tornava o jogo viável para quem quisesse estudá-lo a fundo e disputar torneios.
A implementação de barras para ataque, que deixavam os ataques normais mais poderosos quando utilizadas, e o sistema de Raio X, um movimento especial que consumia as três barras do personagem, trouxeram um fator de comeback (virada) que fez enorme sucesso. A presença de personagens fortes e com estilos de luta de variados também pesou para que o jogo crescesse no competitivo e logo estivesse nos principais torneios de jogos de luta do mundo, com destaque para as edições de 2011 e 2012 da EVO, o mais importante evento de fighting games do mundo. Os dois campeonatos foram vencidos pelo americano Carl "Perfect Legend" White, que na ocasião atropelou os oponentes com seu Kung Lao.
A Warner Games e a NetherRealm perceberam esse apelo do jogo e rapidamente começaram a investir dinheiro em torneios, acrescentando inclusive US$ 23 mil de premiação bônus na EVO 2012 de MK9, uma prática continuaria em Mortal Kombat X, Mortal Kombat 11 e nos games da série Injustice, que também passaram a integrar a line-up da EVO.
Reunião dos melhores personagens da franquia
Grande parte do sucesso dos primeiros Mortal Kombats se deve a um elenco repleto de personagens que ficaram marcados na memória do público. Nomes como Liu Kang, Kung Lao, Kitana, Sonya Blade, Sub-Zero, Scorpion, Mileena e Jax fizeram a cabeça do público nos anos 90, mas muitos deles não apareceram nos títulos seguintes e, pior, foram substituídos por personagens sem carisma e que viraram motivo de piada pelo péssimo design.
Ciente dos vários erros cometidos no elenco de títulos anteriores, a NetherRealm procurou fazer o que os fãs pediam há muito tempo: reunir todos os personagens mais queridos pelo público em um só jogo, com designs que remetiam a seus trajes clássicos, mas agora com gráficos muito melhores e maior riqueza de detalhes.
A estratégia deu certo, e mesmo com críticas sobre o visual excessivamente sexualizado das mulheres, Mortal Kombat foi extremamente elogiado por contar com todos os personagens que eram os queridinhos do público nos jogos clássicos da série.
Modo história caprichado
De modo geral, jogos de luta nunca tiveram um modo história digno de elogios, especialmente nos anos 90, e Mortal Kombat não era exceção à regra. Com os títulos de grande orçamento caprichando cada vez mais na forma de elaborar uma trama, a NetherRealm acabou decidindo fazer o mesmo em MK9.
O reboot da série permitiu que em um só jogo os eventos dos três primeiros games fossem contados de forma muito mais detalhada, e pela primeira vez o público conseguiu conhecer em mais detalhes a histórica rivalidade entre Sub-Zero e Scorpion, a ascensão e queda de Shang Tsung e Shao Kahn, as mortes de personagens como Kung Lao, Kitana e Liu Kang, entre outros aspectos.
O jogo ainda alterou vários eventos da linha do tempo original, como Raiden matando acidentalmente Liu Kang antes de finalmente ter a chance de derrotar Shao Kahn com ajuda dos Deuses Ancestrais. O título também abriu as portas para uma linha inteiramente nova de eventos, narrada em Mortal Kombat X e 11.
Ainda que o capricho no modo história não tenha relação direta com a entrada do game nos esports, o aumento do interesse do público geral ampliou a base de jogadores e, consequentemente, a audiência de MK9 em torneios, e esse crescimento de popularidade se deve também ao tempo dedicado em contar a história do jogo com maior cuidado.
Excelentes gráficos para um jogo de 2011
Quem olha para os gráficos de Mortal Kombat 9 hoje não vê nada de especial neles, mas em 2011 os visuais impressionaram o público que era fã da série e de jogos de luta em geral. O dinheiro investido pela Warner em visuais dignos dos AAA da geração do PlayStation 3 e do Xbox One valeu a pena, e o interesse pelo reboot da série foi instantâneo. Os novos fatalities, agora com enorme riqueza detalhes - e gore - também se beneficiaram imensamente disso.
Diferentemente dos jogos da Capcom lançados naquela geração, como Street Fighter IV e Marvel vs Capcom 3, Mortal Kombat 9 apostou no fotorrealismo possível para a época em vez de um estilo artístico mais cartunesco, mantendo uma tradição presente desde o primeiro título da série.
O enorme cuidado nos visuais acabou sendo um dos pontos mais elogiados do jogo e, somado ao modo história bem trabalhado, ajudou a atrair o interesse não apenas de fãs de longa data, como também de um novo público que conheceu a série a partir daquele título.
Legado para os jogos seguintes
Não é exagero dizer que Mortal Kombat 9 foi, ao mesmo tempo, um resgate da franquia e o início de uma nova era para os desenvolvedores remanescentes da Midway que fundaram a NetherRealm. Hoje, Mortal Kombat é uma das franquias de jogos de luta mais rentáveis do mundo, e nada disso teria ocorrido se MK9 não tivesse feito tanto sucesso.
Segundo o site VGChartz, o jogo que serviu como recomeço da série vendeu, somente nas versões de PS3 e Xbox 360, mais de 5 milhões de cópias. Em Mortal Kombat X, com o interesse pela série já recuperado, foram mais 11 milhões de cópias vendidas, enquanto Mortal Kombat 11 vendeu mais de 8 milhões de unidades entre abril de 2019 e outubro de 2020.
No aspecto competitivo, também existe um "antes e depois" de Mortal Kombat 9 para a NetherRealm. Depois do lançamento do game de 2011, o estúdio sempre teve um de seus títulos na lineup principal da EVO, com MK9 aparecendo nas edições de 2011 e 2012, Injustice: Gods Among Us presente em 2013 e 2014, Mortal Kombat X em 2015 e 2016, Injustice 2 em 2017 e 2018 e Mortal Kombat 11 na EVO 2019 e na edição online de 2021.
Vale lembrar que antes de MK9, a franquia nunca esteve presente no maior evento de jogos de luta do mundo, sendo preterida inclusive por série que, apesar do menor sucesso comercial, tinham jogos bem mais atrativos competitivamente, como Dead or Alive, Virtua Fighter, Capcom vs SNK e Soul Calibur. Ou seja, o legado do game que resgatou a série permanece vivo até os dias de hoje.