A vida é feita de relacionamentos, que mesmo quando acabam, são capazes de deixar boas lembranças e grandes aprendizados. Gustavo "Melao" Ruzza sabe bem disso. Em 15 de dezembro de 2020 ele anunciou que estava deixando o Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLoL), para integrar a equipe de casters da Valorant Champions Tour 2021 no Brasil.
No entanto, este não é o primeiro relacionamento que Melao "terminou". Para ter a chance de se dedicar ao LoL, como fez nos últimos oito anos, o comentarista deixou a psicologia - com quem fez as pazes posteriormente, já que faz terapia há anos. O caminho que ele percorreu da faculdade aos esports se transformou em um episódio da 2ª temporada da série Until 18, criada pela Red Bull.
Entre análises
Em seu episódio, Melao conta que sentiu muita pressão no último ano do ensino médio para escolher qual curso fazer na faculdade. "Eu tinha feito muita terapia quando era criança e adolescente. Voltei a ter esse espaço para falar um pouco sobre o que estava sentindo e isso foi essencial. Nesse meio tempo eu tinha que escolher o que fazer no vestibular e não pensei em absolutamente nada a não ser em fazer psicologia".
Depois de conquistar o tão sonhado diploma e até mesmo atender pacientes que procuravam ajuda psicológica, um novo desejo surgiu: fazer parte do cenário competitivo de League of Legends. Ao longo do vídeo, Melao conta como foi deixar para trás oito anos de relacionamento com a psicologia e investir em uma carreira que parecia empolgante, mas assustadora.
No vídeo, você descobre quais foram as motivações de Melao para se apaixonar pelos esports. O episódio também conta com a participação dos pais do analista, que acompanharam e apoiaram sua jornada.
As lições do League of Legends
"São dez anos de relação com League of Legends. Oito anos trabalhando com ele. Eu joguei, competi e comentei o primeiro qualify do primeiro Campeonato Brasileiro, lá em 2012. Sinto que é terminar um relacionamento e mesmo que tenha sido uma decisão minha, é difícil pra caramba".
Estas são algumas das primeiras palavras ditas por Melao no vídeo em que o analista revelou que não faria parte da equipe de transmissão do CBLoL 2021. Vídeo este, que segundo o próprio Melao, teve diversas versões.
"Eu gravei vários vídeos, vários. O primeiro tinha 15 minutos, e eram 15 minutos chorando, falando nada com nada. O segundo tinha 10, aí eu até 'upei' ele e mandei pra algumas pessoas darem uma olhada, mas eu achei que estava muito pessoal, eu não queria expor tudo aquilo. Depois de uns dias eu gravei o que foi pro ar e aquilo foi tudo o que eu queria ter falado mesmo".
Quem acompanhou Melao durante seus oito anos nas transmissões oficiais de inúmeras edições do CBLoL, Mundial, Rift Rivals, entre outros projetos e torneios, sabe que ele é muito amado, mas que também recebeu muitas críticas. O ódio disfarçado de opinião quase fez com que ele perdesse sua essência, mas acabou se transformando em lição.
"Acho que o maior aprendizado que estou levando do LoL é que eu entendi nos últimos dois, três anos, que a forma como eu construí minhas opiniões e análises, puxava muito o lado negativo da coisa, sabe? Quando eu comecei a 'bater' mais, o público começou a me acolher um pouco melhor e eu passei a 'apanhar' menos, porque é isso né? Quando você trabalha emitindo opinião, e sobre algo que desperta a paixão das pessoas, é muito complicado lidar com isso. Olhando pra trás, percebi que fui para esse lado negativo buscando validação, mas isso era pior, puxava mais negatividade e também não era o que eu queria pra minha vida, não queria isso na minha intimidade, porque não sou assim. Sou a pessoa que sempre enxerga o copo meio cheio".
Nas respostas do anúncio de ida para o Valorant, Melao recebeu muito carinho da comunidade brasileira do LoL. Algo que o marcou tanto quanto certas lembranças que serão comentadas em breve.
"Infelizmente as pessoas que tem algo ruim pra falar de você são mais vocais do que as que tem algo de legal pra falar, e nessa oportunidade as pessoas que tinham algo legal pra falar, resolveram falar. Foi muito gostoso. Ainda existe, mas um pouco menos agora, uma grande Síndrome do Impostor, então pude ter uma ideia um pouco maior do que foi meu trampo nos últimos oito anos no jogo, na comunidade. Foi muito renovador. Foram dias com muitos ciclos sendo fechados. Fiz o último Sem Dodge do LoL, o último Late Game Show. Foi muito gratificante sentir todo esse carinho. Foram muito menos comentários negativos do tipo 'Finalmente foi embora' e muito mais comentários positivos".
As lembranças de Summoner's Rift
Foram inúmeras "zicas", MVPs para o Gabriel "Revolta" Henud, gravatas borboletas e análises que marcaram a carreira de Melao no CBLoL. Cada fã do analista deve ter uma memória preferida relacionada ao caster.
Quando questionado sobre quais eram os seus momentos preferidos durante toda a sua jornada no League of Legends, Melao respondeu que era impossível escolher um momento só, mas logo revelou como o Mundial de LoL de 2015 foi especial para ele.
"A cobertura do meu primeiro mundial em 2015, in loco, foi a realização de um sonho, Fomos para Paris, na França, cobrir a Fase de Grupos para acompanhar a paiN Gaming, voltamos ao Brasil e depois fomos à final lá em Berlim, na Alemanha. Disso eu tiro dois grandes momentos: ter conhecido e entrevistado o Faker. Logo depois de ele ter sido campeão, troquei uma ideia com ele, ele falou qual skin escolheria por ter vencido o Worlds, e eu vi ele ensaiando algumas vezes aquela cambalhota que ele deu no palco um dia antes" contou Melao enquanto ria.
E como todo profissional que trabalha no meio dos esports, Melao também tem seus próprios ídolos. Um deles o analista também teve a chance de encontrar naquele Mundial: Marcus "Dyrus" Hill.
"O ponto alto foi a entrevista que eu fiz com o Dyrus, que era top laner da TSM, que foi um cara que eu admirei muito desde 2011, quando eu comecei a jogar e acompanhar campeonatos e streams. Ele terminou os jogos no palco, deu entrevista para a Eefje "Sjokz" Depoortere, anunciou a aposentadoria e logo depois que ele saiu de lá, deu uma entrevista para mim e foi muito emocionante. Quando acabou a entrevista eu falei pra ele 'Cara, eu tô falando sério, eu sou muito fã seu e do seu time!'. Na época, minha foto de perfil no WhatsApp era eu com minha jaquetinha da TSM. Eu mostrei a foto para ele e falei 'To falando sério'. Ele abriu o maior sorrisão e me deu um abraço. Foi surreal".
Radiante
Valorant foi anunciado pela Riot Games em outubro de 2019, durante o evento do aniversário de 10 anos do LoL. Foi lá que Melao teve certeza de que trabalharia com o jogo, que na época, se chamava apenas "Project A".
"Eu me apaixonei pelo Valorant no dia que eu vi o vídeo dele na festa de 10 anos do LoL. Vimos o vídeo em uma salinha, a gente saiu para uma parte em que estava todo mundo comendo e conversando, e eu falei 'Vou trabalhar com esse jogo'. E agora eu vou trabalhar com esse jogo. Ter a oportunidade de novo de começar do começo em um cenário é muito gratificante".
Lançado em 2009, League of Legends teve um grande caminho a percorrer, viu questões como estrutura e profissionalização crescerem aos poucos e, querendo ou não, abriu as portas para que Valorant pudesse começar sua jornada no cenário competitivo de maneira tão promissora e séria.
Muitos fãs e jogadores já sonham com o sentimento de uma grande final em estádio, premiações milionárias e reconhecimento que ultrapassa barreiras - algo que os fãs do LoL têm há bastante tempo. Mas Melao está tranquilo.
"Eu não tenho pressa e nem ansiedade com nada disso. Uma coisa que eu sempre entendi no LoL é que não estávamos fazendo as coisas para amanhã, para semana que vem, a gente fazia para durar muitos anos, para estar aí, para ser um legado gigante. Tenho zero ansiedade para nada e quero ver até onde vamos, o que vamos construir. No LoL eu tinha muito essa ansiedade, mas lá já fiz tudo isso, então essas coisas não são mais as grandes novidades. Quero só ver até onde vamos. Quero ver o que o Valorant tem reservado para mim e para todo mundo".