Um dos técnicos mais experientes do cenário brasileiro de Counter-Strike: Global Offensive, Luís "Peacemaker" Tadeu também tem sido figura cada vez mais frequente nas transmissões internacionais da ESL, na função de analista. Durante o pré-jogo, intervalos e pós-jogo, o profissional utiliza grande parte da experiência em passagens por equipes como Tempo Storm, Team Liquid, Heroic, MAD Lions e, mais recentemente, Imperial para apontar acertos, erros e dissecar as estratégias utilizadas pelos melhores times do mundo nas principais competições organizadas pela ESL.
Embora no passado tenha participado de transmissões de eventos como a ESL Pro League Season 4, como analista, e da Gamers Club Masters V, como comentarista, foi a partir do fim de 2022 que Peacemaker passou a ser uma figura mais frequente nas mesas de análise, com destaque para o IEM Rio Major 2022, IEM Katowice 2023 e, mais recentemente, a IEM Rio 2023, cuja fase de playoffs foi realizada no último fim de semana, na Jeunesse Arena, Barra da Tijuca.
Em entrevista ao MGG Brasil durante a final entre Vitality e Heroic na IEM Rio, Peacemaker falou sobre as primeiras experiências como analista, os planos de ainda atuar como técnico no CS:GO, o desejo por mais diversidade nas mesas de casting mundo afora e analisou as chances da FURIA, melhor equipe brasileira no cenário internacional desde o segundo semestre de 2019, no BLAST Paris Major 2023.
ESL Pro League Seson 4: O primeiro trabalho como analista
O primeiro trabalho de Peacemaker como analista ocorreu na ESL Pro League Season 4, disputada em 2016, em São Paulo. Na época, o treinador havia saído recentemente da Team Liquid e acabou convidado para participar da mesa brasileira de transmissão e, posteriormente, participou também da mesa internacional de casting do evento. "Peace" avaliou a experiência como positiva, mas deu continuidade à carreira como treinador e só voltaria a trabalhar de forma regular com a ESL a partir do IEM Rio Major 2022.
"Eu fiz a transmissão pela stream brasileira e depois fui chamado para participar da transmissão na arena mesmo, com o time internacional da ESL, e foi lá que eu conheci mais a fundo esse universo como caster. Depois disso eu participei de uma mesa de transmissão em Katowice, não me lembro exatamente do ano, e foi a partir daí que eu percebi que aquilo era algo que eu gostava de fazer e pudesse vir a investir mais a fundo no futuro", relata.
Peacemaker entrou para o projeto da Imperial como técnico tendo como um dos grandes objetivos disputar como técnico o IEM Rio Major 2022. No entanto, a saída da organização pouco após a boa campanha no PGL Major Antwerp causou uma mudança completa de cenário. Sem contrato com nenhuma equipe, o treinador acabou convidado pela ESL para mais uma vez trabalhar como analista, como integrante fixo da mesa internacional de transmissão durante todo o evento.
"Quando eu saí da Imperial, no ano passado, eu me vi numa situação em que eu não estaria no Major do Brasil, atuando como coach, e fiquei bem frustrado. Daí surgiu o convite da ESL para participar da mesa de análise no Brasil, o que fazia todo sentido para eles também, e foi aí que eu comecei a trabalhar com eles de forma mais regular. A ESL gostou do meu trabalho, me chamou pra ser analista na IEM Katowice este ano e agora estou aqui na IEM Rio”
Peacemaker revela que, embora ainda tenha o desejo de trabalhar como técnico, também se sente totalmente à vontade na função de analista hoje, e acredita que este pode ser um caminho a ser seguido também por outros profissionais que não queiram mais trabalhar como treinadores ou que não tenham vínculo com nenhuma organização. Ele cita que a própria experiência anterior com jogadores que disputam os eventos acrescenta qualidade à transmissão.
"Eu já trabalhei com alguns dos jogadores que disputam esses grandes campeonatos, tanto brasileiros quanto estrangeiros. Daqui da IEM Rio, eu trabalhei com o Fallen, o VINI e Boltz na época da Imperial. Da Heroic, eu já trabalhei com o Sjuush e Stavn, e na época da Liquid trabalhei com o S1mple e Elige lá atrás, em 2016, quando fomos fomos vice-campeões de Major perdendo para a SK na final. Então, é um tipo de experiência que, acrescenta bastante à transmissão. O mesmo acontece com o YNK, que já foi coach do MIBR e FaZe Clan e voltou para o casting com uma bagagem ainda maior”
Desejo por mais casters de diferentes regiões
Historicamente, as mesas de casting são formadas por narradores, apresentadores, comentaristas e analistas norte-americanos e europeus, com algumas poucas exceções. Peacemaker considera que uma mesa de casting mais diversa, com representantes de diferentes regiões, é benéfica para as transmissões, pois trazem diferentes visões sobre o cenário e conhecimentos sobre países fora do círculo das principais potências do Counter-Strike mundial.
"Acho importante termos analistas de diferentes regiões, como é o caso do Bleh, da Índia, pois ele, por exemplo, traz conhecimento de uma região que tem menos visibilidade e poucas pessoas conhecem a fundo, até mesmo na mesa de casting. Então, ter analistas de diferentes partes do mundo acrescenta diferentes visões e traz uma diversidade maior de regiões que é extremamente benéfica para a transmissão. Eu converso muito com a ESL sobre isso, e quando eu falo que precisa ter um caster daqui, não precisa ser necessariamente eu, mas é importante que todos os cenários sejam representados também na mesa de transmissão. Quanto mais esse leque for ampliado, melhor para a comunidade, para os profissionais e acredito que para a própria ESL e outras organizadoras de torneios", opina
Trabalhar como técnico novamente ainda é uma possibilidade
Sem clube após uma curta passagem pela Los + One, Peacemaker permanece trabalhando como analista a cada novo convite da ESL e se sente bastante confortável na função de analista, mas não descarta voltar a trabalhar como técnico. O brasileiro, no entanto, frisa que só aceitaria uma proposta hoje se fosse para ingressar num projeto no qual acreditasse e tivesse autonomia para tomar decisões importantes em relação à equipe. Além disso, ele revela uma preferência por projetos com metas a longo prazo e menos imediatistas.
"Eu acho que tudo vai depender muito do projeto que aparecer e da minha autonomia para trabalhar da maneira que acredito ser a correta para o time apresentar resultados. Eu tenho uma vivência e uma experiência que, acredito, podem acrescentar muito para várias equipes, brasileiras ou estrangeiras, mas tem que ser um projeto correto, algo que faça sentido para mim. Eu sou um técnico bem ativo nas tomadas de decisão, carrego uma bagagem de vários anos no cenário e tenho uma experiência de ajudar na evolução de vários jogadores do cenário. Pude fazer isso, principalmente, nos meus trabalhos no exterior, consegui ajudar bastante a Imperial no primeiro semestre de 2022, mas precisa ser algo que seja bem a minha cara e que me dê liberdade para trabalhar como acredito ser o correto", argumenta.
"Não é que eu tenha que decidir tudo, longe disso, mas eu preciso sentir que a organização confia no meu trabalho, no meu planejamento e na forma como eu acho que a equipe deve evoluir. Não existe isso de levar um time ao topo em seis meses, não é uma expectativa real. É muito difícil você pegar uma equipe com vários grandes talentos do Brasil e fazer com que eles em virem uma grande potência mundial num curto espaço de tempo. Se fosse fácil, todo mundo faria isso, mas não é a realidade. O importante é que seja um projeto que faça sentido para mim, seja no Brasil ou no exterior, mas eu pretendo, sim, continuar como técnico, desde surja a oportunidade correta."
Expectativas para a FURIA no BLAST TV Paris Major 2023
Ao analisar as chances da FURIA no BLAST TV Paris Major 2023, Peacemaker acredita que a equipe vive um momento decisivo da temporada. Para o analista da ESL, a organização vive um momento de pressão para conquistar grandes títulos, e a cada novo campeonato que o título não vem, ela aumenta. Para o Major, "Peace" frisa que qualquer resultado da org diferente de uma classificação aos playoffs deverá resultar em mudanças na equipe.
"Eu acho que a FURIA tá num momento delicado como time. Eles jogaram aqui no Rio, demonstraram evolução, foram bem até um certo ponto, só que acontece algo quando eles têm essas partidas no palco, com pressão envolvida, eu sinto que eles ainda não conseguem ultrapassar essa barreira que eles têm como equipe. Existe, sim, uma pressão muito forte da torcida para eles levantarem um grande troféu e consolidarem como um time capaz de ganhar grandes campeonatos", pontua.
"O que eu espero da FURIA no Major é que eles continuem indo bem, pois qualquer outro resultado da FURIA que diferente de playoffs é frustrante. Eles atingiram um patamar como equipe que qualquer resultado diferente de playoffs já é uma decepção, e não passar essa barreira dos títulos, que outros times em situação similar já superaram no passado, gera uma pressão extra para eles próprios. É claro que que se você não consegue ultrapassar esse nível, alguma coisa tem que mudar, seja de jogadores, coach ou, às vezes, apenas de planejamento mesmo. Existem equipes que conseguiram mudar de patamar sem necessariamente mexer nas peças, e esse plano de ficar na Europa fazendo bootcamp parece ser mais uma aposta nesse sentido. Acho que esse Major de Paris vai ser um divisor de águas para a organização repensar o que quer para o futuro", conclui Peacemaker.