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Riot Games ainda tem muito a resolver com VALORANT Game Changers

Riot Games ainda tem muito a resolver com VALORANT Game Changers
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VCT Game Changers já é mais do que apenas um torneio para evolução

Riot Games ainda tem muito a resolver com VALORANT Game Changers

Desde o começo do marketing do cenário inclusivo de VALORANT, a Riot Games deixou claro que os torneios exclusivos para mulheres e pessoas não-binárias seriam tratados como torneios de transição. Isto é, eles somente existiriam como uma forma de preparar as jogadoras para jogarem os torneios mistos globais. Mas não é de hoje que as players criticam o formato da liga inclusiva.

Se uma equipe inclusiva se classificasse para o VCT Challengers, por exemplo, ela teria que escolher entre se dedicar para a Fase Regular - que aconteceu entre 17 de janeiro e 8 de março - ou se dedicar para qualificatórias do Game Changers, que aconteceram entre 23 de janeiro e 6 de março.

E é claro que não dá para deixar passar a oportunidade de se garantir como a melhor equipe inclusiva do cenário nacional. Afinal, times de todo o mundo têm um objetivo em comum: ser o melhor de sua região para conseguir se tornar o melhor de todo o mundo. Temos uma lista gigantesca de jogadoras que buscam ser referência em sua função, e a cada split um talento novo é descoberto. E, conforme visto no último evento, há mais de 200 mil torcedores acompanhando essa trajetória ao longo do ano.

Ideias conflituosas

Essa medida foi possivelmente pensada para evitar que o cenário do FPS se desenvolvesse de forma similar ao do LoL, no qual mulheres e pessoas não-binárias são raramente inclusas. No território nacional, por exemplo, nunca houve mais de 10 mulheres jogando simultaneamente as ligas principais em 10 anos de competitivo, que sofreu com a demora de uma política de inclusão e incentivo.

No caso do LoL, esse processo se encaminha mais lentamente do que no VALORANT, jogo que já nasceu direcionado para ter uma forte comunidade inclusiva. No Game Changers Championship 2022 o pico de espectadores simultâneos foi de 239 mil; no mesmo ano, o diretor de parcerias da Riot revelou que 30% a 40% da base de players do game é composta por mulheres.

Isso seria um ótimo exemplo para um cenário em desenvolvimento - se o calendário da Riot Games não restringisse o espaço das equipes inclusivas. A quantidade de qualificatórias e torneios de terceiros acabam impedindo que as jogadoras se dediquem igualmente para os torneios mistos, que deveriam ser primariamente o objetivo final.

Após vencer o VCT Game Changers Brazil Series 1, a jogadora Natalia "Daiki" Vilela utilizou parte de seu tempo de entrevista para dizer que o foco final permanece sendo o torneio misto, e comentou que gostaria de ter menos qualificatórias da liga inclusiva para poder focar no misto. Já Taynah "tayhuhu" Yukimi, da LOUD, disse no podcast MD3 que seu maior sonho é chegar ao cenário misto.

Mesmo com um calendário cheio, a Riot ainda insiste em tratar o Game Changers geral como uma série de torneios especiais - embora no VALORANT eles já tenham tomado uma proporção maior do que no LoL. Arrisco dizer que, hoje, as equipes inclusivas da Team Liquid e da LOUD têm duas das maiores torcidas do cenário nacional. E a desenvolvedora já compreende o interesse geral por essa liga.

Para reafirmar sua posição, na última semana a Riot revelou que o VCT Game Changers Championship, mundial inclusivo de VALORANT, acontecerá na Arena CBLOL, nos estúdios da publisher em São Paulo.

Essa notícia acabou irritando uma parte da comunidade e, especialmente, os espectadores do cenário inclusivo ao redor do mundo. Até então, todos os eventos internacionais do FPS que aconteceram em São Paulo foram sediados no Ginásio do Ibirapuera. Enquanto o Ginásio tem capacidade para comportar cerca de 10 mil torcedores, o número de cadeiras da Arena se limita a 150.

Em resposta às críticas, Leo Faria, diretor global de VALORANT, comentou que a escolha do estúdio local para a final do Championship vai de acordo com os ideais da desenvolvedora para o torneio:

Acreditamos que nossos estúdios e locais de tamanho semelhante em todo o mundo são a escolha certa para o torneio. Não estamos tentando aumentar o Game Changers Championship para o tamanho do Masters e Champions. Queremos mulheres jogando no Masters e Champions.
Leo Faria

Em resposta, espectadores da comunidade se mostraram chateados. Grande parte dos comentários pedia que a desenvolvedora escolhesse um local um pouco maior - a comunidade parece realmente interessada em ir acompanhar essas jogadoras ao vivo.

Ao limitar o número de jogadoras que competem com apenas 8 times, você está diminuindo ativamente as chances desses jogadoras do GC ganharem experiência e terem chance de competir no VCT. Quanto à torcida, as pessoas querem apoiar esses jogadores na LAN. Dê-nos isso. 150 é muito pequeno.
E não me interpretem mal, eu adoraria nada mais do que uma equipe Game Changers chegando longe no Champions e eventualmente vencendo. Mas vamos ser francos, ainda não chegamos lá. Mais trabalho de base é necessário para construir esse sistema. O talento das jogadoras está lá, mas a experiência não.

A comunidade também pede por um pouco mais de estruturação do torneio, sem que necessariamente este precise crescer ao nível de um Masters. Em entrevista ao MGG Brasil, a jogadora e moderadora Gabriela "horta" Horta comentou que declarações como a de Leo Faria são um tanto quanto desanimadoras.

Queremos que as mulheres e pessoas não-binárias joguem o Masters e o Champions, todo mundo quer. Só que acho que ainda não é algo viável, e não é culpa de ninguém, nem da Riot. É algo estrutural, mesmo, da sociedade. Acho meio triste, porque queremos um investimento maior. Entendo o que ele diz, mas acho que poderíamos ter mais. As principais reclamações são o formato, quantidade de times e poucas pessoas na Arena. Podemos ter um número maior do que 150 cabeças sem precisar chegar ao topo ainda.

Então, existe uma certa questão no ar que a Riot precisa resolver. Se ainda não conseguimos ter equipes inclusivas jogando no Challengers, por que limitar o crescimento do Game Changers? O público quer ver e acompanhar a evolução das jogadoras, que também estão tentando chamar a atenção das equipes de seus sonhos, mas a desenvolvedora precisa permitir isso e entender a demanda por trás do torneio.

Agora, caso a publisher realmente resolva sair do estado "chove não molha" e focar em seu plano de fixar o Game Changers como um torneio transitório e atender, de fato, aos desejos a longo prazo, ela deve estabelecer mudanças que permitam que as jogadoras consigam se dedicar igualmente para o Challengers e outros torneios mistos.

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Maria Eduarda Cury
Maria Eduarda Cury  - Redatora

Jornalista, apaixonada pelo estudo da cultura digital, jogos competitivos e filmes de terror. 

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