Após o início da adaptação televisiva de The Last of Us da HBO ter centralizado suas narrativas ao redor da disseminação global da mutação do fungo Cordyceps, os telespectadores tiveram uma brecha dos infectados durante o terceiro episódio. Lançado oficialmente neste domingo (29), o episódio "Long Long Time" explica, com detalhes, o relacionamento dos personagens Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett) em um mundo pós-apocalíptico.
Atenção: essa matéria conterá spoilers da série e do jogo.
Logo nos primeiros minutos do novo episódio, vemos uma mudança em relação aos primeiros capítulos da série. Não fomos recebidos com uma cena introdutória que traz retrospectivas do início da pandemia ou explica mais sobre os infectados. Ao invés dessas sequências perturbadoras, vemos Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) a quinze quilômetros de Boston, Massachusetts, para se encontrarem com os velhos amigos de Joel: Bill e Frank.
A relação entre os protagonistas sai de um silêncio profundo - referente ao luto sobre a morte de Tess (Anna Torv) - para o tão esperado início de uma relação quase parental. Com Ellie se esforçando para jogar mais conversa fora e fazer com que Joel se abra sobre sua vivência, é perceptível que Joel se torna menos fechado para com a garota que acabou "herdando" de Tess.
O caminho de mais de cinco horas estreita a sintonia entre os personagens e escâncara a química entre Bella e Pedro. O episódio, no entanto, tem uma reviravolta de narrativa e, diferente do game, não segue com os protagonistas e Bill buscando por uma bateria de carro em uma escola abandonada. Ao invés de mostrar a sequência de combate com o trio, os diretores da série viram uma oportunidade de nos apresentar formalmente para Bill e Frank.
Armadilhas do Amor?
Como sabemos, o personagem de Bill é considerado "paranoico" em relação ao mundo exterior, e a série deixa isso bastante claro. Vivendo em uma espécie de "condomínio fechado" que aniquila qualquer infectado que ouse chegar perto das cercas, o sobrevivencialista abre uma exceção ao ser notificado, por meio de seu sistema de segurança, de que Frank acabou caindo em uma de suas armadilhas externas.
Ainda receoso, Bill conversa com Frank para ter a certeza de que o andarilho misterioso não está infectado ou tentando roubar algo de seu palácio de sobrevivência. Após alguns minutos de conversa, o proprietário da rua fechada permite que Frank entre em sua casa para poder comer e tomar um banho.
Nas cenas de Bill sozinho, sabemos que um de seus hobbies para matar o tempo é cozinhar pratos detalhados. E é dessa forma que se inicia o relacionamento dos dois: um jantar bem produzido com carne de coelho, um vinho tinto Beaujolais e um piano ao som da canção "Long Long Time", de Linda Rondstand, que dá nome ao episódio em questão.
Solidão
Mesmo em um mundo pós-apocalíptico, problemas de casal ainda são problemas de casal. Enquanto Frank está cansado da monotonia e solidão forçada, Bill permanece receoso em relação à possibilidade de abrir sua residência para pessoas de fora, mesmo que seja para agradar seu amado.
Sabendo que Bill possui um temperamento um pouco difícil, Frank alerta que já está conversando com uma mulher pelo rádio e que eles farão, sim, novos amigos. Em seguida, vemos o casal tendo um almoço ao ar livre com Tess e Joel em seu quintal. Bill, porém, reluta em remover a arma da mesa, que estava apontada para Joel.
Um tempo depois, os dois casais abaixam a guarda e aceitam a proposta feita por Frank e Tess de se tornarem parceiros de contrabando. Dessa forma, as passagens de tempo exibem algumas trocas que os casais fizeram entre si - como as sementes de morango plantadas por Frank, que simbolizam o amor do casal.
O amor permanecerá
Após uma cena de luta em que Bill acaba se machucando para defender sua propriedade, uma passagem temporal mostra o casal envelhecido e Frank com a saúde debilitada devido à progressão da doença de Parkinson. Já sem conseguir se movimentar por conta própria, Frank decide, em uma manhã, que irá encerrar a própria vida e pede que Bill o ame "da maneira que quer ser amado".
Embora relutante, de início, Bill acaba por satisfazer todas as vontades finais de seu amado. Ao chegar a hora da última taça de vinho, porém, Frank percebe que Bill optou por acompanhá-lo em seus últimos momentos. O sobrevivencialista reforça que isso não é um final trágico surpresa, e que está contente com tudo o que teve a chance de experienciar em vida.
O fim da história do casal se mostra mais melancólico do que no game, onde vemos Bill apenas identificando o corpo morto de seu amado, que estava infectado. O novo enredo traz maior profundidade para um casal que foi tão importante para Joel, mas que conhecemos apenas brevemente em meio a combates.
O episódio termina com Ellie e Joel chegando ao destino desejado, mas encontrando uma casa abandonada e uma carta escrita por Bill em cima da mesa de jantar. Nela, Bill - que morreu sem ter conhecimento de Ellie - diz para o leitor que pegue tudo o que conseguir pegar, disponibiliza seu acervo de armas e suprimentos e pede para Joel "proteger Tess".
Ainda relutante em exibir seus sentimentos, o personagem vivido por Pedro Pascal impõe regras para que a adolescente Ellie siga, com obediência, enquanto continuam sua jornada até Tommy (Gabriel Luna). Após conseguirem recarregar a bateria do carro no bunker de BIll, os dois saem para a estrada ao som de "Long Long Time", reproduzida por meio de uma fita que Ellie achou em um compartimento do carro.
Quanto menos sutileza, melhor
Em entrevista para o Hollywood Reporter, o produtor executivo Neil Druckmann, co-roteirista do jogo original, comentou que as mudanças feitas para a série precisam ser proporcionalmente positivas para com a qualidade da produção. "Frank foi mencionado [no jogo], mas de forma improvisada. Aqui podemos explorar esse relacionamento e, obviamente, fazer algumas mudanças. E [a ideia] era tão boa que não me importava que fosse diferente", disse.
Druckmann, assim como todos que jogaram o game, sabe o relacionamento de Bill com os protagonistas do game se resume a ser um parceiro de luta. De acordo com ele, foi Craig Mazin, diretor da série e responsável pela direção do último episódio, que sugeriu que focassem mais nas histórias do sobrevivencialista e seu parceiro ao invés de simples sequências de luta que não exploram muito o personagem por trás.
O co-roteirista do game afirmou o que uma parcela da comunidade já desconfiava: a relação de Bill e Frank no jogo foi reduzida por receio.
Em relação ao aprofundamento dos personagens, Mazin comentou que, ao escrever para televisão, ele está procurando "passar mais tempo" com os personagens fazendo coisas diferentes do que ele já viu em vídeos de gameplay. "Acabamos de ver pessoas que estão com medo, que estão em um lugar perigoso, que estão se escondendo ou correndo ou preocupadas ou se machucando ou sendo mortas [nos dois primeiros episódios]. Preciso de algo diferente agora. Aqui está um homem que está em segurança. Agora vamos falar sobre esse tal de Frank. E eu disse: 'Acho que temos a oportunidade de fazer muitas coisas simultaneamente", disse.
Futuro
O episódio mais ambicioso de The Last of Us até o momento é, também, o que mais elevou a relação sentimental do público para com a série. Ele declara, oficialmente, que os personagens que conhecemos por dez anos terão novas nuances a serem apresentadas - e que o universo da franquia está em constante expansão.
Os próximos personagens a serem introduzidos pela adaptação da HBO serão Henry (Lamar Johnson) e Sam (Keivonn Woodard), que se encontrarão com Ellie e Joel durante o Episódio 4.
A série é exibida aos domingos, 23h (horário de Brasília), pelo canal fechado HBO ou pelo aplicativo HBO Max.