Felipe Tonello é conhecido em diversas comunidades dos esports, Overwatch, League of Legends, PlayerUnknown's Battlegrounds, Call of Duty mobile, entre outras. Recentemente, foi a vez da comunidade de Rainbow Six Siege conhecer o trabalho do narrador - e ele foi muito bem recebido.
De amador à narrador
A história de Tonello com a narração começou em 2013. "Eu era muito ruim para jogar DotA com meus amigos, aí decidi transmitir alguns jogos mais simples. Na época, comecei a narrar de uma forma completamente amadora e em 2014 tive a oportunidade de ser a voz de alguns campeonatos regionais de Londrina, e gostei muito", conta Felipe.
No início da carreira, Tácio "Schaeppi" Schaeppi, Diego "Toboco" Pereira e William "Gordox" Moreira eram algumas de suas inspirações. Além disso, o caster norte-americano Christopher "MonteCristo" Mykles também chamada a atenção do narrador por sua "irreverência mais ácida".
Dividido entre a faculdade e a paixão pelos esports e a narração, ele fez de tudo para conciliar as duas coisas. "Em 2016, com a chegada do Overwatch, me dediquei mais a profissão, mas ainda conciliando com a universidade, até que, em 2018, consegui me mudar para São Paulo e realmente me tornar profissional".
Hoje, assim como sua referência internacional, ele também é irreverente. "Acredito que minha maior qualidade seja a irreverência. Em toda narração que faço tento ser o mais irreverente possível, tentando não ser chato, porque ser irreverente não é só ser o cara engraçado, e sim fazer coisas que as pessoas não esperam, sem perder a firmeza e a qualidade da base".
Transição entre Overwatch e Rainbow Six
Em julho, Tonello entrou oficialmente para a equipe de casters dos torneios de R6. Antes da oportunidade surgir, ele fez parte da transmissão de campeonatos de diferentes jogos, mas a última comunidade que havia abraçado de verdade era a do Overwatch, como comentarista.
Segundo o narrador, a transição de um jogo para o outro foi muito boa. "O Overwatch sempre foi uma escola importante, porque pude participar de diversas transmissões, principalmente em 2019. Isso me ajudou bastante na questão da irreverência, porque passamos por todo tipo de coisa e isso é bom, rende uma experiência vasta".
Tonello acredita que a principal diferença entre os fames é que o Overwatch, de certa forma, é mais frenético que o R6. "Lá tudo é muito rápido, as coisas já estão pegado fogo 20 segundos depois que um time sai da base. No Rainbow Six, há todo um momento de preparação e isso muda o roteiro da narração, a forma de pensar para que a transmissão não fique chata ou muito exagerada".
Antes de sua estreia no R6, Tonello já havia tido contato com o jogo em 2016. Hoje ele se declara "um grande fã de R6". Apesar de ainda não se sentir completamente familiarizado com a parte estratégica do game, ele garante que está confortável com o jogo. "É uma sensação bem satisfatória quando você começa a falar a 'língua do jogo'".
Recepção da comunidade
Narradores e comentaristas novos sempre podem causar algum tipo de estranhamento entre a comunidade que acompanha o jogo há bastante tempo, mas parece que Tonello está lidando muito bem com esse desafio.
Uma das características de Tonello que conquistaram o público foi o humor. As referências do narrador para ganhar a torcida na base do riso vão desde os esportes tradicionais até a música.
"Desde sempre procuro trazer essa parte de humor. Além de expressões que estão mais dentro de um ‘padrão’, gosto também de contar histórias nesse meio tempo, fazendo links com cada movimento. É como no futebol, com frases do tipo ‘deu a bica pro meio do pagode’, algo que profissionais como Sílvio Luiz e Everaldo Marques fazem", explica o caster.
"Tento criar essas ‘histórias’ sempre que possível, um link com o que está acontecendo, que nem sempre vai ser algo sério ou emocional, pode-se colocar um pouco de humor. Uso muita analogia dentro da narração também, que é uma técnica que vem muito do rap freestyle, de batalha de rap, pois para conseguir punch line bom é preciso fazer comparações boas, e as minhas vêm de várias referências que tento colocar na transmissão, e assim acabo puxando um pouco mais para o humor".
Os bordões também chamam a atenção no estilo de narração de Tonello. Apesar de adorar usá-los, o profissional atenta ao fato de que eles não podem enjoar o público e devem ser repensados de tempos em tempos.
“Os bordões vêm cada um de uma coisa. Sou fã de diversos tipos de humor, gosto muito de comparações e analogias, venho de um background em que meus familiares são muito esforçados, humildes e as pessoas mais simples assim possuem termos próprios, regionais, e isso agrega muito no meu vocabulário. Por isso, alguns vêm de conversas com amigos, outros da minha família, ou que ouvi em algum lugar e achei legal, ou que pensei e achei que se encaixariam bem. Não pretendo permanecer com todos para sempre, alguns foram muito bem aceitos, mas outros já passaram e precisam ser renovados, porque manter o mesmo para sempre não é interessante”.
Os fãs de Rainbow Six também notam que o estilo de Tonello mantém um equilíbrio entre a linguagem da narração e de streamers. O caster acredita que esse é o equilíbrio perfeito para a profissão.
Por estes e outros motivos, ele acredita que sua recepção dentro da comunidade vem sendo muito boa.
"Eles cobram, e nós sentimos isso pelo chat. Em uma transmissão, decidi pegar mais pesado no humor para ver até onde aguentavam e começou a ficar chato, então comecei a dar uns passos mais atrás. A comunidade passa um feedback, tanto direta quanto indiretamente. Procuro assistir a gravação das transmissões, para sentir o que está acontecendo, e em geral a recepção foi muito boa, me abraçaram de uma forma muito legal e sou muito grato por isso, fico feliz de corresponder a expectativa deles”.
Na última sexta-feira (13), a página do Rainbow Six Esports Brasil no Instagram comemorou o aniversário de Tonello com uma imagem que faz referência a um bordão do narrador. No comentários, há diversos fãs afirmando que o trabalho do caster é "o melhor do mundo", "engraçado", "descontraído", entre diversos outros elogios.
Ao futuro e além
Até o momento, Tonello define a experiência de narrar Rainbow Six Siege como algo "incrível".
"É um desafio, sem dúvida, por ser um jogo que ainda não domino totalmente, mas que estou estudando e conversando com quem tem um conhecimento maior para aprender tudo o quanto antes. Tem sido muito positivo pela minha carreira, por uma experiência pessoal, por lidar com uma comunidade nova e receber o carinho das pessoas. Entrar em uma ranqueada e ver alguém falando no ‘sabonete’ é algo que, mesmo sendo simples, é muito gratificante”.
O narrador quer se consolidar dentro do cenário brasileiro do game da Ubisoft e sonha em narrar torneios internacionais como Major e Invitational.
"Tenho interesse em continuar trabalhando com a Ubisoft porque, além da estrutura dada para os casters, tem a questão de várias experiências novas que podem ser adquiridas. É um cenário que tem competições em vários lugares pelo mundo e ter a chance de ir em alguns seria ótimo para acumular ainda mais conhecimento. Ainda precisamos conversar a respeito, mas espero que tudo dê certo, hoje estou muito feliz no R6 e espero que a comunidade esteja gostando também".