Por conta das rotinas exaustivas, os profissionais de esports - que contam com blocos de treinos, análises de partidas e pressão em épocas de torneios - precisam de um acompanhamento mental para que tenham boa performance nos campos de batalha.
Assim, organizações brasileiras e estrangeiras têm mostrado interesse em investir no campo psicológico e mental; para assim trabalhar melhor o potencial dos jogadores.
Por mais que as duas profissões - mind coach e psicólogo - cuidem do campo cognitivo dos atletas, a diferença é nítida para os profissionais da área. De acordo com um texto publicado pelo Conselho Federal de Psicologia sobre a psicologia do esporte e coaching, a prática realizada por coaches está fora da área de atuação da pesquisa psicológica, apesar de beber da fonte deste campo de ciência.
Mas e dentro do esport, como funcionam tais profissões?
O MGG conversou com Alessandra Dutra (ex-psicóloga da Red Canids Kalunga), Leandro Martins (ex-mind coach da Keyd e Operation Kino) e Rafael “Psi” Pereira (ex-psicólogo da CNB e Preparando Campeões) para entender suas atuações dentro do esporte eletrônico.
Capaz de melhorar o desempenho dos pro players por meio da promoção da saúde mental, lidando com questões clínicas e comportamentais que podem ser geradas por conta da rotina do esport, os psicólogos do esporte são essenciais para buscar uma performance melhor da equipe em diversos setores - justamente por abranger diversos pontos de uma vez só.
Segundo Alessandra, que trabalha a mais de 23 anos com esportes tradicionais e que também assumiu a responsabilidade de lidar com o time da Red; sua função, diferente do coaching, estuda a complexidade do ser humano e acaba auxiliando nas relações dentro de uma gaming house, por exemplo.
“Um dos maiores problemas que o game gera é o estresse por conta de todo mundo morar e ficar junto. O psicólogo cuida muito dessa parte e acaba facilitando a comunicação [do time] e acelerando o processo de otimização da equipe”, afirma Dutra.
Rafael, formado em psicologia na Universidade Federal de Santa Catarina e criador do programa Preparando Campeões da CNB, explica que “enquanto o técnico, analista e outros podem focar sua atenção e trabalho em questões de aprendizado e prática, o psicólogo pode auxiliar entendendo como é o funcionamento do grupo e de cada um dos jogadores”, como por exemplo, ajudar o treinador a ter uma melhor ação sobre os jogadores de uma forma harmônica.
Além disso, para Alessandra, a profissão “tem um protocolo que é muito efetivo, porém, as pessoas preferem utilizar o coaching porque acham que a função está ligada a uma situação mais imediata, para alcançar metas”, sendo o principal motivo pelo qual as equipes optavam por utilizar mais o serviço de coaching em comparação ao de psicólogos dentro dos campeonatos.
Voltado a outras prioridades, assim como a psicóloga explicou, o trabalho desenvolvido pelo mind coach é focar em soluções rápidas.
Martins atuou em 2017 como preparador mental de equipes do Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLoL) e Circuito Desafiante, estando presente no Relegation junto com a Operation Kino e Keyd Stars. Para o profissional, sua função “é basicamente encontrar formas diferentes de pensar e agir diante de algum desafio ou diversidade”, com o intuito de extrair a capacidade máxima do pro player instantaneamente.
Além disso, para Leandro, o preparo mental dos atletas ainda oferece uma percepção mais ampla de uma situação, “permitindo-o [o jogador] tomar melhores decisões e avaliando o contexto geral, diante de qualquer situação.” Por mais que o preparo mental seja voltado ao esporte, os jogadores que passam por este treinamento se beneficiam por inteiro, transformando sua visão da vida e a forma de viver. Porém, diferente da psicologia, o coaching realiza tudo isso em uma abordagem direta e instantânea.
Dentro do esporte eletrônico, o trabalho auxilia na visão ampla de grupo e entendimento do jeito de ser do outro. “O mind coach também promove o ajuste da automotivação do grupo, como se fosse uma pessoa só criando na equipe um ‘espírito’ de campeã, independente (sic) da sua situação ou posição na tabela”, completa Martins.
Resumindo: o mind coach trabalha para obter resultados rápidos, justamente voltado para a questão das metas, enquanto o psicólogo fica responsável por outras diversas área mentais e comportamentais dos jogadores, focando em sua melhora de forma contínua.
Mas e você - se tivesse um time, contrataria um mind coach ou um psicólogo?
Texto escrito por Siouxsie Rigueiras