Fundada pelo criador de conteúdo e influenciador El Gato, a organização Los Grandes nasceu de forma exclusiva no Free Fire. No entanto, a chegada do sócio e conselheiro Rodrigo Terron ao time, em 2021, trouxe novos projetos como a expansão do time para outras modalidades. Foi assim que a Los Grandes chegou ao CS:GO, ao Wild Rift, ao VALORANT e em 2022, pegando muitos de surpresa, chegou também ao League of Legends. Inicialmente em parceria com o Flamengo Esports, mas agora alçando voo solo, a LOS está oficialmente no 1º split do CBLOL 2023 e de acordo com Terron, o foco da organização são os projetos de longo prazo.
Do Wild Rift ao LoL, com parada no Flamengo
Conversar com Terron é perceber, rapidamente, que a opinião da torcida da Los Grandes é muito importante, e foi assim, visando seu público, que a organização decidiu investir no Wild Rift para plantar a semente de que um dia, o investimento seria feito no LoL.
"Em 2021 testamos um pouquinho o Wild Rift para entender se nossa fanbase, que é algo que temos de muito valioso, estava aberta a olhar para novos cenários, outros jogos, interagir com outros tipos de jogadores. O desafio que tínhamos era: 'Se eu entro em um novo jogo, nosso fãs acompanham isso ou vamos atrair o público desse novo game?'. Para nós, o LoL tinha um efeito de escassez, porque só conta com 10 equipes, tem uma barreira de entrada muito grande, ele consolidaria nossa intenção de posicionar a Los Grandes como uma das principais organizações de esports do Brasil. Quando cheguei na LOS, olhei para o cenário de LoL como um objetivo de longo prazo, mas tudo aconteceu mais rápido do que eu imaginava".
Em setembro de 2021 o Sports Business Journal revelou que a Simplicity, empresa que gerenciava o Flamengo Esports, tinha interesse em vender parte da franquia que possuía por sua vaga no CBLOL, que ainda estava em seu primeiro ano funcionando como este sistema de compra de vagas na competição. Na época, a empresa negou a informação, mas poucos meses depois, em fevereiro de 2022, o MGG Brasil e o GE revelaram que a Simplicity estava, sim, procurando compradores para a venda da franquia ou por novos parceiros.
"Vimos matérias falando que a Simplicity tinha a intenção de vender a vaga do Flamengo e aí pedi para uma das agências que trabalham com a gente sondarem e levantarem melhor a informação. Quando disseram que venderiam mesmo, peguei um avião e fui para Miami, nos Estados Unidos, falar com eles. Eu sabia que tinha muita polêmica envolvida, seria a compra de um ativo, em que eu compro a vaga, mas não respondo por nada da gestão da Simplicity. Como havia muitas questões, fiz questão de ir pessoalmente, passamos por um longo processo jurídico, para garantir que não estávamos assumindo nenhum passivo que não fosse da Los Grandes. Vimos como missão arrumar o que tinha sido criado como problema. Trouxemos o Ranger de volta, o Stardust, viemos arrumando a casa e vimos que tínhamos potencial de fazer história dentro do CBLOL", explica Terron.
Em maio, a Los Grandes se tornou sócia da Simplicity e anunciou que disputaria o 2º split do CBLOL 2022 como Flamengo Los Grandes. Apenas 18 dias depois, a organização anunciou que havia comprado 100% da vaga da Simplicity, assumindo a gestão Flamengo até o fim do ano e passando a ser somente Los Grandes a partir do CBLOL 2023.
O sócio da LOS também compartilhou brevemente sobre como enxerga o movimento de organizações que nasceram no Free Fire expandindo seus negócios para outras modalidades. "Vimos a LOUD, uma organização é que é irmã da Los Grandes, puxando essa responsabilidade da galera do FF, mais periférica, de classes C, D e E, e indo para a elite do game. Era perceptível como o gamer olhava para a galera do Free Fire e pensava que eles eram diferentes, tinha preconceito ali, e vimos a oportunidade de entrar nesse mundo também, de fortalecer o cenário. Agora com o Fluxo também está aí, tivemos um papel importante em democratizar o acesso aos esports, de falar: 'Olha galera, agora o LoL é de todos'. Estamos trazendo investimentos pesados para a modalidade, a fanbase".
Entre torcidas: lidando com o passado e construindo o futuro
Se o anúncio da parceria entre Los Grandes e Simplicity já irritou a torcida do Flamengo, quando a vaga do clube, gerenciada por uma empresa terceira, foi completamente vendida, o caos se instaurou e restou a Los Grandes lidar com a crise. É inegável que a entrada do Flamengo no cenário de League of Legends, que aconteceu no fim de 2017, foi histórica para o meio dos esports no Brasil. O clube carioca de esportes tradicionais possui uma história grandiosa no futebol e trouxe uma série de novas pessoas para cenário, além de unir pais torcedores de estrelas como Zico e filhos torcedores de estrelas como brTT.
No início da jornada do Flamengo no LoL, a categoria de esports era gerenciada pela Go4it. No início de 2020, a gestão do projeto foi passada para a Simplicity e foi aqui que tudo começou a ir por água abaixo. Uma série de problemas de comunicação e gerência aconteceram. Todas essas desgastavam a relação da organização com seus jogadores e torcida, mas, principalmente os torcedores, seguiam acreditando no melhor em nome do Clube de Regatas do coração. Até que tudo acabou.
"Acho que todo torcedor é apaixonado e a torcida do Flamengo sentiu muito essa saída do CBLOL. Não foi fácil para eles, na época eu entrei em vários Spaces com a torcida no Twitter, vi que era uma dor real. Ouvi de um torcedor do Flamengo que ele sempre quis trabalhar com games e a primeira vez que a família o apoiou foi quando viram o clube dentro desse cenário. É muito triste que entre os times de esportes tradicionais que investiram em games, a maioria teve sérios problemas para se manter no cenário. Nossa postura com eles foi de abraçar quem queria ser abraçado, mas ao mesmo tempo, não nos responsabilizarmos por problemas. Compramos a vaga porque o projeto não estava sendo bem gerido. Fizemos uma collab entre FLA e LOS, mantivemos o Flamengo até o final do split, mesmo sem precisar fazer isso, mas ainda assim achamos que a torcida merecia aquele último split. [...] Torcer vem com identificação, muitos deles não se identificavam com a LOS, mas fizemos o nosso melhor para trazê-los e abraçá-los", explica Terron.
Por outro lado, o conselheiro da organização afirma que o feedback da torcida da Los Grandes com o anúncio da entrada no CBLOL foi o melhor possível. "A nossa torcida gostou muito, eles são muito exigentes, cobram muito, mas são apaixonados demais, então acredito que quando enxergam a Los em uma modalidade como o LoL como uma realização. No início, questionaram um pouco a presença do Flamengo, eles queriam ver o nosso branding logo. Agora que estamos no primeiro split para valer, com o time que foi montado por nós, com uma identificação maior e investimento, vejo que eles estão muito felizes".
Críticas ao CBLOL e foco no longo prazo
Para o atual 1º split do CBLOL, a Los Grandes conta com os jogadores sul-coreanos HiRit e Lava, topo e meio respectivamente, além de Ranger, Netuno e Zay, com o técnico sul-coreano Stardust e o brasileiro Riyev. Para Terron, o objetivo dessa line-up é conquistar um bom desempenho para o Brasil em torneios internacionais oficiais como o MSI e o Worlds.
"Sinto que o cenário de LoL, em geral, precisava de um meio de conhecimento internacional, vindo de um técnico sul-coreano, precisava de uma renovação. Por um lado é ruim porque vemos algumas pessoas sem times, mas ao mesmo tempo, sinto que estávamos aquém do resultado esperado para o Brasil dentro da modalidade. A gente sempre tem um resultado aqui dentro e quando chega lá fora, não consegue fazer o mesmo, isso acontece porque não estamos evoluindo. Vimos a oportunidade de subir a barra, assim como a LOUD veio no VALORANT, montou um time e foi campeã mundial, se você perguntar qual é a nossa pretensão, a resposta é ganhar e ir forte para o Mundial.
Se isso vai se provar já no primeiro split, ainda é cedo para falar, mas estamos criando um projeto de pelo menos dois anos. O torcedor é imediatista, ele quer ganhar tudo já no começo do split, ir para o mundial e ganhá-lo, mas a gente sabe que na prática não é assim. Mas o que vejo é que em dois anos traremos muito conhecimento novo para o Brasil. [...] Queremos entrar e ganhar, acredito que será desafiador porque todo mundo está se preparando muito, tem times muito fortes, mas mais do que qualquer coisa, ver a modalidade evoluir vai ser legal".
Terron finalizou a entrevista falando ainda sobre outras questões que gostaria de ver evoluir no cenário. Ele acredita que salários muito altos tornam negociações insustentáveis e que períodos longos de offseason, quando não há torneios oficiais acontecendo, prejudicam diversos fatores no meio dos esports.
"Uma das críticas que mais faço para as publishers, junto de outras organizações, é a dos longos períodos sem campeonatos oficiais, que prejudicam o desenvolvimento das equipes. Pagamos os times, mas os utilizamos por pouco tempo e não evoluímos. [...] Não tem porque não treinar em agosto, quando acaba o split, até dezembro. Aí quando começa o split, levam três, quatro semanas para todo mundo entrar no ritmo do campeonato, quando já deveríamos estar em alto nível antes do campeonato começar. Não pode acabar o split e começar férias de quatro meses em que ninguém evolui, isso custa muito caro para o Brasil dentro do jogo, para nossa credibilidade", finalizou Terron.
Durante a coletiva de imprensa da Riot Games Brasil sobre o CBLOL 2023, que aconteceu no início de janeiro, o MGG Brasil questionou a empresa sobre planos para a offseason. O Head de Esports da empresa, Carlos “Cacophonie” Antunes, mais conhecido como Caco, afirmou que a Riot Brasil não possui planos para criar torneios neste período do ano, mas que empresas terceiras podem organizar campeonatos entre um split oficial e outro.