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"VALORANT veio para colocar o último prego no caixão do cenário feminino de CS:GO", diz Nahzinhaa

"VALORANT veio para colocar o último prego no caixão do cenário feminino de CS:GO", diz Nahzinhaa
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Streamer e ex-pro player de CS:GO fala abertamente sobre falta de apoio e provável migração do FPS da Valve para cobrir campeonatos femininos de outros jogos

'VALORANT veio para colocar o último prego no caixão do cenário feminino de CS:GO', diz Nahzinhaa

Ex-jogadora profissional de CS 1.6 e atualmente principal streamer do cenário feminino de Counter-Strike: Global Offensive, Natacha "Nahzinhaa" Fanganiello pode estar nos últimos dias como caster do FPS da Valve. Entre queixas sobre falta de apoio e cansaço dos constantes ataques machistas que ela e outras narradoras e comentaristas do cenário feminino recebe, a apresentadora e ex-pro player não esconde a frustração com "promessas e acordos não cumpridos" recentemente e torce para que alguma caster "assuma o bastão" quando ela deixar o FPS da Valve, uma decisão que, hoje parece uma mera questão de tempo.

Em entrevista ao MGG Brasil durante a BGS 2022, Nahzinhaa também falou sobre o crescimento do cenário feminino de Valorant, que conta com suporte oficial da Rio ao longo de toda a temporada, como o "último prego no caixão do cenário feminino de CS:GO", que mesmo antes da pandemia contava com pouquíssimos campeonatos internacionais e somente em 2022, por meio dos campeonatos da ESL Impact, voltou a reunir equipes de diferentes regiões na briga por títulos mundiais.

MGG Brasil - Você jogou em alguns dos melhores times femininos do Brasil nos tempos de CS 1.6, mas por muitos anos ficou afastada do cenário dos Esports, até finalmente retornar como caster de torneios femininos de CS:GO e streamer. Como foi esse período longe do competitivo?

Nahzinhaa: Eu joguei CS 1.6 profissionalmente durante alguns anos, e meus principais resultados foram em campeonatos mundiais femininos foram um quarto lugar na ESWC 2011, um quinto lugar na DreamHack (pela GamerHouse Gilrs) e um quinto lugar na DreamHack Winter 2010 (pela ProGaming). Embora eu jogasse profissionalmente, eu não conseguia me manter financeiramente co, pois faltava muito apoio e aquilo não era um emprego de verdade, nenhuma jogadora ganhava dinheiro de verdade com CS, e por isso eu precisei parar de jogar para ter uma vida normal.

Foi aí que eu abri minha agência de intercâmbio e fiquei 7 anos tocando a empresa. Durante a pandemia eu fechei a empresa e fiquei naquele momento de “e agora, o que é que vou fazer?”. Eu já tinha jogado profissionalmente, sempre gostei de games e tinha vários amigos que já estavam fazendo live, então eu conversei apostei na carreira de streamer, jogando CS, principalmente, e alguns outros jogos. Deu muito certo e hoje, além das lives, eu também transmito torneios femininos de CS:GO

MGG Brasil: Brasil conquistou recentemente seus dois melhores resultados na história do CS:GO feminino, com a FURIA conquistando dois vice-campeonatos na ESL Impact, mas ao mesmo tempo o cenário feminino de VALORANT hoje é muito maior e mais estruturado. Diante disso, como você enxerga o futuro do cenário feminino de CS:GO?

*Nahzinhaa: *Sinceramente, eu acho que o VALORANT veio pra colocar o último prego no caixão do cenário feminino de CS:GO. A verdade é que já estávamos há anos sem nenhum evento internacional, e o Brasil, por incrível que pareça, era o único lugar do mundo com campeonatos femininos regularmente, muito por causa da Gamers Club.

Eu tentei viajar recentemente para fazer a cobertura presencial da ESL Impact Dallas, mas não consegui apoio financeiro para isso. É uma viagem que custa muito caro, e sem um patrocínio fica simplesmente impossível. Para poder viajar para a ESL Impact Valencia, eu tive que fazer uma força tarefa para ter um time feminino de transmissão. Eu juntei mais de 10 influenciadoras, entre narradoras, apresentadoras e comentaristas, para ter uma cobertura 100% feminina. A transmissão era para todo o público, mas era importante ter uma equipe formada por mulheres para fortalecer a nossa cena também e apresentar várias ótimas profissionais para um público grande. A gente precisa se unir para fazer as coisas acontecerem.

Para a ESL Impact Suécia, que vai acontecer em novembro, eu já não vou conseguir ir de novo para nem repetir o projeto Clutch Delas, que conseguimos tirar do papel lá na ESL Valencia. É claro que, mesmo de casa, eu vou fazer tudo com o mesmo amor e mesmo carinho de sempre, mas isso dá uma noção da diferença e dos obstáculos que a gente enfrenta para conseguir o apoio e os recursos necessários para transmitir um campeonato feminino de forma presencial e uma equipe de transmissão no Brasil. Tudo é muito mais difícil, mas fico muito feliz que pelo menos voltamos a ter os campeonatos internacionais femininos.

Nahzinhaa considera que o cenário feminino de Valorant ofuscou o de CS:GO - BGS 2022
Nahzinhaa considera que o cenário feminino de Valorant ofuscou o de CS:GO

MGG Brasil: Você escreveu recentemente que a ESL Impact Jonkoping, na Suécia pode ser o seu último campeonato de CS:GO como streamer. O que mais motivou essa decisão?

Nahzinhaa: Não foi uma coisa de momento, e não foi “só” por causa dos ataques e do preconceito contra as mulheres no cenário. A real é que é muito difícil quando você está numa luta sozinha, e quando eu digo sozinha, não é em relação às minas, porque elas sempre estão disponíveis. Eu digo sozinha quando você percebe que não tem suporte do cenário como um todo, porque a transmissão muda, é tratada como algo diferente, algo menor, o nível de apoio muda, a visibilidade muda. As pessoas não se importam em fazer uma postagem para divulgar a transmissão, em questionar por que não tem uma mulher numa equipe de transmissão de um grande evento. Eu me cansei de levantar uma bandeira me sentir fraca, sem o poder de mudar as coisas para vale.

É muito frustrante você colocar pela primeira vez na história do CS uma transmissão 100% feminina e ela não ter sido divulgada conforme o combinado, não ter a visibilidade que havia sido acordada. Não é uma coisa para o meu canal, é uma luta geral pelo cenário feminino. Eu faço lives, nem jogo mais CS profissionalmente, o que eu tô fazendo não é para mim mais, a minha fase de jogadora já passou. Eu me senti bastante sozinha, abandonada, e o que mais me frustrou não foram tanto os comentários machistas, porque com isso eu já estou “acostumada”, convivo com isso diariamente nas lives. Minha frustração maior veio da falta de estrutura, da diferença de tratamento. Você pode até não ser preconceituoso, machista no dia a dia, mas o que você faz para combater esse preconceito? Você se posiciona? Eu acho que é isso que anda faltando no cenário, mas eu vou continuar me posicionando, mesmo que seja fora do CS.

Nahzinhaa não pretende se afastar dos Esports, mas acredita estar em seus últimos dias como streamer de campeonatos de CS:GO - BGS 2022
Nahzinhaa não pretende se afastar dos Esports, mas acredita estar em seus últimos dias como streamer de campeonatos de CS:GO

MGG Brasil: Então você pretende continuar nos Esports mesmo que saia do CS?

Nahzinhaa: Sim, com certeza. Eu não tenho como abandonar uma coisa que é a minha vida, a minha carreira. Eu dediquei 20 anos da minha vida ao CS, mas estou aberta a trabalhar com coisas novas. No CS tudo é uma questão de direitos de transmissão, então se eu não tiver os direitos, eu não tenho o que fazer. Provavelmente eu não vou ter mais esses direitos de transmissão em breve, então não é uma questão de eu não querer, eu simplesmente não vou mais ter como transmitir esses campeonatos.

MGG Brasil: Com a sua provável saída do cenário feminino de CS:GO, como você avalia que será o futuro das transmissões desses campeonatos?

Nahzinhaa: Eu sinceramente não sei. Eu tenho muito contato com as meninas em off, narradoras, comentaristas não só de CS, mas de outros Esports também, e todas elas falaram “por favor, não faz isso”. Mas aguentar o que eu aguento, passar pelo que eu passo e falar tão pouco disso - porque eu não falo quase nada sobre tudo que eu já enfrentei e ainda enfrento, só estou falando um pouco sobre isso agora. E provavelmente eu nunca vou falar, por questões contratuais, riscos de processo, essas coisas. Eu realmente espero que venha uma mina bem forte para o meu lugar, porque infelizmente eu estou um pouco cansada e quero mesmo passar o bastão para alguém.

MGG Brasil: Você já tem em mente qual será o próximo jogo em que pretende trabalhar?

Nahzinhaa: O que vier para mim eu vou abraçar de peito aberto, porque não é questão de um jogo específico, é uma questão de espaço, apoio, visibilidade e, principalmente, respeito. A gente só quer jogar, se divertir e não precisar ficar se preocupando com ataques o tempo todo. Como eu disse, o que vier para mim é lucro, mas eu realmente gostaria de continuar trabalhando com FPS e, no mais, novidades em breve.

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Gabriel SALES
Gabriel Sales

Jornalista apaixonado por games desde o jardim de infância e fã de quase todo tipo de RPG, especialmente os da série Chrono. Nos esports, shooters e jogos de luta são minhas maiores paixões, mas abraço qualquer jogo com uma cena competitiva pulsante.

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