Streamers de todo o Brasil criaram nesta semana uma mobilização em torno de uma greve de transmissões na Twitch na próxima segunda-feira (23). Batizado como "Apagão da Twitch" o objetivo do grupo é cobrar da plataforma de transmissões da Amazon mais transparência na comunicação com os streamers e um percentual mais alto de repasse por subs (assinaturas) e outras formas de monetização da Twitch, como bits, inscrições de presente (gift subs), bits e inscrições via Twitch Prime.
O assunto tem sido alvo de debate e polêmicas inclusive dentro da própria comunidade, com nomes como Gaules afirmando que streamers "devem se reinventar" e "não podem pensar que a Twitch deve ser responsável pelo seu ganha pão", embora o próprio tenha sido o primeiro streamer brasileiro a alcançar a marca de 50 mil subs na história da Twitch e, portanto, supostamente grande parte de seus rendimentos são oriundos da plataforma.
A ideia é que, ao longo do dia 23 de agosto, todos os adeptos do movimento de paralisação não façam transmissões em seus canais, com o objetivo de impactar negativamente os dados de audiência da Twitch no Brasil durante o apagão. A mobilização surge em um momento em que o preço por uma assinatura Tier 1 na Twitch teve seu preço reduzido de R$ 22,99 para R$ 7,99.
Em termos de repasse direto aos streamers, inscrições pagas caíram para US$ 0,47 (R$ 2,55), inscrições de presente (gift subs) foram US$ 0,41 (R$ 2,22) e inscrições feitas via Prime agora rendem US$ 0,50 (R$ 2,71). Na prática, isso significa que para ter a mesma renda de antes na Twitch, um streamer precisaria trplicar o seu número de subs. No cenário atual, isso significa que para ter uma renda equivalente a um salário mínimo, um streamer precisaria de 523 subs tier 1, um número considerado elevado para pessoas com canais de pequeno e médio porte.
O movimento surge um pouco após a criação da União dos Streamers (inicialmente chamado Sindicato dos Streamers), que, por sua vez, evitou apoiar publicamente "apagão programado" para o dia 23 de agosto, que gerou críticas nas postagens em resposta ao posicionamento público da União.
"Queremos deixar claro que não incentivamos nada além da negociação, conversa, entendimento, estudo e compreensão das demais demandas de nossa união como grupo."
Entre os tópicos mais reivindicados pelos streamers que participarão do apagão do dia 23, estão "Transparência dos Dados da Amazon" e "Pagamentos Justos aos Streamers", que hoje se consideram explorados pela plataforma, uma vez esses profissionais recebem cerca de 31,9% dos R$ 7,99 pagos por um sub Tier 1, por exemplo.
Diante da queda do valor da assinatura sem que o percentual de repasse por assinatura aumente, os streamers argumentam que este também pode ser o fim de vários canais de menor porte da Twitch, uma vez que o valor arrecadado seria muito baixo para viabilizar a continuidade do trabalho de criadores de conteúdo com menos 500 subs.
Além disso, os adeptos do movimento argumentam que o percentual repassado pelos anúncios, outra fonte de renda dos canais, rendem "pouquíssimo" dinheiro e tem pouco impacto nas receitas totais do canal, ainda que alguns streamers contem com outras fontes de renda com seus canais, como projetos de financiamento coletivo para doações diretas e renda advinda de outras plataformas.
Além disso, o movimento ressalta que os subs só rendem valores acima de R$ 2 devido à cotação atual do dólar, e num cenário de melhora do cenário econômico do Brasil, com o real menos desvalorizado em relação ao dólar, o valor repassado em reais pela Twitch será ainda menor.
"Lembrando que recebemos R$ 2,10 porque o dólar no momento está altíssimo. Caso a economia brasileira volte ao normal (e esperamos que volte), nossos ganhos vão ser ainda menores e vamos precisar de ainda mais inscritos", conclui o grupo em comunicado.