O cenário brasileiro de Rainbow Six Siege se envolveu uma grande polêmica nesta quinta-feira (15). O manager da Faze Clan, Leandro Portela, expôs o trecho de uma conversa entre pro players dentro do servidor da Faceit Pro League (FPL) - uma espécie de espaço dedicado exclusivamente aos principais jogadores do cenário. No bate-papo, nomes como André "Nesk" Oliveira (Team Liquid), Gustavo "Psycho" Rigal (NiP), Lucas "Paluh" Molina (Liquid), João Gabriel "Yoona" Nerici (Black Dragons), Kaique "Faallz" Moreira (MIBR), Kaique "Alem4o" Moreira (Team One) e Gustavo "HerdsZ" Herdina (W7M) se mostraram contra a entrada de jogadoras no hub.
"O intuito não é causar polêmica, treta nem nada do tipo mas sim esclarecer alguns pontos nos quais muitos PPLs falam de fortalecer/incentivar/fomentar o cenário feminino na frente das telas, mas por trás negam a participam das mina? Isso é feio!", escreveu Portela em sua conta no Twitter ao expor o trecho de conversa com uma captura de tela.
A exposição da troca de mensagens, que já conta com mais de 2,8 mil interações entre curtidas e compartilhamentos, rapidamente repercutiu em meio à comunidade, com manifestações contrárias e a favor do teor da conversa entre os pro players. Dona da Black Dragons, Nicolle "Cherrygumms" Merhy disse que repudia machismo, mas ressaltou que a conversa foi tirada de contexto. Segundo a CEO da BD, o servidor da Faceit não contará com todas as jogadoras do Circuito Feminino, mas terá algumas delas.
"Vamos lá: em primeiro lugar eu acho que não preciso dizer que repudio machismo. Esse print é tirado de contexto. Os players falaram que não são a favor de colocar TODAS as minas no FPL, mas existem sim já algumas adicionadas. Inclusive, em breve, terão mais vagas disponíveis", argumentou Cherrygumms.
A polêmica foi ganhando cada vez mais repercussão e gerou diversas manifestações contrárias à participação de apenas algumas jogadoras dentro do hub da Faceit. A jornalista Domitilla Becker, apresentadora dos canais do Rainbow Six Esports Brasil, criticou o limitado número de vagas para mulheres, mais precisamente somente duas por equipe do Circuito Feminino.
"Falaram que esse print foi tirado do contexto. Qual era o contexto, alguém me explica? Só duas meninas por time poderiam participar, é isso? Se esse for o contexto mesmo, então é triste igual... porque não deixar todas participarem? Qual o problema?", indagou.
Já a jogadora Danielle "Cherna" Andrade, um dos principais nomes do cenário feminino de Rainbow Six no Brasil, não poupou críticas à seleção de quais jogadoras poderiam ou não participar do servidor especial: "É tão bom quando as coisas vazam, mas é tão ruim se decepcionar com pessoas", ressaltou.
Recém-chegada ao Brasil, a FPL contará com um servidor exclusivo para os principais jogadores de Rainbow Six do país e outras duas divisões de acesso ao hub exclusivo. A estrutura já é bastante conhecida em outros jogos, inclusive no cenário competitivo de CS:GO.
"O primeiro passo no seu caminho da FPL é registrar-se na Divisão 2 (Livre) da Hub de Esports Oficial da Ubisoft na FACEIT, esta é um ambiente de Fila Solo com configurações de Esports. No final de cada mês, os cinco melhores jogadores irão avançar para a Divisão 1. Contudo, se você tiver um rank de Platinum 3 ou superior, você pode saltar este passo e aplicar diretamente à Divisão 1. Para o poder fazer, siga este link, pressione o botão “Juntar-se ao Hub” e envie-nos sua aplicação. Da Divisão 1, a cada mês, apenas os dois jogadores do topo receberão um convite para a FPL, para a chance de poder jogar entre jogadores profissionais", diz a Faceit em seu blog oficial.
Primeira jogadora a atuar na história do Brasileirão Rainbow Six Rafaela "Miranda" Miranda, companheira de Cherna na INTZ, também não foi incluída no servidor e ironizou a situação: "bando de lixão".
Ubisoft se posiciona
Em nota, a Ubisoft disse encorajar atletas de todos os gêneros a fazerem parte do cenário de R6, mas evitou falar sobre a postura os pro players de R6 em relação à entrada de jogadoras no servidor da Faceit, que possui duas divisões e é aberto a aplicações para entrada direta no hub de elite. A empresa ainda disse que as ações do funcionário da Faceit que teria vazado o conteúdo da conversa estão sob revisão.
"O objetivo da Ubisoft Brasil é encorajar atletas de todos os gêneros a fazerem parte do cenário de Rainbow Six Siege. Promovemos torneios e oferecemos ferramentas que permitem uma maior exposição para destacar jogadores e jogadoras profissionais. Trazer a FPL para o Brasil é mais uma ação que reforça esse incentivo, com o objetivo de evoluir todos juntos. As ações do funcionário da FACEIT neste incidente estão sob revisão" revisão.
Leandro Portela lança comunicado após polêmica
Após a repercussão do caso, Leandro Portela se posicionou novamente em suas redes sociais sobre o caso. O manager da Faze Clan reforçou que é favor da participação de todas as jogadoras do Circuito Feminino no servidor de elite da Faceit, mas disse entender o posicionamento de alguns jogadores que são contrários, como é o caso de Paluh.
Confira na íntegra o comunicado de Portela.
"Então, sobre o meu infeliz tweet, digo dessa maneira por ele ter ido longe demais e ter criado vários contextos, principalmente na gringa onde abordaram outros temas que não condiz com a nossa realidade ou com o que eu quis repassar.
Eu não estou me desculpando pois tenho meu pensamento sobre o assunto, a questão é que tomou outras proporções e envolvendo pessoas e empresas das quais tenho muito carinho e amigos dentro de cada uma delas.
Eu tenho o meu ponto de vista, inclusive relatei com alguns dos envolvidos entre outras pessoas do nosso meio e fui infeliz em tornar público isso sem pensar nas consequências com eles, pelo fato de ver alguns nomes do cenário sempre chamando os torcedores para assistir as partidas do Circuito Feminino, dando gank nas meninas, sempre falando que elas precisam de incentivo, de oportunidades... E quando vi a conversa a única coisa que me passou na cabeça foi “que merda é essa? Esses caras vivem falando nas redes para incentivar as meninas e quando aparece a oportunidade eles vetam?”.
A FPL para quem não sabe é a ferramenta ideal para buscar o crescimento individual/coletivo dos jogadores, principalmente do pessoal que está em ascensão como série B e Circuito Feminino. Então quando vi a conversa eu fiquei tão puto que não pensei nas outras possibilidades e só resolvi mostrar o que eu estava vendo naquele momento, tudo isso além de associar algumas coisas pessoais que estou vendo toda noite com a minha esposa, para quem não sabe ela é viciada em R6 e ultimamente quase todo dia tem os “pro net” fazendo gracinha por ela ser mulher, isso quando não fazem xingamentos direto como vadia etc, então acabei unindo uma coisa a outra e fiz o tweet anterior...
Porém tem outros lados e assim como eu pensei dessa forma jogadores podem pensar de outra, como foi o caso do Paluh que conversei brevemente, tem outros modos nos quais as meninas podem crescer e vir a participar da FPL, outros circuitos etc (não sou a favor disso, falei e reitero que todas precisam estar no FPL) por isso eu citei no início desse tweet que ele foi infeliz, pois só pensei no meu ponto e no final das contas o cenário como um todo e os próprios players no print estão sendo apedrejados, óbvio que não falaram por maldade (simplesmente por não querer as meninas lá) mas acredito sim que seja pelo ponto de vista deles, no qual elas podem crescer se outra forma e chegar lá também, como foi no início do R6 e é até hoje. O problema é que são mulheres, e temos que ter esse olhar pois não somos xingados nas rankeds pelo nosso gênero, não temos dificuldade de achar bons treinos pelo nosso gênero que você crendo ou não, está atrelado a sua skill (mulher = ruim, não sabe jogar... Raras são as que escapam desse julgamento) basta ver os comentários em lives, vídeos ou no tweet passado.
Eu não acho justo ter quota para times que estão nos circuitos oficiais da Ubi entrarem na FPL, ainda mais para as meninas que se esforçam tanto quanto qualquer outro jogador da série A, Miranda é um exemplo, ganhou do time número 1 no rank jogando em um time que vinha com uma campanha de 0 vitórias com e com apenas alguns dias de treino.
Bem, espero que possa ter expressado é que entendam o que eu quis relatar.
Algumas meninas ficaram decepcionadas com seus ídolos pelo print, mas entendam que tem diferentes tipos de vista e acredito que não foi por mal.
"E peço desculpas se alguém ficou triste comigo, mas como disse, foi o meu pensamento", disse o manager da Faze Clan.
Nesk e Paluh se posicionam após repercussão
Jogadores da Team Liquid, Nesk e Paluh lançaram comunicados em suas redes sociais após a repercussão do caso. Paluh disse que é a favor da presença de mulheres na FPL, mas disse que é necessário que qualquer pessoa que deseje entrar no servidor exclusivo, homens ou mulheres, precisam apresentar um nível de conhecimento mínimo do jogo.
"Sobre o que aconteceu, eu quero deixar claro que apoio que as mulheres do cenário tenham espaço e tenham a oportunidade de competir. Também apoio que mulheres participem da FPL, como algumas já participam. O que eu não apoio é ter jogadores, sejam homens ou mulheres, participando da FPL sem subirem pelas divisões.
A conversa printada foi tirada de contexto, porque eu estava me referindo a adicionar jogadores de qualquer cenário competitivo. Não vejo problema com aqueles que já competem e fazem parte do cenário profissional. Mas acredito que existam amigos ou jogadores com o rank Champion (homens e mulheres) que não têm o mesmo conhecimento de jogo, pelo fato de a competição ser muito diferente, e que eu não recomendaria que fizessem parte da nossa divisão da FPL sem antes passar pelas primeiras divisões", ressaltou.
Nesk concordou com o posicionamento de Paluh, disse que a conversa exposta por Portela foi tirada do contexto e que suas falas foram mal interpretadas. Ele acrescentou que ele e outros homens precisam fazer mais para o cenário ser mais inclusivo para as mulheres.
"Tendo como base o que o Paluh disse, quero reafirmar e acrescentar minha opinião pessoal, como pai de uma menina e como marido. Ultimamente surgem diversas notícias negativas sobre mulheres no cenário de esports, sobre como são ameaçadas e maltratadas sem motivo algum, apenas por seguirem seus sonhos. Odeio ver essa conversa sendo tirada de contexto e tendo minhas falas mal interpretadas. Mas também reconheço que todos, eu incluso, devemos fazer mais para apoiar as mulheres do cenário de esports nos dias de hoje, e dar um exemplo melhor para as próximas gerações de mulheres que querem competir profissionalmente", frisou o jogador.