Jogos das séries Counter-Strike (CS), Call of Duty (CoD), Battlefield (BF) e Rainbow Six (R6) são extremamente aclamados e ficarão marcados para sempre na história dos games de tiro em primeira pessoa, ou FPS (First Person Shooter). No entanto, a origem dos games deste gênero vem de muito antes e teve diversos ícones que inovaram e se renovaram lançando novas tecnologias e modos de jogar até chegar ao que estamos acostumados. Nesta matéria contaremos a história deste estilo de jogo amado no mundo inteiro, desde seus primórdios até o que o futuro pode nos reservar.
1974: o ano em que tudo começou
Apesar das evoluções quase inacreditáveis por quais já passou, o gênero FPS não é tão antigo assim e possui 46 ou 47 anos. Isso porque os anos de 1973 e 1974 são considerados os anos zero da modalidade - há discordâncias sobre qual ano de fato é o correto - já que foi nesta época que a ideia foi lançada pela primeira vez ao público.
Criado por Steve Colley, Greg Thompson e Howard Palmer, o precursor é Maze War. O jogo se trata de um multiplayer 1 vs 1 em que os dois jogadores são colocados em um labirinto com o objetivo de um eliminar o outro. Os comandos são simples e permitem que o jogador ande para frente e para trás, vire para direção em que quer andar e, claro, que atire. Ele também possui um mini mapa para que os usuários possam se guiar - ferramenta que é muito utilizada até hoje.
Apesar de Maze War ter ficando pronto antes, Spasim também é considerado outro game que deu origem ao FPS. Neste título até 32 jogadores podem jogar, sendo divididos em equipes de até oito pessoas. Cada um possui sua nave e o objetivo é destruir os inimigos com tiros de "phasers" e torpedos - tudo inspirado na famosa franquia de entretenimento Star Trek (Jornada nas Estrelas).
Pode parecer até uma piada de mal gosto, mas não é: até mesmo neste primórdio os trapaceiros estavam na ativa. No Maze War, por exemplo, foram identificados dois hacks diferentes. O primeiro oferecia a vantagem ilegal de revelar a posição dos inimigos no mini mapa. Já o segundo era ainda pior e permitia que o jogador atravessasse as paredes do labirinto.
Início dos anos 90: os jogos irmãos que popularizaram o gênero FPS
Os jogos FPS não se tornaram um amor à primeira vista para os gamers da época. Até mesmo por conta da ideia que ainda estava crua, mas quando o conceito foi refinado mais um pouco o "boom" foi gigantesco.
Apesar de não ser tão famoso quanto seus precursores, foi Catacomb 3-D que deu o pontapé inicial a essa virada, em 1991, a primeira era de ouro dos games de tiro em primeira pessoa. Foi este game que introduziu o estilo que vemos atualmente - de forma mais simples - que é a arma do personagem centralizada na tela e abaixo disso uma interface com informações como vida, número de balas, outros itens etc.
Depois de Catacomb surgiram dois títulos que entrariam na história para sempre, inclusive com novas versões sendo lançadas até hoje: estamos falando de Wolfenstein 3D e Doom. O primeiro foi lançado em 1992 e colocou o jogador na pele de um militar norte-americano chamado William Joseph "B.J." Blazkowicz, durante a Segunda Guerra Mundial. O objetivo era fugir de uma prisão nazista enquanto enfrentava soldados, cachorros ferozes e até o próprio Hitler no final do game. O fato de ter diferentes armas, objetivos secundários como achar chaves e também um teor mais agressivo e realístico chamaram a atenção dos amantes de games da época.
Doom, por sua vez, foi lançado no fim de 1993. Neste jogo você é um soldado deportado para Marte, que é forçado a trabalhar em uma estação espacial até que algo terrível acontece... diversos monstros chegam ao local através de um portal e sua missão muda completamente para agora enfrentar aqueles seres e escapar vivo deste horror. O jogo tem diversas semelhanças com Wolfenstein 3D, mas trazia mais variedade em todos os aspectos: atmosfera ainda mais intensa, mais agressividade, mais armas, mais estilos de inimigos - aqui eram monstros e demônios - itens no jogo, possibilidades no mapa e até uma dificuldade mais elevada. Ele também foi um dos responsáveis por ajudar na popularização dos modos multiplayer.
A semelhança entre estes três jogos e as claras evoluções se devem aos mesmos idealizadores que participaram de todo o projeto. Nomes como Tom Hall, John e Adrian Carmack, John Romero participaram de todos os projetos e foram importantíssimos para história do FPS.
Os antagonistas Duke Nukem e Quake
Os anos 90 foram uma verdadeira época de ouro e outros grandes títulos foram lançados. Duas franquias com propostas bem diferentes, mas ainda no mesmo estilo FPS, fizeram grande sucesso e também marcaram seus nomes para sempre. Estamos falando de Duke Nukem e Quake.
Duke Nukem foi lançado em 1991 e não teve o sucesso imediato dos nomes citados até então. Foi a sua terceira edição (Duke Nukem 3D) de 1996 que trouxe grande relevância por diferentes aspectos. O primeiro motivo para toda esta glória foi a jogabilidade totalmente diferente dos anteriores e uma aposta certeira em um FPS bem evoluído para aquele período. O segundo foram os cenários diferenciados e bem feitos que levaram o herói a uma metrópole destruída. O terceiro e mais controverso foram as diversas polêmicas que gerou com o personagem quase satírico, humor apimentado e até erotismo.
A série Quake, por outro lado, apostou em uma temática mais séria com cenários escuros ou na cor vermelha dando uma sensação de algo maligno. Inclusive, não é difícil achar semelhanças com Doom. O primeiro jogo da franquia foi lançado em 1996 e, desde então, teve diversas expansões. No entanto, a mais aclamada foi o Quake 3, de 1999. Além de um ótimo game, também foi um dos grande pontapés iniciais para os esportes eletrônicos, com diversas competições entre jogadores na QuakeCon.
Aqui também vale menções a Unreal Tournament, Day of Defeat e até mesmo System Shock.
Half Life e seu "mod famosinho", também conhecido como Counter-Strike
Lançado em 1998, Half Life é um jogo de ficção-científica em que o jogador encarna Gordon Freeman e tenta fugir de um laboratório secreto em que experimentos deram errado e trouxeram espécies estranhas, carnívoras e assassinas para dentro do local. Ele é considerado até hoje um dos melhores jogos da história e, segundo a IGN, é o melhor FPS já feito e que podemos dividir as eras entre antes e depois de Half Life. Isso porque mesmo com a tecnologia não tão avançada, a Valve conseguiu alcançar gráficos e jogabilidade extremamente realistas para a época, além de uma narrativa fluida digna de cinema.
Half Life foi o ponto de partida para outra franquia, considerada por muitos como a melhor dos FPS competitivos: Counter-Strike. O game nasceu como um mod de HF e aos poucos foi ganhando vida própria. No início dos anos 2000 praticamente não se falava em outro FPS que não a versão Counter-Strike 1.6, que virou febre nas lan houses do Brasil e do mundo, resultando em uma verdadeira cena competitiva nacional e internacional. Os brasileiros eram tão aficionados por ele que foram diversas vezes para fora do país para disputar torneios, conquistando suas primeiras vitórias.
Mais tarde, a Valve ainda acertaria - mas nem tanto - no Counter-Strike: Source e depois se superaria com Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO).
Os rivais Battlefield e Call of Duty
Battlefield e Call of Duty popularizaram e muito a temática de guerra, inclusive colocando os jogadores para reviver algumas batalhas históricas da vida real. O primeiro a ser lançado foi o Battlefield 1942, ambientado na Segunda Guerra Mundial e com a opção tanto de guerrilhar a pé quanto em tanques, jipes, aviões e navios. Ele também foi o primeiro a ter o "Modo Conquista", um dos mais jogados da série até hoje.
O CoD veio logo em seguida, em 2003, com a mesma proposta. Toda a ambientação de 2ª Guerra juntamente com fatos históricos. Apesar das similaridades no início, com o passar do tempo cada game criou sua própria identidade e também público. Mais tarde ambas se tornaram duas das principais franquias de FPS tanto no modo single player quanto no multiplayer, passeando por diversas guerras históricas e fictícias, tanto no passado quanto no presente e em futuros distópicos.
Consoles também fazem parte desta história
Apesar de não oferecer a mesma facilidade que um mouse e um teclado, os joysticks dos consoles também imortalizaram diversos jogos FPS. Se você é um verdadeiro amante deste estilo deve se lembrar das guerras de Medal of Honor, da ação de 007 GoldenEye, da trocação de tiro frenética em Black e Killzone, da história incrível e emocionante de Halo, da inteligência e estratégia por trás de Rainbow Six e muito mais...
Mistura e novos gêneros
Em dado momento o mundo ficou pequeno para o FPS. Com uma pitada de criatividade, o gênero ainda podia ser muito exlorado em diversas vertentes. Um das práticas que mais fez sucesso foi a mistura do FPS com o RPG, trazendo assim jogos mais complexos e com novas mecânicas. Exemplos disso são Deus Ex, Fallout, Destiny, Borderlands e mais.
Outra combinação que ganhou diversos fãs pelo mundo foi FPS com terror. Alguns parecidos com o que Doom já fazia - inclusive novos lançamentos dele - e outros ainda mais macabros e realmente de dar muito medo e sustos. Alguns exemplos são F.E.A.R., Dying Light, Alien: Isolation, Left 4 Dead, Condemned e outros.
Um terceiro e último exemplo desses encontros entre gêneros é do FPS com MOBA. Resumidamente os MOBAs são jogos em que existem diversos personagens com habilidades e estilo de jogo únicos e cada jogador controla um deles. Dois games que juntaram isso muito bem são Overwatch e Paladins. Apesar de não chegar a tanto, também é possível dizer que Rainbow Six: Siege e Valorant também beberam desta fonte.
Até mesmo novos gêneros nasceram do FPS. Um dos mais famosos nos dias atuais é o battle royale. Este modo consiste em juntar um grande número de jogadores em um mesmo mapa e fazer todos lutarem pela sobrevivência para ser o último restante. PlayerUnknown's Battlegrounds (PUBG) foi um dos grandes responsáveis por popularizar o gênero. Desde então até mesmo gigantes como Call of Duty e Counter-Strike se renderam e criaram seus próprios BR.
Onde estamos hoje
O ano é 2020 e a evolução dos jogos eletrônicos é clara e gigantesca. Quão gigantesca? Para você ter ideia, hoje este mercado é maior do que o da música e o dos filmes somados. Para quem viveu algumas das épocas citadas anteriormente é extremamente interessante ver que franquias antigas como Doom, Counter-Strike, Battlefield, Call of Duty e outras ainda existem e seguem no topo. É ótimo ver também como títulos novos estão ganhando força e marcando seu nome para sempre nesta história. Outro ponto digno de comemoração foi a ramificação dos esports que nasceu e cresceu com tudo até se tornar um verdadeiro ecossistema cada vez mais respeitado.
Sobre o futuro, é difícil prever até onde games do gênero FPS podem chegar. Quem sabe misturas inexploradas ou novos gêneros surjam a partir dele? Há experimentos em realidade virtual que podem ganhar força com os anos e virar a grande febre deste estilo. Independentemente do que venha pela frente, sabemos que se tratando deste amado estilo, será coisa boa.