Montagem: Matheus Oliveira/Versus Esports
Os esports são recheados de grandes personalidades, mas poucos atingem um nível de reconhecimento semelhante ao de Daigo "The Beast" Umehara, um dos jogadores com mais vitórias na histórias das competições, considerado um Deus do Street Fighter. O pro player de jogos de luta disputa há mais de 20 anos e tem uma história marcada por quedas e ascensões, que será dissecada pelo Millenium neste perfil.
Daigo começou seu histórico de vitórias com apenas dez anos, frequentando fliperamas no Japão e passando tardes jogando com apenas uma ficha.
Na época, em 1991, o pequeno Umehara se sentiu intimidado pelo público mais velho que lutava em Street Fighter II, passando então a procurar seu espaço em Darkstalkers, título no qual alcançou uma sequência de 286 vitórias seguidas, número que só não foi maior pois o local, na cidade de Akihabara, fechou devido ao horário.
Ninguém contava, porém, com um fator importante: talento. Com poucas horas de prática, Umehara já se mostrava melhor que muitos de seus desafiantes, o que fez o jovem se apaixonar pelos jogos.
"Não havia percebido que era muito melhor que os outros jogadores, vencia facilmente todos os meus colegas, então pensei que deveria continuar amando o jogo", disse Umehara em entrevista ao portal norte-americano theScore Esports.
O primeiro de muitos troféus
Sua coleção de títulos começou em 1997. Já em seu segundo torneio, Daigo saiu com vitória, e, um ano depois, derrotando na final ninguém mais, ninguém menos do que Oonuki "Nuki" Shinya - conhecido como um dos cinco deuses japoneses dos jogos de luta, ao lado de The Beast -, venceu seu primeiro campeonato.
O torneio em questão, levou o melhor jogador japonês, no caso o próprio Daigo, para os EUA, para um último desafio: encarar o campeão ocidental de Street Fighter Alpha 3, o californiano Alex Valle.
Umehara venceu o desafio e se tornou o primeiro japonês a vencer em um campeonato internacional.
EVO e a lenda de The Beast
A Evolution Championship Series (EVO) - maior evento de jogos de luta do mundo -, nasceu em 2002. Em sua segunda edição, em 2003, Daigo marcou presença, saindo como campeão em Street Fighter II Turbo, o torneio mais disputado, e terminando em segundo em Street Fighter III: Third Strike.
No ano seguinte, 2004, foi quando The Beast se sagrou protagonista de um dos momentos mais memoráveis dos fighting games e, quiçá, dos esports até hoje.
O popular EVO Moment #37 aconteceu durante a final da chave dos perdedores do torneio de Street Fighter III, Daigo enfrentou o conhecido competidor norte-americano Justin Wong e fez o que muitos acreditavam ser impossível: aparar todos os golpes do super de Chun-Li, revidando com um ataque próprio para vencer a partida. A resposta do público para a virada fala por si só.
O fim da aventura?
Umehara não chegou nem a vencer o torneio naquele ano, mas a jogada abriu os olhos de diversos jogadores e despertou o interesse de uma nova comunidade. Apesar do sucesso, o competidor se viu sem esperanças a partir dali, acreditando que o cenário não teria mais para onde ir.
Mesmo declarando que não se sentia mais parte da comunidade de games, o espírito competitivo do japonês não sumiu, e Daigo decidiu competir em outro jogo: Mahjong.
Após passar um tempo investindo no jogo de tabuleiro chinês, Umehara desistiu completamente das competições e passou anos como gerontólogo, tendo como reflexo a figura de seus pais.
"Meus pais trabalham na área da saúde então os dois me apoiaram", disse Daigo em uma entrevista ao portal norte-americano Kotaku, em 2010, quando explicou sobre seu emprego como enfermeiro no Japão.
Nessa época, com um emprego fixo e trabalhando cinco dias por semana, Umehara acreditava que ter apostado em jogos foi um erro, mas tudo mudou com a chegada de Street Fighter IV, quando The Beast voltou para os palcos.
"De certa maneira, achei que entrar nos games foi uma falha, que jogar Mahjong foi uma falha, que tudo na minha vida foi uma falha. Mas se você continuar indo pelo caminho mais fácil, vai acabar em um beco sem saída", conta Daigo no documentário Mind of a Beast (Mente de uma besta, em inglês).
Street Fighter IV: O game que reergueu não só uma comunidade, mas um gigante
Street Fighter IV é conhecido como o game responsável por trazer a comunidade de jogos de luta de volta à vida e parte disso se dá pelo jogo ter sido justamente o que fez Daigo renascer das cinzas.
Ao ouvir que The Beast havia retornado às competições, jogadores do mundo todo se mobilizaram por uma partida contra Umehara e, pouco tempo depois, o competidor japonês já vencia torneios nacionais e internacionais novamente.
Em seu livro The Will to Keep Winning (A vontade de continuar vencendo, em inglês), Daigo conta que, como última bala de sua arma, participar da EVO em 2009 foi uma tentativa derradeira de ser um grande competidor e viver dos games.
Dito e feito, após vencer no primeiro torneio de Street Fighter IV da história, Umehara recebeu uma oferta de patrocínio da marca de periféricos Mad Catz, e se tornou o primeiro pro player do Japão.
"Nenhum outro evento me levaria a um patrocínio. Sem dúvidas a oferta da Mad Catz veio por eu ter vencido na EVO de 2009, logo depois de voltar de uma pausa de mais de quatro anos", diz Umehara em um trecho de seu livro.
Quase 30 anos de história, mas ainda longe do fim
Daigo vive a vida de pro player desde então, mas sua preocupação com o futuro nunca deixou de existir, como também deixa claro em Will to Keep Winning. "Sinto a necessidade de crescer para estar preparado para quando os games tiverem o respeito que merecem".
Hoje, Daigo não é mais o melhor entre os melhores jogadores de Street Fighter, mas continua como uma figura reverenciada no Japão e no cenário em geral. Ele participa em campeonatos pelo mundo todo e, por mais que não esteja no topo, Umehara segura boas posições no ranking da Capcom Pro Tour e representa grandes desafios a seus adversários.
Daigo "The Beast" Umehara, reconhecido como um deus dos jogos de luta, não é mais imbatível, mas como diz em seu livro, nunca vai parar de buscar o topo: "fui derrotado diversas vezes e reduzido ao papel de desafiante, para mim, esta é a parte mais divertida".