(Foto: Helena Kristiansson/ESL)
Segunda-feira, 18 de junho de 2018. Estou no avião, de volta para São Paulo após três dias em Minas Gerais cobrindo a ESL One Belo Horizonte, o maior campeonato de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) já realizado no Brasil.
O palco das disputas foi o tradicional Mineirinho, que vibrou com a torcida após cada lance dado por oito das melhores equipes do game de tiro em todo o globo.
Foram 12 mil pessoas presentes na arena poliesportiva, cada fã vestindo a camisa e realizando o sonho de ver seus pro players favoritos dando um verdadeiro show de habilidades.
Desde sexta-feira (15) até domingo (17), o evento com presença do público trouxe uma estrutura de qualidade com telões, luzes fortes e som alto - mas não tanto quanto os gritos e a emoção no ambiente. Belo Horizonte acolheu uma das torcidas mais bonitas que já vi em meus quase quatro anos cobrindo torneios de eSports.
Em plena época de Copa do Mundo, enquanto o hexa não vem, os brasileiros podem ter o orgulho de ver equipes de CS:GO com jogadores nacionais como SK Gaming, Não Tem Como e até mesmo Team Liquid representando o país em competições de alto nível. E a ESL One BH, em especial, foi cheia de significado.
Ao entrar na arena, eu sentia na pele o calor de estar entre tantas pessoas com a mesma paixão e vontade de assistir aos jogos de tirar o fôlego. As partidas da SK Gaming trouxeram o melhor da torcida nacional. Enquanto eu gravava os vídeos de cobertura, a cantoria da torcida me arrepiava a espinha.
Natália, segurança do evento com quem conversei brevemente entre a loucura e gritaria entre um round e outro, comentou comigo como o evento é diferente de tudo que já viu. Acostumada a trabalhar em campeonatos de futebol e shows de música, ela falou entre risos: “Esse povo é muito animado! Nunca vi. Não estou entendendo nada, mas estou me divertindo”. Bem, ela e a arena toda.
Impossível não lembrar dos mesmos urros ensandecidos que presenciei durante a ESL Pro League São Paulo, torneio que cobri há dois anos. Recordo muito bem do momento em que sentei na arquibancada do Ibirapuera e sofri ao lado de tantos outros após a derrota da própria SK - com uma escalação um pouco diferente da atual - contra a Cloud9 em plena final.
Aquele foi um 2 a 1 dolorido. E os fãs… Bem, os fãs não esquecem. Desta vez, no Mineirinho, todos estavam determinados a fazer diferente. Ninguém deixaria o título de casa escapar pelas mãos. Gritaram, pularam, choraram. Transformaram-se no sexto player. Se pudessem, é certo que subiriam ao palco, fazendo o possível e o impossível para levantar a moral de Fallen, fer, cold, boltz e stewie.
Os gritos da torcida enchiam o local, mas mesmo com a determinação quase alucinante das pessoas presentes, a SK Gaming parou nas semifinais. Após um 2 a 0 para a mousesports, o sonho acabou ali. De repente, os berros viraram um silêncio ensurdecedor e 2016 voltou à memória, com as mesmas expressões tristes dos torcedores.
O luto foi grande, mas não permanente. Apesar do sábado ter deixado o gosto amargo de derrota nos fãs, o domingo amanheceu como um recomeço.
A decisão da ESL One BH aconteceu entre os times mousesports e FaZe Clan, sendo que este último abraçou o Brasil e usou camisas da seleção na entrada do jogo. De repente, os brasileiros já tinham um novo herói, alguém para torcer e sofrer junto. O Mineirinho renasceu, com os mesmos gritos de antes, a mesma energia contagiante e os cantos animados.
Sim, somos o país do futebol, mas a mais nova paixão nacional é o CS:GO. Existem fãs por aí que dão um banho em qualquer torcida organizada. Famílias inteiras se deslocaram de muito longe para assistir ao espetáculo dos eSports em Belo Horizonte e amantes do jogo de tiro demonstraram seu carinho para os jogadores estrangeiros, não se limitando apenas aos brasileiros.
Até mesmo Maj3r, capitão da Space Soldiers que passou por um momento negativo com um torcedor durante sua entrada no palco da arena, entendeu o amor da torcida. “Todo país vai ter alguns imbecis e idiotas, mas não se preocupem”, ele me disse durante uma entrevista na sala de imprensa. "Os fãs do Brasil são incríveis, e eu amo vocês!”
Depois do que aconteceu com uma pessoa, ele recebeu o afeto de centenas. Em sua sessão de autógrafos, ele mencionou como cada brasileiro passava e pedia desculpas pelo que aconteceu… E até recebeu uma carta emocionante: “Você disse que o Brasil não gostava de você. Isso não é verdade. O Brasil ama a Space Soldiers, vocês só jogaram contra nossa equipe favorita, a SK Gaming. Mas nosso coração é muito grande e tem espaço para todos (...)”.
E é verdade. No final, nosso espírito esportivo é maior do que tudo.
Sim, a SK pode não ter se classificado para a grande final... Mas quem ganhou, com certeza, foi o Brasil.
O Millenium viajou com a Intel para a ESL One Belo Horizonte