Você já deve ter ouvido sobre Júlia “Cute” Akemi. Ela ficou conhecida como a primeira pro player brasileira a jogar uma partida oficial de League of Legends (LoL) em estúdio - no caso, a jogadora defendeu a CNB Trinity White durante uma rodada da Superliga, no início de dezembro de 2017.
A equipe de base da organização contava apenas com um representante de Elo Desafiante: a própria Cute. Mesmo o time perdendo os dois jogos da série contra a ProGaming (PRG), Júlia ainda foi alvo de ataques preconceituosos no chat das transmissões das partidas.
O Millenium conversou com Cute para saber suas opiniões sobre o cenário brasileiro de LoL, seu passado e futuro no competitivo.
Jornada da campeã
Natural de Bauru, interior de São Paulo, a jogadora tinha 17 anos quando disputou a SuperLiga, quando quebrou barreiras no cenário feminino de LoL no Brasil… Mal sabia até onde Summoner’s Rift poderia levá-la.
Sua história com o MOBA começou graças a uma recomendação do jogo feita por um amigo.
“Nunca me imaginei pegando Challenger, mas sempre fui muito esforçada para ser boa no jogo e por causa disso acabei conquistando o elo”, afirma a jogadora, que já chegou a jogar até 12 horas por dia.
Sua principal função no game é Suporte, mas essa não foi sua rota inicial no LoL: “Eu joguei no meio por cerca de três temporadas, e com o passar do tempo, fui enjoando. Então decidi aprender a jogar de suporte, já que os campeões eram bem parecidos com os que eu jogava no mid.”
O Preparando Campeões é um programa de seleção de novos jogadores organizado pela CNB. Após passarem por um processo seletivo chamado de Peneira, os jogadores escolhidos passam a fazer parte dos times de base do clube e têm a chance de se tornarem pro players, podendo chegar ao Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLoL).
Foi graças ao processo seletivo da equipe de base da CNB que Cute teve a oportunidade de estrear no mundo competitivo.
“O processo da Peneira foi uma experiência bem interessante e eu não senti nenhuma reação de surpresa dos meus colegas de equipe [em relação a ser uma mulher]. Eles me trataram de igual para igual”.
Rapidamente, a chance de jogar uma série oficial em estúdio chegou. A CNB escolheu usar suas equipes de base na SuperLiga porque quis proporcionar mais experiência aos jogadores amadores enquanto as últimas contratações do time profissional para o CBLoL 2018 eram finalizadas.
A presença de Cute na competição, além de ter sido um grande passo na entrada de mais mulheres nos esports, mostrou para outras jogadoras que podem, sim, ir atrás de seus sonhos no mercado competitivo.
“Espero ter aberto os olhos de muitas mulheres que sonham em seguir essa carreira e que tenha deixado claro que tudo é possível!”
Cute acredita que com o passar do tempo o número de jogadoras de LoL deve aumentar. “O preconceito sobre as mulheres num geral é basicamente o reflexo da nossa sociedade. Muitos conceitos ainda precisam ser reformulados.”
E quanto a argumentos como ‘mulher só joga como suporte’, ela é direta e mandou o seguinte recado: “Preconceito sobre a minha rota é algo que não me afeta e nem deveria afetar qualquer outra jogadora, pois devemos jogar na função que nos agrada.”
Quando questionada sobre seu futuro, Júlia diz que em 2018 sua prioridade é terminar o Ensino Médio.
Ela afirma que desde o início, sua intenção foi apenas finalizar o projeto do Preparando Campeões junto com a CNB Trinity White, já que sua intenção sempre foi ter uma vida universitária.
Mesmo que Cute deixe o cenário de lado, seu legado para as jogadoras vai permanecer marcado na comunidade brasileira. Seu último conselho para as mulheres que querem se aventurar pelos esports? “Com muito esforço, todo sonho vira realidade. Nunca desista!”