Atenção: essa matéria pode conter spoilers do jogo.
O game Tchia, nova aposta indie da desenvolvedora Awaceb, é uma experiência quase terapêutica. A história de Tchia é contada por uma senhora residente da ilha fictícia inspirada na região da Nova Caledônia, representada tanto nos visuais como no som; a dublagem original do game foi feita com atores que nasceram no arquipélago situado na Melanésia, auxiliando muito na imersão da experiência e sendo um fator muito importante para uma questão que vamos abordar nessa matéria.
Todo o diálogo presente no jogo foi feito utilizando a linguagem Drehu, uma língua austronésica que é bastante falada na ilha de Lifou, uma das ilhas da Nova Caledônia. Segundo os desenvolvedores, que nasceram e cresceram na região, o folclore local, assim como características da fauna e da flora, também foram utilizados no game.
Embora o jogo só esteja disponível oficialmente nesta terça-feira (21), o MGG Brasil teve acesso antecipado ao título que será lançado para PlayStation e PC. Desde os primeiros momentos de gameplay, já é perceptível que será uma jogabilidade calma e simples, combinando muito com a história que está sendo contada por trás.
O jogo me ganhou a partir do momento em que começamos a aprender mecânicas básicas de exploração ou de interação com objetos. Não pela razão óbvia de todo jogo de exploração, mas sim porque o game te envolve com ritmos e músicas de sonoridades muito próximas a de uma "meditação".
A imagem acima indica o primeiro ritmo que aprendemos, como Tchia, no jogo. As instruções são bastante claras, mas é preciso prestar atenção para decorar os comandos e realizá-los em seguida. Nessa primeira experiência musical, fazemos a batida utilizando folhas de samambaia secas como instrumentos de percussão.
Mesmo chegando até o que acredito ser o final do game, essa sequência inicial foi uma das mais tocantes para mim. Justamente por ser uma das interações musicais mais básicas do jogo - utilizamos apenas o botão esquerdo do mouse -, me perdi na atividade a ponto de ultrapassar o tempo necessário e voltar duas vezes nessa música. A sonoridade das folhas se mexendo juntamente com o ritmo do pai de Tchia é muito natural e, se fecharmos os olhos, somos facilmente transportados para uma roda de canto.
Essa análise pode ser um tanto quanto pessoal, principalmente pelo fato de que estou acostumada com jogos mais rápidos - além de também ser uma pessoa um pouco ansiosa -, mas acredito que os desenvolvedores também aconselhem todos a darem uma atenção especial para as interações musicais do jogo. Quando a personagem principal recebe o Ukulele das mãos de Tre, então, a criatividade musical é ainda mais explorada.
Quando recebemos o instrumento, aprendemos a primeira melodia básica ao lado de Tre. Em seguida, a personagem é instruída a descobrir suas próprias canções - que também são importantes para o ritmo do jogo -. Para aprender melodias que impactam em situações como mudança de dia para noite, Tchia deve finalizar as atividades de Equilíbrio de pedras que podem ser encontradas ao longo da exploração.
Como é possível ver na imagem acima, as melodias podem ser utilizadas para auxiliar na exploração. Ao longo do jogo, também descobrimos que as melodias são usadas para ajudar em ações de Transferência de Alma, podendo ser uma forma de atrair espíritos para perto de Tchia.
Tchia é, portanto, uma experiência imersiva que não apenas nos apresenta uma história de uma garota com superpoderes em busca de resgatar seu pai de um tirano, mas também foca em levar o jogador para uma viagem pelos sons das ilhas da Nova Caledônia. Ainda que a ambientação geral seja fictícia, elementos retirados diretamente do arquipélago foram utilizados no game como uma "carta de amor" para a região - conforme disseram os próprios desenvolvedores.