Não é novidade que as redes sociais estão mudando e impactando a forma como as pessoas lidam com suas carreiras no mundo moderno. Hoje em dia, todo mundo é, uma vez ou outra, um pouco blogueiro. E essa questão é duas vezes mais intensa se você trabalha ativamente com a internet, seja com ela ou para ela.
Isso se estende para os pro players de jogos como League of Legends, CS:GO, R6 e mais - embora popularmente estereotipados como sendo pessoas introspectivas. Ainda que o cenário global esteja evoluindo e que já consigamos ver algumas figuras que acompanhamos por anos crescendo na mídia, uma parcela desse cenário mantém o desejo de apenas jogar e ficar de fora dos holofotes.
Com a profissionalização do mercado, as organizações estão lentamente saindo do aspecto amador e buscando cada vez mais recursos externos para seu crescimento interno. Sim, as organizações precisam de publicidade. E patrocínio requer bom posicionamento de marca - dificilmente um patrocinador irá investir em algo ou alguém com baixo alcance virtual.
Se você trabalha, acompanha ou já conviveu de alguma forma com o cenário de esports, sabe que essa discussão não é nada nova. Mateus Portilho, social media da organização Cloud9, reviveu o debate ao comentar em seu Twitter que "vencer não é o único trabalho de um pro player".
Os grandes eventos de esports, com suas premiações milionárias, atraem patrocínios de marcas de luxo - no último ano, Mastercard e Mercedes patrocinaram o Mundial de LoL. O mercado dos videogames, no geral, movimenta muito dinheiro e é inevitável que quem participa disso seja um objeto de interesse.
E, nisso, portilho está certo. No entanto, discordo de sua posição de que o jogador precise necessariamente se dedicar para se tornar um criador de conteúdo, afinal, isso é uma profissão por si só e possivelmente tomaria muito tempo de treinos e estudos sobre o jogo. Mas o fato de estar disponível para o trabalho de mídia da organização por meio de entrevistas, conteúdos para redes sociais e outros pequenos afazeres de rotina é, sim, essencial.
Naturalmente, também discordo da frase que diz que pro players não "deveriam receber muito dinheiro se não se esforçarem para cuidar de sua imagem". Como disse acima, isso é um trabalho que deve partir da organização por meio de um treinamento de mídia. Se a organização deseja um tipo específico de perfil que se destaque mais do que os outros, ela deve deixar isso claro e trabalhar para que os objetivos sejam cumpridos.
Entendo que alguns grandes nomes de nosso cenário - como YoDa, brTT, Ranger - trilharam esse caminho midiático por conta própria e são exemplos de sucesso, mas seus perfis não necessariamente se aplicam aos demais pro players que não buscam uma ascensão como criador de conteúdo durante o tempo livre.
Já presenciei e ouvi muitas entrevistas em que estava claro que o jogador não tinha preparo nenhum para estar ali. Também já vi jogador sendo jogado para entrevista claramente contra sua vontade. Pode se tratar de um problema no direcionamento das organizações ou o atleta pode, simplesmente, não ter interesse nenhum em estar nessa posição. Ou as duas coisas em conjunto, o que é bastante frequente, na verdade.
Independentemente da resposta, esse fator não deveria ser tratado como um divisor de águas para definir o salário de um pro player, que é, sim, contratado para passar a maior parte de seu dia comum jogando. Como a presença digital é um fator essencial para o sucesso comercial das organizações, os treinamentos sobre como se portar como uma pessoa pública para a organização devem fazer parte da rotina de todos os jogadores de forma igualitária.
Em conclusão: sim, os atletas deveriam ser instruídos a trabalhar sua imagem pública quando estão em ambiente de trabalho. Mas essa iniciativa deve partir das organizações por meio de projetos e orientações rotineiras.