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De volta ao off: O retorno dos eventos presenciais dos jogos de luta no Brasil em 2022

De volta ao off: O retorno dos eventos presenciais dos jogos de luta no Brasil em 2022
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TRETA, Battle Coliseum, Ultra Hard e Bar Fight marcaram o retorno das competições offline no Brasil após arrefecimento a pandemia. Organizadores de torneios, Sagaz, JB, Gigio Lurez e Freenicius falam sobre desafios da volta no "pós-Covid" e projeções para 2023

De volta ao off: O retorno dos eventos presenciais dos jogos de luta no Brasil em 2022

Ao longo dos últimos dois anos, a comunidade brasileira dos jogos de luta precisou se adaptar a um período sem eventos presenciais por causa da pandemia de Covid-19. A interrupção de todos os principais eventos disputados no Brasil, como o TRETA Championship, o Battle Coliseum e o Fight in Rio, fez jogadores e organizadores de torneios buscarem outras formas de manter a cena competitiva movimentada mesmo sem os eventos offline que sempre caracterizaram a FGC (fighting games community, na sigla em inglês).

Nesse período, os campeonatos e circuitos online cresceram e ganharam força, revelaram novos nomes e se consolidaram como parte do ecossistema dos jogos de luta no Brasil. Em 2022, porém, após a vacinação contra o Covid-19 avançar no país e as taxas de contágios e óbitos caírem, os campeonatos offline finalmente voltaram em peso, com o retorno do TRETA e do Battle Coliseum, que não eram disputados desde 2019, a consolidação do Heaven or Hell como principal evento de anime fighters (jogos de luta com estética de anime) do país, e o surgimento do Ultra Hard, evento de jogos de luta disputado em Belo Horizonte, e do Bar Fight, um circuito de eventos mensais disputados em São Paulo.

O MGG Brasil conversou com alguns dos principais organizadores de eventos offline de jogos de luta no Brasil, abordando os maiores desafios relacionados ao retorno de torneios presenciais após 2 anos de pandemia, a o feedback da comunidade sobre os campeonatos e planos para 2023, ano que será marcado pelo lançamento de Street Fighter 6 e pela provável volta dos circuitos competitivos oficiais de vários dos principais fighting games do mercado com etapas presenciais mundo afora.

Bar Fight Edição Beta: O passo inicial do retorno dos offlines no Brasil

Marcel 'Sagaz' Teixeira é um dos organizadores do Bar Fight e do Battle Coliseum, eventos presenciais disputados em São Paulo (Foto: Rodrigo Coelho) - Jogos de Luta
Marcel "Sagaz" Teixeira é um dos organizadores do Bar Fight e do Battle Coliseum, eventos presenciais disputados em São Paulo (Foto: Rodrigo Coelho)

Em um período ainda pré-pandemia, a comunidade de jogos de luta de São Paulo organizava regularmente o Tiger Upper Quarta, um torneio semanal que, como o próprio nome sugere, era disputado semanalmente às quartas-feiras, em São Paulo. O evento, realizado no Vitrine Bar, na Rua Augusta, foi criado para movimentar a cena competitiva local com competições regulares, mas acabou crescendo e se tornou um circuito que atraiu competidores de outros estados. Um exemplo disso foi a realização do Tigger Upper Circuit 2019, disputado em dezembro daquele ano e que contou também com a participação de competidores do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Curitiba.

A tendência era que ao longo de 2020 o TUQ, à época organizado por Márcio "Emitivi" e Vinícius "Freenicius" Passos, continuasse a ser disputado regularmente com etapas semanais às quartas-feiras, mas a chegada da pandemia de Covid-19 acabou causando o fim do evento, inclusive com os equipamentos usados para rodar os torneios sendo vendidos para os próprios membros da FGC brasileira.

Em novembro de 2021, porém, quando a vacinação já avançava no Brasil e as taxas de contágio e óbitos caíam de forma significativa, integrantes da FGC de São Paulo como Marcel "Sagaz" Teixeira e Vitor "JB" Blasques tomaram a iniciativa de organizar a versão "beta" de um novo evento offline: o Bar Fight. Disputado no Brock Bar, na região do Brooklin, em São Paulo, o campeonatoo surgia como uma espécie de sucessor espiritual do TUQ e marcava o retorno dos offlines no Brasil. O primeiro torneio foi uma edição teste de um projeto maior que se consolidaria em 2022, com etapas mensais e torneios que chegaram a contar com quase 70 competidores.

Em entrevista ao MGG Brasil, Sagaz destaca que a volta dos presenciais foi essencial não apenas pelo aspecto competitivo em si, mas pela integração de uma comunidade que por 2 anos esteve carente de eventos offline.

"Lá no comecinho do TUQ, que era tocado pelo Freenicius e pelo Emitivi, a gente conseguia reunir algo entre 10 e 15 jogadores, com cada jogador pagando 10 reais pela inscrição no torneio, e no final esse dinheiro era usado para pagar a premiação do campeonato. O projeto surgiu como algo de pequeno porte, mas o evento foi crescendo, nós fomos juntando uns braços e cada um passou a ajudar em uma coisa. Eu às vezes ficava na narração, às vezes atualizando a tabela, o Emitivi e o Freenicius idem, e o evento foi ganhando força, com mais gente competindo", destaca Sagaz, um dos atuais organizadores do Bar Fight e do Battle Coliseum 2022.

"Em 2019 o TUQ já tinha torneios que batiam mais de 70 participantes, um número muito alto para um evento semanal de quarta-feira, e é por isso que o TUQ tem o seu legado, pois sem ele provavelmente não existiria o Bar Fight. Muito do que a FGC São Paulo é hoje se deve ao trabalho de comunidade feito naquela época do TUQ, pois muita gente se conheceu e ficou amiga ali. Acho que essa amizade que nós construímos, mesmo quando existem discordâncias aqui e ali, é o grande ponto forte dos jogos de luta como um todo, pois sem a comunidade nada do que nós construímos nos últimos anos, mesmo com a pandemia atrapalhando muito essa trajetória, existiria hoje."

Battle Coliseum 2019 foi o último Major disputado em São Paulo antes da pandemia de Covid-19 - Jogos de Luta
Battle Coliseum 2019 foi o último Major disputado em São Paulo antes da pandemia de Covid-19

Pausa total e recomeço após arrefecimento da pandemia

Sagaz explica que a chegada da pandemia de Covid-19 "parou tudo" nos eventos offline não apenas em São Paulo, mas no Brasil inteiro, o que forçou a interrupção dos torneios presenciais e fez o próprio retorno dessas competições ser cercado de cautela e incertezas. A edição beta do Bar Fight, por exemplo, foi um primeiro teste nesse sentido, e o sucesso da competição deu confiança para Sagaz e JB fazerem do evento parte do calendário regular da FGC São Paulo. O crescimento e consolidação do Bar Fight influenciaram inclusive na realização do Battle Coliseum, hoje um dos maiores eventos de fighting games do Brasil.

"O lance para nós voltamos foi muito mais difícil, pois nós não tínhamos estimativa quanto tempo a pandemia ia durar, de quando nós teríamos vacina, de quando os casos e mortes iriam cair, então foi um clima de incerteza muito grande. Os equipamentos estavam todos parados lá no Vitrine, e aí o Vinícius e o Emitivi meio que largaram mão, pois ninguém tinha ideia de quando e se iríamos voltar. Aí se tomou a decisão de vender os equipamentos que nós usávamos nos torneios para a própria galera FGC, pois eles estavam completamente sem uso e talvez ficassem assim por anos", conta Sagaz, acrescentando que o retorno dos presenciais, com a edição beta do Bar Fight, foi feita de maneira bastante cautelosa.

"Quando eu, JB e o (Gleisson) Doof fizemos o Bar Fight Beta, era realmente um teste, um ensaio para vermos o que poderíamos e queríamos fazer em 2022, com um Bar Fight sendo um evento regular e disputado ao longo de todo o ano, com etapas mensais. No fim de 2021, quando o Covid tinha finalmente aliviado um pouco e resolvemos fazer o Bar Fight, nós não tínhamos basicamente nada: equipamentos, patrocinadores, nada. Cada um foi levando uma coisa e fizemos o campeonato rodar. Conseguimos montar umas oito estações de jogos e foi tudo feito na raça, mas deu muito certo e isso no deu muito gás para retomarmos os offlines, mas agora correndo atrás de apoio e patrocinadores, pois ficaria muito chato toda hora organizar campeonato com um monte de gente levando o próprio equipamento. Então, quando retomamos o evento, em fevereiro, nosso foco já era fazer campeonato rodar com apoio de empresas, pois queríamos uma coisa mais estruturada e trazer mais público para o Bar Fight", relata.

Com o passar do tempo, a equipe organizadora dos eventos da FGC SP firmou parcerias com algumas marcas que passaram a patrocinar os torneios do Bar Fight, que foi crescendo em números ao longo de 2022: "Conforme sobrava dinheiro dos campeonatos anteriores, também íamos comprando mais equipamentos, investindo na estrutura do evento, e no fim de 2022 o Bar Fight já estava muito mais profissional e estruturado do que edição beta, e esse trabalho todo culminou no nosso Major, que foi o Battle Coliseum", pontua Sagaz.

O desafio de levar um campeonato de jogos de luta "para o próximo nível"

Vitor "JB" Blasques, que também atua na linha de frente da organização dos principais eventos da FGC São Paulo, procura usar a experiência como profissional de marketing justamente para buscar patrocinadores para os campeonatos em que trabalha. Desde que o Bar Fight se tornou um circuito mensal de torneios e o Battle Coliseum retornou com o status de Major da capital paulista, ele ressalta que a busca por marcas parceiras se tornou um dos principais desafios para tornar os eventos de jogos de luta financeiramente sustentáveis e, ao mesmo tempo, recompensar financeiramente os jogadores que terminam nas melhores colocações.

JB conta que assumiu definitivamente a organização do Bar Fight ao lado de Sagaz e de outros integrantes da FGC São Paulo logo após a edição beta, quando Emitivi disse não ter mais interesse em estar à frente do evento. Dali em diante, Blasques se dedicou em estabelecer pontes com potenciais patrocinadores para os campeonatos que viria a organizar ao longo de 2022.

"Foi assim que o Bar Fight se estendeu após a edição beta. Com a saída do Emitivi, ficamos eu, o Sagaz, o FGCWatcher, o RonaldoCharuto e o Gleisson Doof cuidando dos torneios aqui da FGC São Paulo, começando pelo Bar Fight. Eu sempre quis levar os eventos de fighting games daqui do Brasil para o próximo nível, então procurei colocar meu trabalho em ação para buscar marcas e patrocinadores que pudessem ajudar nesse sentido, pois já é algo que eu faço no meu trabalho. Fechamos com a SteelSeries (fabricante de headsets e outros equipamentos gamrers), com a BenQ (marca de monitores), e a partir daí o Bar Fight começou a tomar uma proporção maior, o que nos ajudou a buscar outros patrocinadores", comenta.

Com a consolidação do Bar Fight no calendário regular de eventos presenciais de jogos de luta no Brasil, o próximo objetivo de JB e o restante da equipe da FGC São Paulo era organizar um evento Major na cidade, e resgatando o nome do Battle Coliseum, que foi disputado em 2018 e 2019, mas interrompido durante a pandemia e que, a princípio, não seria retomado.

"O Battle Coliseum original surgiu lá em 2018, organizado pela (empresa) No Limits e tocado pelo MadReis e pelo Brito. Eles queriam juntar esse torneio com o RiseUp, que era o circuito que tinha aqui em São Paulo na época, e daí surgiu a ideia de criar o BC. Em 2019, eu já estava frequentando o TUQ e ajudava o Freenicius e o Emitivi em algumas coisas do evento. O DidimoKOF precisava entrar em contato com a SNK do Japão na época, e eu acabei falando por eles por e-mail", conta.

"Depois de algumas conversas, a SNK acabou aceitando patrocinar o Battle Coliseum, que rolou na MAX Arena, com ajuda na premiação em dinheiro e com o evento sendo uma etapa oficial da SNK World Tour de Samurai Shodown e The King of Fighters XIV. Alguns meses depois veio a pandemia e o Battle Coliseum acabou, mas eu sempre tive o desejo de organizar um Major, e depois de conversar com o Freenicius ele me perguntou por que não organizar o Battle Coliseum? Aí eu respondi 'ok, mas você vao ter que me ajudar, porque é um evento muito grande'. Ele topou na hora e aí começamos a tratar dos trâmites para rodarmos o nosso Major."

JB foi um dos organizadores do Battle Coliseum 2022 e mira fortalecimento da marca para 2023 (Foto: Rodrigo Coelho) - Jogos de Luta
JB foi um dos organizadores do Battle Coliseum 2022 e mira fortalecimento da marca para 2023 (Foto: Rodrigo Coelho)

A edição de 2022 do Battle Coliseum acabou saindo do papel e contou com sete eventos principais: Street Fighter V, The King of Fighters XV, Tekken 7, Guilty Gear Strive, Dragon Ball FighterZ, Brawhalla e o jogo indie brasileiro Pocket Bravery. Além de centenas de competidores, o campeonato ganhou status de Power Event do Dragon Ball FighterZ World Tour, contando pontos para o circuito oficial do jogo e com uma premiação bônus de US$ 1 mil (R$ 5,2 mil reais) paga pela Bandai Namco.

"Para rodar o evento, tivemos que nos dividir. Eu fui correr atrás de patrocinadores para viabilizar o evento financeiramente. O Sagaz ficou responsável por toda a parte de estrutura física e equipamentos, enquanto o Freenicius ficou responsável por toda a parte de comunidade, cuidando do evento no Start GG, acionando contatos que ele já tinha com algumas empresas, cuidando da rodagem das brackets (tabelas) do torneio e também dos side events (torneios secundários). Como é um evento muito grande, a expertise de todo mundo ali era indispensável, pois se uma das partes não funcionasse, todo o resto seria prejudicado. Foi um trabalho de muitas mãos e que nos deu um orgulho danado quando vimos o resultado e o feedback de quem foi ao evento", comenta JB.

Em tempos "pós-pandemia", a maioria dos circuitos competitivos dos jogos de luta ainda está concentrada, principalmente, em torneios e seletivas online, mas algumas publishers têm, aos poucos, investido também no retorno de eventos presenciais. Foi o caso da Bandai Namco no Battle Coliseum, com a desenvolvedora e publisher de jogos firmando apoio ao campeonato de Dragon Ball FighterZ. JB conta que o fechamento do patrocínio do estúdio ao BC foi firmado após algumas reuniões coma Bandai Namco Europa.

"Eu já tinha um certo contato com a Bandai Namco dos Estados Unidos, mas foi a Bandai Namco Europa que entrou em contato comigo e, quando soube que estávamos organizando o Batte Coliseum, perguntou se não tínhamos interesse de fazer do campeonato um Power Event do DBFZ World Tour. Depois de uma pré-reunião, em que falei sobre o planejamento dos nossos eventos já para 2023, e de uma reunião final, acertamos o patrocínio para o evento, com pot bônus de US$ 1 mil de premiação, o que dá mais de R$ 5 mil de premiação, e a transmissão no canal oficial do DBFZ na Twitch. Para nós foi ótimo, não apenas pelo apoio financeiro que permitiu a premiação extra paga aos jogadores, mas também em termos de imagem e fortalecimento da marca Battle Coliseum.", argumenta.

JB também acredita que, a partir de 2023, os circuitos oficiais dos principais fighting games voltarão a apoiar os campeonatos offline, e cita a própria Dragon Ball FighterZ World Tour, que já tem todo o calendário de campeonatos presenciais para a temporada 22-23 definidos como um exemplo. JB também acredita que a proximidade do lançamento de vários fighting games de pesp, como Street Fighter 6 e Tekken 8, também terá um impacto positivo no fortalecimento do offline.

"A tendência é que CPT, Tekken World Tour, Dragon Ball FighterZ World Tour e todos os circuitos oficiais voltem a apoiar os torneios offline, com eles recebendo pot bônus de premiação e contando pontos para os circuitos oficiais dos jogos. No caso do DBFZ, inclusive, já começou a ser assim este ano. Com novos jogos chegando em breve, como o Street Fighter 6, o Tekken 8 e, provavelmente, o Mortal Kombat 12 daqui a algum tempo, acredito muito as empresas vão voltar apoiar os campeonatos presenciais de grande porte, e o nosso trabalho é manter contato próximo com as empresas para que o Battle Coliseum seja incluído como uma etapa oficial desses circuitos."

O retorno do TRETA Championship após 3 anos de hiato

Gigio Lurez, organizador do TRETA Championship, comemora retorno do evento mais antigo de jogos de luta do Brasil (Foto: Reprodução/arquivo pessoal) - Jogos de Luta
Gigio Lurez, organizador do TRETA Championship, comemora retorno do evento mais antigo de jogos de luta do Brasil (Foto: Reprodução/arquivo pessoal)

Geovane Lerozonski, mais conhecido na comunidade dos jogos de luta como Gigio Lurez, é hoje o mais antigo organizador de torneios de jogos de luta em atividade no Brasil. Criador do TRETA Championship, evento criado em 2010 e disputado anualmente no Paraná, Gigio diz "já ter vivido de tudo" nesses 12 anos organizando torneios, mas nenhuma experiência anterior poderia prepará-lo para o que viria em 2020, com a pandemia de Covid-19. O evento, que tradicionalmente reúne os melhores jogadores do país, e em algumas edições já contou também com a presença grandes estrelas internacionais dos fighting games, teve finalmente sua 10ª edição realizada em 2022.

Em entrevista ao MGG Brasil, Gigio Lurez destaca que sua maior preocupação durante o auge da pandemia foi garantir que o TRETA só retornaria quando houvesse, de fato, um arrefecimento da pandemia em taxas de contágio e número de óbitos.

"Durante dois anos, as pessoas chegavam na minha DM, no meu Whatsapp e perguntavam quando o TRETA ia voltar, e eu sempre respondia que somente quando fosse seguro realizar o evento, até porque a FGC brasileira também perdeu muitas pessoas durante a pandemia. Eu precisava ter a responsabilidade de realizar o TRETA apenas quando a vacinação no Brasil avançasse e as mortes caíssem de forma significativa, e felizmente todos os organizadores dos principais torneios aqui no Brasil fizeram o mesmo. Não foi um período fácil, pois os presenciais são os únicos momentos do ano em que a nossa comunidade, que tem gente do Brasil todo, consegue se reunir. O TRETA é sim um campeonato, mas é bem mais do que isso. É uma confraternização da nossa comunidade, e é óbvio que ficar sem isso em 2020 e 2021 doeu, mas nós fizemos o que era necessário para manter todos em segurança", argumenta.

Além do grande evento anual, que reúne jogadores do Brasil inteiro, o TRETA também conta com um evento semanal voltado para a cena local do Paraná que também foi interrompido durante pandemia. Sem a possibilidade de organizar eventos presenciais, Gigio conta que fechou parceria com marcas que investem nos campeonatos de jogos de luta para organizar circuitos online.

"Eu participei de uma edição do Flow lá no fim 2020 e, pouco depois, a Logitech entrou em contato comigo para se tornar parceira do TRETA por meio da Astro Gaming, que é uma marca do grupo Logitech, e no finalzinho de 2020, começo de 2021 nós demos início ao circuito Astro Gaming, com campeonatos de Tekken 7 e Street Fighter V. Era importante para nós continuar organizando campeonatos, e os circuitos online foram a solução que encontramos para manter a cena ativa e a comunidade em segurança". pontua.

Em 2022, com a volta da realização de eventos presenciais, tanto nos fighting games quanto em outros Esports, Gigio conta que começou a organizar o retorno do TRETA em seu formato tradicional, como um evento presencial e com presença de público. Devido aos mais de 10 anos de evento, Lurez conta que tudo em relação ao TRETA já estava "engatilhado" para o campeonato ser realizado.

"Eu brinco que organizar o TRETA é como organizar um desfile de carnaval. Quando acaba um, você já está pensando no planejamento do ano seguinte, e como foram 3 anos entre o TRETA 2019 e o TRETA 2022, nós já estávamos com tudo meio engatilhado para dar o start no evento. Nós fechamos a parceria com a Astro, com eles nos fornecendo os headsets para os torneios, acertamos com os demais patrocinadores e cuidamos de toda a parte de infraestrutura. Conseguimos apoio da Secretaria de Esporte da prefeitura de São José dos Pinhais, aqui na Grande Curitiba, com a liberação do ginásio municipal para sediar o evento", relata Lurez, que em seguida fala sobre outros desafios relacionados ao TRETA.

"A organização do evento envolve muitas outras coisas. Eu tive que visitar o ginásio, para ver se ele tinha estrutura na parte elétrica para receber um evento com várias estações de jogos e telões de LED para o público assistir aos torneios, se tinha estrutura de internet para fazermos as transmissões, pois sem essas coisas é impossível rodar um evento de grande porte. Foram meses de trabalho até o evento ser realmente viabilizado."

Entre 2016 e 2019, o TRETA sempre foi uma etapa oficial da Capcom Pro Tour de Street Fighter V, contando pontos classificatórios para a Capcom Cup, campeonato mundial da modalidade. Com o lançamento de Street Fighter 6 programado para 2 de junho de 2023, Gigio Lurez acredita que a Capcom voltará a investir em CPTs offline, mas trata o assunto com cautela.

"Eu acredito que os offlines voltarão a contar pontos para a CPT, mas ainda não tenho nenhuma informação oficial disso. O que me faz acreditar nisso é saber que empresas de outros jogos vão voltar a organizar seus circuitos com campeonatos offline já a partir de 2023, e por ser essa uma tendência para o ano que vem, acho muito provável que a Capcom siga esse modelo também. E se houver esse anúncio oficial, eu com certeza vou correr atrás para o TRETA continuar sendo uma etapa da CPT, como foi durante todo o ciclo do Street Fighter V antes da pandemia, e também dos circuitos oficiais de outros jogos", projeta.

TRETA 2022 foi sediado no Centro de Esporte e Lazer Max Rosenmann, em São José dos Pinhais (Foto: Alysson Zastanni) - Jogos de Luta
TRETA 2022 foi sediado no Centro de Esporte e Lazer Max Rosenmann, em São José dos Pinhais (Foto: Alysson Zastanni)

Embora o TRETA tenha se notabilizado como um evento de jogos de luta, Gigio Lurez acredita que a melhor forma de os campeonatos de fighting games crescerem no Brasil é sendo apresentados como eventos de cultura pop para atrair um maior público. Ele frisa que oferecer outras atrações para além das competições é uma forma alcançar pessoas que podem vir a se interessar pelos jogos de luta uma vez que estiverem inseridas nesse universo.

"O TRETA este ano, por exemplo, recebeu vários cosplayers e alguns influenciadores do meio dos games, e acho que é uma boa forma de os nossos eventos atraírem um público mais amplo. Acho importante os jogos de luta estarem mais inseridos como parte da cultura pop como um todo, então termos campeonatos de fighting games dentro de uma BGS ou de uma CCXP, por exemplo, é também uma forma de nos mostrarmos para uma audiência maior, que às vezes pode parar para assistir a um campeonato de Street Fighter ou Mortal Kombat, por exemplo, gostar do evento e passar a acompanhar mais de perto a nossa cena. O meu plano para os próximos anos é fazer do TRETA um evento de cultura pop, mas com os jogos de luta sendo, obviamente, o carro-chefe", projeta.

Gigio fala ainda sobre o desejo de ver o retorno de outros eventos que já foram Majors de jogos de luta no Brasil, como Fight in Rio, no Rio de Janeiro, o JAM Festival, em Brasília, e o Gamepolitan, na Bahia. Para o organizador de torneios, abranger um mair número de cenas locais é fundamental para o crescimento da comunidade dos jogos de luta em diferentes estados do país.

"Eu mantenho contato com grande parte da galera que organizava esses campeonatos e sempre insisto que seria muito importante esses eventos voltarem, e me ofereço para ajudar em tudo que estiver ao meu alcance, inclusive na busca por patrocínios e coisas que estou acostumado a cuidar no TRETA. Precisamos de Majors de fighting games no Rio, na Bahia, em Brasília, na região Norte, no Brasil inteiro. Os torneios ajudam a movimentar a cena local e a trazer novos jogadores, e por isso seria ótimo que esses eventos que nós já tivemos no passado retornassem, especialmente com vários jogos de luta grandes chegando aí nos próximos anos, como Street Fighter 6, Tekken 8 e outros que certamente vão ser anunciados."

O evento de despedida de um veterano em organização de torneios

Vinícius 'Freenicius' Passos teve o Battle Coliseum como evento de despedida na organização de torneios (Foto: Rodrigo Coelho) - Jogos de Luta
Vinícius "Freenicius" Passos teve o Battle Coliseum como evento de despedida na organização de torneios (Foto: Rodrigo Coelho)

Veterano da comunidade de jogos de luta e ampla com experiência na organização de torneios, Vinicius "Freenicius" Passos teve no Battle Coliseum um evento de despedida à frente da execução de campeonatos. De mudança para o Canadá em fevereiro do ano que vem, Freenicius é um dos principais entusiastas dos eventos presenciais, comemora o fato de o BC ter sido um sucesso e, ao mesmo tempo, considera que os torneios offlines precisarão de mais apoio externo para conseguirem atingir um novo patamar de qualidade.

Em entrevista ao MGG Brasil. Freenicius considera importante o crescimento da cena online, tanto pelo fato de mais pessoas poderem participar de campeonatos quanto pela revelação de novos talentos nos fighting games, mas frisa que os offlines devem ser os eventos principais não apenas pela competição "olho no olho", mas também pela maior integração da própria comunidade.

"Eu entendo a importância da cena online, que cresceu muito durante a pandemia, e acho que ela precisa continuar existindo, até porque tem gente que às vezes não tem grana, tempo ou mesmo vontade de viajar para outro estado, mas ainda assim quer ter uma experiência de competição. A cena online, inclusive, revelou muita gente forte e que hoje cola nos presenciais. Ainda assim, eu acho que o offline tem que ser o evento principal, não só pela importância desse clima de competição olho no olho, mas para a gente ser visto por outras pessoas e ter a chance de se conhecer mesmo. Nossa comunidade já é pequena e recebe pouco apoio se comparada a outros jogos, então nós precisamos dessa conexão e interação entre as pessoas, que na real é a parte que eu mais gosto dos offs.

Organizador do antigo Tiger Upper Quarta, Freenicius se manteve presente e próximo dos eventos offlines durante todo o 2022, ano que marcou o retorno dos campeonatos presenciais, mas foi somente no Battle Coliseum que ele voltou a atuar na linha de frente da organização de um evento. O sucesso do BC, que reuniu quase 700 pessoas no Hotel Dan Inn Planalto, também representa, na opinião de Freenicius, um "teto" do que os eventos de comunidade podem atingir sem apoio externo.

"Eu fiquei muito orgulhoso do que nós entregamos no Battle Coliseum, tanto em estrutura quanto em organização, e o retorno que tivemos das pessoas que foram ao evento só reforça isso. Acho que, enquanto evento de comunidade, nós chegamos no ponto mais alto que poderíamos andando somente com as nossas pernas. Para conseguirmos ir além do que entregamos esse ano, eu não vejo uma outra forma sem ser com apoio externo. Sou muito grato por tudo que eu vivi nesses anos, pela forma como a comunidade me abraçou, inclusive literalmente no último BC, e acho que não teria momento melhor para essa despedida", relata Freenicius.

"Eu já tinha largado toda essa parte de organizar campeonato, mas conforme eu fui frequentando os offlines este ano, bateu aquela coceirinha de tocar um torneio uma última vez. E como nós tivemos o Battle Coliseum no final de 2018 e de 2019, eu entrei em contato com o MadReis e perguntei se a gente poderia usar o nome do evento para o offline que iríamos organizar no fim de 2022. Ele autorizou na hora e aí nós arregaçamos as mangas para rodar o campeonato, e felizmente deu tudo certo."

"The Last Dance"

Embora esteja de mudança para o Canadá no começo de 2023, Freenicius não pretende se afastar da cena competitiva. Ele acredita que a mudança para o país da América do Norte, será positiva inclusive para ele ter um contato mais próximo com empresas e trabalhar para que não só o Brasil, mas toda a América Latina, recebam mais apoio e suporte de desenvolvedoras em eventos offline.

Vinicius Passos reitera que não atuará mais à frente da organização de campeonatos, mas acredita que pode estreitar contatos com empresas e organizadores de torneios - especialmente por estar muito mais próximo fisicamente dos principais organizadores de campeonatos disputados no Estado Unidos - e fazer uma ponte com os Majors realizados no Brasil e em outros países da América Latina. Ele fris que, em comparação a Estados Unidos, Europa e Japão, por exemplo, os países da América Latina pouquíssimos torneios contando como etapas oficiais dos principais circuitos competitivos do mundo nos fighting games.

"Não é um discurso de nós contra eles, mas tudo é mais difícil para quem é da América Latina, mesmo nós tendo vários jogadores que já apresentaram ótimos resultados. Antes do Battle Coliseum deste ano, a América Latina inteira nunca tinha recebido um Power Event de Dragon Ball FighterZ sequer, mesmo com o Aeroporto Internacional de Guarulhos recebendo voos do mundo inteiro, o que facilita muito até a parte de logística para jogadores de fora virem para cá", defende.

"Nós precisávamos ter um Major aqui, e eu argumentei isso quando conversei com a Bandai Namco. Acho que para os próximos anos a luta da nossa comunidade também é tentar fazer dos Majors daqui da América Latina eventos oficiais dos circuitos de Dragon Ball, Street Fighter, Tekken, Brawhallla, do The King of Fighters, de Mortal Kombat, quando o próximo jogo sair. Não deve ser algo tão restrito tão a Estados Unidos, Europa e alguns países da Ásia."

Freenicius avalia também que, a partir de 2023, os circuitos competitivos oficiais dos jogos voltarão a ter os offlines como eventos principais, mas com os onlines agora tendo uma importância muito maior do que num passado pré-pandemia, quando torneios online somando poucos pontos em eventos como a Capcom Pro Tour, que priorizava os campeonatos presenciais.

"Hoje, a única forma de você disputar uma Capcom Cup, por exemplo, é vencendo eventos online, mas acho que é muito por 2022 ter sido um ano de transição após o pico da pandemia. Ano que vem, acredito que a tendência é a volta dos offlines como os eventos principais, mas com os onlines tendo uma importância bem maior do que no passado. Antes, nenhum jogador conseguia se classificar para a Capcom Cup apenas jogando os onlines, mesmo que vencesse todos os eventos de sua região, mas acredito que ano que vem isso vai ser mais equilibrado, com os eventos Premier sendo disputados no off e os onlines valendo mais pontos do que valiam antes", avalia.

Sobre a organização do Battle Coliseum, Freenicius conta que tratou o evento como um "Last Dance" dele à frente da organização de eventos. O plano era "entregar um campeonato de alto nível", e para essa "missão", Vinicius Passos trabalhou ao lado dos amigos de longa data que já vinham tocando a organização do Bar Fight: JB e Sagaz.

"O JB era uma pessoa com quem eu já tinha trabalhado na época do TUQ e foi fundamental em toda a parte de captação de patrocínios, inclusive da BenQ, que nos forneceu os monitores do evento, e nas conversas com a Bandai Namco. O Sagaz é um amigo meu há mais de 10 anos e foi imprescindível para toda a parte da infraestrutura e organização física do evento, fora o trabalho de supervisionar se tudo estava funcionando bem durante os torneios", enfatiza Freenicius antes de falar sobre a própria atuação à frente do BC e de que forma pretendo, mesmo à distância, contribuir para a cena brasileira e latino-americana de jogos de luta.

"Eu usei meu know how para estruturar os torneios em si e rodar as brackets da forma mais profissional e organizada possível, inclusive pegando várias dicas com o cara que cuida das tabelas da EVO, além de buscar apoio da Ubisoft para o torneio de Brawhalla e da SNK para o campeonato de KOF XV. A sensação, no fim, foi 100% de dever cumprido, e mesmo distante fisicamente, eu sempre vou estar disponível para ajudar em tudo que eu puder caso a galera precise de mim. Mas, como organizador de torneios, o Battle Coliseum foi realmente o meu Last Dance."

Foto de capa: Rodrigo Coelho

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Gabriel SALES
Gabriel Sales

Jornalista apaixonado por games desde o jardim de infância e fã de quase todo tipo de RPG, especialmente os da série Chrono. Nos esports, shooters e jogos de luta são minhas maiores paixões, mas abraço qualquer jogo com uma cena competitiva pulsante.

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